quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Democracia brasileira na berlinda da ficha suja.


Tramita no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já proposto anteriormente ao STJ (Supremo Tribunal de Justiça), uma proposta de que já nas próximas eleições não possam concorrer candidatos com “ficha suja”, ou seja, que já tenham sido condenados, ou ainda estejam respondendo à crimes na órbita pública. Ainda que essa discussão seja profícua, os dois lados ainda não se delinearam no Congresso. Políticos de carreira, tanto da Esquerda quanto da Direita ainda não chegaram a um consenso: Para alguns, os processos que impossibilitariam uma candidatura, teriam de estar encerrados até a data do pleito; para outros, os candidatos deveriam estar inseridos em conceitos mais amplos, sendo julgados por todo o tipo de crime, desde infrações de trânsito até desvios de verbas (uma ficha limpa ampla). Mais do que isso, uma ficha limpa geraria um êxodo de candidatos: 60% dos membros da Câmara dos deputados estariam impossibilitados a tentar a reeleição ou almejar qualquer outro cargo; no Senado, o buraco negro engoliria cerca de 37% das bancadas. Ou seja, o debate sobre a “ficha limpa” independe de conceitos de ética, mas acima de tudo, dos interesses econômicos que envolvem as candidaturas.

Os defensores da “ficha limpa” alegam que ela pode corroborar em médio prazo, para a limpeza do sistema bicameral; Parece então, que para alguns, a exigência da “ficha limpa” solucionaria o problema dos altos níveis de corrupção nas câmaras, trocando a médio prazo, os “maus representantes” por “bons representantes”. Isso gera uma outra discussão: Que tipo de representação é necessário se ter em uma democracia ampla? Em algumas câmaras de vereadores pelo país, já se implementa a tribuna popular, onde cidadãos e movimentos populares podem se manifestar. Vale lembrar, que graças a bancada governista, isso foi barrado em Rio Grande recentemente. No sistema “democrático burguês”, não é de se estranhar que um deputado ou um senador representem comerciantes, empresários ou fazendeiros. A lógica da democracia para a burguesia, segundo o historiador Paulo Miceli em As Revoluções burguesas é a busca da liberdade, mediante a liberdade econômica; Para o economista e professor da UNB, Sérgio Couri, em Diálogos sobre o marxismo e o liberalismo, o andamento dos avanços individuais para um liberal é o avanço simultâneo da liberdade de negócios. Portanto, segundo os dois autores, não cabe para burgueses ou liberais, uma discussão sobre os interesses sociais em primeiro plano, mas sim, um debate de como eles devem estar submetidos ao mercado. Nessa lógica, fica claro que em duas câmaras federais compostas majoritariamente por candidatos burgueses, estes representantes o sejam assim chamados pela sua classe, e não pelo proletariado. Afinal, é lógico que façam a defesa de sua classe (o que não configura crime algum, desde que não omitam isso).

A “ficha limpa”, portanto, não passa pelos valores éticos da população (a “prole”), mas sim pelos valores da burguesia, o que é historicamente palpável; A burguesia foi importante na trajetória das liberdades individuais, mas como se disse isso esteve condicionado a processos econômicos, não sociais. A democracia “ocidental”, tão festejada pelos liberais, na verdade compõe um quadro de déficit político, no que tange não haver avanços para o bem coletivo; Um sistema de “ficha limpa”, que almeja-se para o Brasil já foi obtido naturalmente onde se trocou o deputado pelo “delegado popular”, como em Cuba. Neste país, o deputado da Câmara, onde compõe 589 eleitos, não vota pelo partido (PCC – Partido Comunista Cubano), mas pela emenda de sua base, região ou cidade. Nas províncias, os delegados provinciais eleitos são aqueles considerados cidadãos exemplares: Detêm boa parte de suas vidas em Movimentos sociais e trabalhos voluntários; É claro que Cuba mantêm um problema enorme com o uni partidarismo, mas os representantes cubanos são eleitos por valores diferentes – que destoam da lógica burguesa de representar uma classe ou grupo econômico. Não se discutem aqui, quais são os nossos valores, mas sim uma “ética universal” (idéia originalmente grega, empreendida pela burguesia), de respeito ao dinheiro público e do uso consciente da máquina. Para os liberais, a democracia está calcada em satisfazer necessidades materiais; Para o proletariado, na lógica de Karl Marx, ela está baseada em princípios espirituais (éticos), no que concerne ser a próprio bem para o coletivo. Isso é fundamental para entender os processos eleitorais brasileiros, e mais do que isso, não somente analisar a ficha de um candidato, mas sim por quem ele advoga.

Fabiano da Costa, 19 de agosto de 2009.
imagem: Elizeu Padilha, deputado federal pelo PMDB, ex-ministro dos transportes, é acusado de improbidade administrativa, entre outros crimes durante o Governo FHC.

Travas na língua.

Roberto Irineu Marinho nos adverte: Não há adianta haver censura, “o bom jornalismo vencerá”. Parece mentira, mas Globo e Folha de São Paulo lutam pela democracia. A deles é claro. Esse jornalismo direitista e sem escrúpulos, é a prova cabal de que a discussão acerca da liberdade de expressão é delicada. É fundamental haver liberdade de expressão. Isso é inegável. Não somente pelo amadurecimento da democracia, mas também pela manutenção progressiva das liberdades individuais. O direito a informação é inalienável. Marx o defende em “A Liberdade de expressão”, como parte do direito do indivíduo de se informar. O problema reside em quem fabrica uma notícia, e o que faz com ela. Quem tem um jornal ou uma emissora de TV, não só notícia como quer um fato, mas passa a fabricar frases alheias, situações e acontecimentos.
Jaime Sirotsky é bonzinho. Segundo ele, não pode haver ligação entre a política e os meios de comunicação. E quem disse isso, foi patrão de dois governadores gaúchos, os neoliberais Antônio Britto e Yeda Crusius. Jaime, na guerra da Globo contra a Record, no dia 18/8, deu seu palpite: “Misturar religião, política e comunicação é perigoso”. Contra os bispos da Universal, surge outra opção: Jogar-se à democracia do Grupo RBS, que manda e desmanda no RS. Se não creio em Edir Macedo, logo me entrego à Ana Amélia Lemos. O que soa como brincadeira, é na verdade uma desgraça. A Universal é detentora de inúmeros meios de comunicação. Contra estes evangélicos fundamentalistas, os filhos da ditadura: Globo, Editora Abril, O Estado de São Paulo. Não é mera brincadeira se alguém disser que a população está encurralada.
Roberto Civita, da Editora Abril, vai mais longe: No ano passado, criticou a proibição de veicular para crianças, anúncios de guloseimas em geral. Civita, alegou que “o consumidor brasileiro já está amadurecido o bastante para saber o que consome”. Uma criança de 7 anos, por exemplo, já pode adquirir bens de consumo e duráveis, como escolher conscientemente se quer um Hamburger ou uma berinjela. Civita, como se vê, entende mais de crianças que Piaget e Vigotsky. Este tipo de mídia sem escrúpulos, é a mesma que fomenta gente como Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi. Mainardi simplesmente não denota fatos, ele os cria, faz interpretações doentias, vê conchavos balbuciantes, atos de corrupção entre os seus adversários. E é uma máquina de insultos. Por outro lado, é menos terrível que a usina de denúncias de Reinaldo Azevedo. Azevedo tem um blog. Um blog tão independente, que é hospedado pela Veja!, a revista de maior circulação no país. Azevedo não critica os abusos de José Serra, mas sempre tem fontes dentro do Planalto que lhe garantem informações quentes: Foi ele que inventou o tema “Petralha”, mistura de Petista com metralha. Esquece, é claro, que o Governo FHC foi recordista de denúncias de corrupção. Azevedo não tem boa memória. E assim como Mainardi, é isento. Faz tudo isso pelo amor a camiseta, pela ética pública em denunciar parasitas do erário público. Além disso, Papai Noel existe.
A imprensa brasileira é uma piada de mau-gosto. Não se pode entretanto, nega-la. Talvez Lula, cobrado pela The Economist por manter relações amistosas com Chavez passe a agir como ele: Fechando jornais, tirando do ar a Globo dos Venezuelanos. Se a mídia não se contenta com o espaço que tem e quer logo o poder, a briga é política, e aí age o Estado que representa o acesso democrático à comunicação. Talvez Jaime Sirotsky esteja certo: É melhor não misturar política e comunicação. Cada um no seu espaço. Bom para eles, melhor para a população.

Fabiano da Costa, 18 de agosto de 2009.

Chavez e a Cartilha: Por que a mídia o odeia?


Uma das coisas mais óbvias do mundo, é que não pode haver democracia, enquanto há miséria, fome e frio. Por que só há democracia enquanto existem cidadãos. Hugo Chavez, é então chamado de “inimigo da democracia”, por tentar acabar com a miséria na Venezuela. O presidente venezuelano, tem investido a renda maciça do petróleo em educação, saúde e moradia. Como se vê, Chavez está longe, até em critérios liberais, de ser um “inimigo da democracia” – por que retira da miséria e forma cidadãos, que são o sustentáculo do regime democrático. É ridículo argumentar que existe uma ditadura na Venezuela. Chavez, assim como Evo, passou em eleições diretas, e mais do que isso, se submeteram à plebiscitos e referendos, algo que a “democracia madura” americana nunca realizou. O Mundo ocidental, essa parafernália amada pelos liberais é então, em números, muito menos democrático que Chavez.

A última medida “autoritária” de Chavez é tornar públicas as escolas do país. Os liberais gritaram. Querem “liberdade” para o ensino. Um ensino livre que não inclua, claro, negros, brancos pobres, nem os raros descendentes de índios que a Venezuela ainda tem. A medida de Hugo Chavez, vai priorizar que o ensino do país seja democrático. Como? Permitindo que qualquer criança ou adulto, seja índio, branco ou negro, possa assistir aulas sem pagar, recebendo alimentação e material do Estado. Isso, para os liberais latinos confusos é ser “inimigo da democracia”. Algo que permite a participação de todos é democrático, no melhor uso da palavra. Os liberais, entretanto, dizem que ser democrático é manter escolas privadas, e que só são freqüentadas pela classe alta. A proposta de Chavez é que todos, independentes de classe ou cor, freqüentem escolas gratuitas. O que há de anti-democrático nisso? Chavez fez essa proposta no último pleito e foi o mais votado. Onde está o “inimigo da democracia”?

É muito fácil fabricar notícias e gerar polêmicas. Na semana que passou essas foram, antes das matérias irem ao ar, as chamadas sobre Chavez que o Jornal da Globo colocou no ar em 3 dias: “A última proposta do Ditador Chavez”, “A bravata de Chavez” e “Chavez está acabando com a democracia na Venezuela”. A Globo, como se pode ver, fabrica um conceito antes que o expectador assista algo e tire suas conclusões. Aliás, o Jornal do Globo, em editorial, remeteu Evo Morales à Adolf Hitler! Como se pode ver, os veículos da mídia estão de acordo com o interesse de seus grandes patrocinadores; Não são, então, isentos. São usinas de notícias, inventando dados, personagens e situações. Quando Chavez não renova a concessão de uma rede de Televisão, a acusa disso: De não fomentar um debate democrático, com prós e contras, mas sim, de fabricar matérias e formatar a opinião da população. Portanto, a acusação de que Chaves está empurrando “conceitos comunistas” na educação pública é insustentável: Até mesmo por que a Direita venezuelana tem medo de não poder empurrar seus conceitos. A Igreja, os liberais, os mega-empresários e os latifundiários passaram a perder terreno ideológico, algo que nunca aconteceu, mas que desde 1997 vem se acentuando. O “inimigo da democracia” Chavez, permite a circulação de jornais oposicionistas, a atuação livre de rádios e TVs ligadas a Direita. O que há, então, de “anti-democrático”? Simples, não há mais um lado só da notícia. Nossos liberais (que apoiaram as liberdades de 1964) e o jornal The economist, agora querem democracia no país vizinho. Quando a Venezuela, na década de 80, mesmo sendo produtor da OPEP, chegou a ser um dos países mais pobres do mundo, nossos liberais não se importavam. Eles tinham liberdade de manter o status quo: Negros, índios, brancos pobres não entravam na democracia. O que há, então, de ditatorial, é incluir as duas visões de mundo, numa cultura de classe dominante.
Fabiano da Costa, 15 de agosto de 2009.

Yeda Crusius: A governadora decorativa.


Yeda Crusius é uma desgraça. Fez um governo patético e agora se despede lentamente. Esvai-se. Nada novo. Aliás, qualquer pessoa lúcida politicamente já sabia quem Yeda representava, até mesmo por quem apoiava a sua candidatura: Caudilhos, latifundiários, tucanos, ex-arenistas, empresários da Celulose. Yeda, a futura ex-governadora decorativa era a representação máxima da Direita guasca. Adulada por gente como Geraldo Alckmin e Jose Serra, foi levada nos ombros por Pedro Simon, que logo, esqueceu a derrota de seu candidato Germano Rigotto. Já na candidatura a prefeitura de Porto Alegre, em 2004, Yeda dava ares que vinha como “Front-woman” da candidatura tucana. Embrionada ainda quando, em parlamento, votava pelas privatizações de FHC. Como se vê, Yeda foi por um longo tempo, uma arraia elétrica criada em cativeiro. Só assim, alguém poderia votar em seu prometido “Choque de gestão”.

É verdade que ela tem mais carisma que seu amigo Geraldo Alckmin. Alckmin é um picolé de Chuchu. Frio, sem gosto, sem qualquer sabor. Yeda, por sua vez, mantinha a frieza até ao dizer que nunca apoiou a privatização do Banrisul, coisa que Antônio Britto sempre desejou. Durante a campanha, seu companheiro de chapa já anunciava: Privatizar o Banrisul era humanamente possível. Subiram ao palanque em dissonância. Paulo Feijó (PFL), o vice, entregava o que seria a governadora decorativa, sonhada por Simon e por Sperotto. Após a vitória, brigaram na posse, trocando farpas pela imprensa, despachando em escritórios eqüidistantes. Yeda, por sua vez, tinha uma tarefa difícil: criar e repartir cargos, já que durante a candidatura, fez alianças escabrosas. Iam para Brasilia, o ex-secretario Otávio Germano (PP) e Pedro Simon, senador pelo PMDB. Deu cargos aos aliados e ainda aumentou os destinados ao PSDB e ao PFL. Com a infantaria criada partiu para o choque de gestão, tentando eletrocutar a educação: Fechou escolas, “aposentou” professores e forçou outros do regime de 40 horas a receberem 20. Nunca, em hipótese alguma, se pensou que algum governador tivesse a coragem de fechar escolas. Para não negar seu gene, imitou o irmão tucano, José Serra: A Brigada espancou professores instalados em frente ao Piratini. Para mostrar o Estado presente, já não bastava confirmar Foucault, ao colocar barreiras de revistas de carros dentro das cidades. Passou a arrastar alunos de ensino médio e superior pelas ruas da Capital, durante uma caminhada pacifica em prol do não sucateamento da educação, em 2008. Até o jornal Zero Hora, seu aliado tradicional, estampou a foto de professores ensangüentados (tem coisas que chocam até a burguesia).

Agora, depois dos fiascos, acusada de “quadrilheira” formalmente pelo MP, Yeda passará por uma CPI. Afinal, há 2 anos, a Governadora decorativa enfrenta uma nova denuncia a cada semana. Entretanto, não baixou a guarda: O Estado não pagará os precatórios. Yeda também já propõe sua maior obra: Um protestódromo. Um local, longe do centro da cidade, sem infra-estrutura, onde os Movimentos sociais poderão se manifestar livremente. A Governadora mandou bater nos manifestantes na Borges de Medeiros: Afinal, a avenida é estratégica para o transito na Capital. Não é lugar para manifestações; Mandou bater em que estava na frente do Piratini. Lá é Palácio. Não é lugar de protestos; Mandou bater no pessoal do CPERS que se manifestou em frente a sua casa: Residência privada, mesmo em rua pública não é local para manifestações; Yeda agora terá de arcar com algum espaço para as manifestações democráticas. Detratores, já salientam que não deverá ser onde está o ex-assessor para assuntos do Estado em Brasília, Marcelo , falecido em março e que fez denuncias graves de corrupção. Os manifestantes que foram as ruas, depois que o ex-governador Marcelo Feijó gravou e divulgou acordos nada lícitos entre ele e o Rasputim do Piratini, César Busatto, também levaram uns tapas. Mesmo assim, a Dioclecianica Yeda, não perde a pose. Em tempos de cólera humana e Gripe suína entre os porcos da corrupção, o melhor é ficar em casa e não se arriscar a cair na lama. Yeda, é antes de decorativa, comprometida com a saúde. Quem fica em casa, não apanha.

Fabiano da Costa, 15 de agosto de 2009.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Divertido, mas nem tanto.


As recentes denuncias, de que o ex-prefeito de Rio Grande Janir Branco, seria responsável por um rombo de 22 milhões de reais nas contas da prefeitura, pegaram a sociedade de surpresa. Afinal, Rio Grande é uma metrópole regional, a quarta maior cidade do Estado e o município onde está situado o único porto marítimo do RS. Além da visibilidade da cidade a nível estadual, uma das credenciais para a reeleição do PMDB local, foi a bandeira do déficit zero, do investimento farto em obras de infra-estrutura e do pagamento em dia do funcionalismo. Ainda que esse mesmo blog tenha mostrado por uma enquête, e por alguns artigos a derrocada da família Branco, o poder obtido por essa dinastia ainda é enorme e sinônimo de ascendência política e grandes contingentes de votos. Agora, como Superintendente do Porto do Rio Grande, Janir, ex-deputado estadual e promessa da juventude PeMeDeBista a uma chapa majoritária em 2014, foi intimado pela Justiça a dar satisfações. E não são poucas.
Para os adversários políticos, a fase escura de Janir parece divertida. É mais uma queda na popularidade do ex-prefeito, que ao deixar a prefeitura, quase fora obrigado a ceder a poltrona à Dirceu Lopes, da Frente Popular. Entretanto, o atual rombo e o impasse, com Janir, que além de provar sua inocência, já prometeu um pomposo processo ao Jornal Agora, que teria usado o problema como arma política, encobrem um obstáculo maior: Até Branco explicar o que aconteceu, diante de um tempo considerável, a União e o Estado, podem adiar o repasse de verbas para a educação e para a saúde. A não ser que Rio Grande tenha decidido deixar de ser península e se tornar uma ilha independente da União, é melhor que tanto União, quanto tribunal de contas, Justiça e Janir cheguem a um consenso. Enquanto os adversários de Janir se divertem com a situação, e que mancha o primo e atual prefeito Fábio Branco, a cidade vive um impasse.
O Tribunal de Contas do Estado, já intimou Janir publicamente. No que consta, também há outra denúncia, não menos grave: Entre 2007 e 2008 (ano eleitoral), o endividamento da prefeitura simplesmente duplicou. A “sandice econômica” teria piorado as já existentes pendengas financeiras e seriam uma bomba na mão do próximo prefeito (no que se pode dizer, chegou a se questionar-se a vitória da oposição). As denúncias foram rechaçadas por Branco, que apoiado pela mídia AM do município, acusou o Jornal Agora de beneficio político, alegando que a noticiada dívida, não era de 18 milhões, mas sim de “apenas” 13. Em seguida, a Promotoria pública entrou com ação, alegando a dívida não ser de 18, muito menos de 13, mas dos já comentados 22 milhões de reais. Ao que consta, Janir deve dar explicações nessa semana, mas como bem citou, não foi condenado, nem sequer processado, mas sim, convocado a dar explicações (o que já é por si só, constrangedor). Para piorar, o atual prefeito, ex-prefeito e secretário durante a gestão de Janir, Fábio Branco, que arca com as dívidas do primo, não quis dar declarações. Talvez ele não esteja preocupado com as contas do município e com os repasses de verba que necessitamos. Talvez, isso não lhe afete, ou não lhe importe, por que ele é só prefeito, e em Rio Grande, as coisas parecem fadadas a serem discutidas na alçada do privado, ou pior, do familiar.

Fabiano da Costa, 03 de agosto de 2009.

A crise institucional e a farsa democrática.

Numa democracia verdadeira, não basta que o cidadão tenha direito ao voto, mas participação efetiva no ato de governar. Não que seja fácil descentralizar o poder e eliminar a burocracia, pelo contrário. Os efeitos diretos da institucionalização do deputado ou do senador como “político profissional”, não como delegado popular, são por sua vez, a morosidade na apuração das denúncias de políticos acusados de licenciosidade e corrupção. Isso não soa como novidade: Nos três últimos anos, o sistema bicameral brasileiro tem sido infestado de graves escândalos, que incluíram os presidentes da Câmara dos deputados Severino Cavalcanti (PP) e Renan Calheiros (PMDB), assim como o presidente do senado, José Sarney (PMDB). Mais do que a triste semelhança de serem aliados do Governo Lula, está a tenebrosa sombra de serem políticos originalmente migrados dos currais eleitorais nordestinos, além de suas histórias de fidelidade com a Direita.
Excetuando Calheiros, que antes de ser da “Tropa de choque” de Collor, foi do PC do B (ainda nos anos 70), tanto Cavalcanti, quanto Sarney vieram da antiga ARENA. O primeiro, em entrevista à Veja em março de 2005, deixou bem claro que apoiou o Golpe de 1964. José Sarney, hoje no Amapá, teve durante décadas seu curral no Maranhão. O documentário “artesanal” “Maranhão”, de Glauber Rocha, mostra bem essa situação, quando Sarney ganha, em 1967, pela ARENA, as eleições para o governo daquele Estado. Entre os três, as investigações da Polícia Federal mostraram que havia um longo esquema de favorecimentos políticos, que brindavam os amigos e os mais novos aliados. Sarney, por sinal, foi gravado fazendo o que a cultura política brasileira já adotou: criando cargos, encaixando amigos e parentes, pagando favores políticos. Nessa esteira, para manter a estabilidade e a garantir a governabilidade, Lula se mostrou leal ao aliado do senado: inocentou Sarney antes mesmo de qualquer julgamento.
O plano de Sarney é claramente resolver esses problemas no Senado, como numa boa CPI. Os acordos serão firmados para garantir mais do mesmo (já que Sarney, até 1 mês trás era a menina dos olhos do DEM-PFL), apaziguando a cúpula tucana e a burocracia Petista. Num ano antecedente à eleição presidencial, nenhum dos lados quer romper claramente com os dinossauros da nossa política e sair chamuscado: Sarney ainda é um determinante forte dos votos em toda a região norte. Isso mostra por que depois da derrocada, tanto petistas como tucanos esqueceram de Cavalcanti em Sergipe. Se alguém acha que na Câmara, assim como no Senado, há alguma responsabilidade com o dinheiro público, esteja ciente de que há um corporativismo que ata os deputados honestos e afasta os insubordinados. A democracia ampla e pluralista não pode germinar num espaço desses. Somente com as mudanças do jogo eleitoral pode-se garantir a severa regulamentação do Estado, não permitindo o mau uso do dinheiro público. A estratégia de Lula, de inicialmente respaldar e por fim, abandonar Sarney, o deixando ao deus dará dos DEMinhos e de Pedro Simon (PMDB), é criticada pela oposição, que antes pedia coerência à Lula perante as denúncias, e agora pede lealdade do mesmo a Sarney, para que afundem juntos e levem consigo a “governabilidade”. Portanto, não há em nenhum dos lados uma vontade de que o sistema bicameral (essa coisa hedionda e sem sentido) sofra um processo de limpeza e reforma. Ele está como deveria: Fingindo haver dualidade, em dois lados da mesma moeda fisiologista.

Fabiano da Costa, 03 de julho de 2009.

Freire versus canalhas ideológicos: A batalha continua.


Paulo Freire alegava que “educar é um gesto de amor”, por que visa, antes de tudo, libertar um indivíduo da ignorância. Nesse sentido, ignorante é “aquele ou quem ignora algo”. Portanto, num conceito amplo, a alienação de Freire é a que não permite ao indivíduo compreender o mundo, justamente impedindo-o de transformá-lo. Paulo Freire alegava que qualquer um pode ser professor, já que o diferencial é justamente ser “educador”. O que é então ser “educador”? Alguém, que segundo Freire, se entrega na função de assumir erros, escutar o aluno como indivíduo, e propor um ato de transformação, com o “aprendizado mútuo” entre professor e aluno. Amém, Freire.
Perseguido politicamente no fim dos anos 60, Freire desenvolveu um método educacional simples, porém eficaz e revolucionário. Este método tinha a tônica de ser “radical”, por que ser radical na concepção freireana, é ir “na raiz do problema”. Portanto, o método era antes de tudo um formador de opinião, um transformador social. Assim, nesse objetivo, a construção democrática de Freire era a emancipação política. No método Paulo Freire, um aluno não aprende a escrever “Vaca”. Ele assimila signos, imagens, e entende o que é uma vaca, compreendendo a função desse animal numa subsistência, por exemplo. Freire conseguiu, por exemplo, dignificar as ciências exatas com ênfase humana: Ao ensinar matemática, Freire dizia que o importante não era capacitar o aluno a resolver equações, mas sim, usar os números e a razão para explicar o preço do pão. Como se vê, não à toa, Freire foi perseguido pelo regime Médici (1969-1974), quando o então ministro da educação era Jarbas Passarinho (hoje, no PP). Passarinho alegava que os métodos de Freire eram “doutrinação comunista”, e o chamou publicamente de “doutrinador ideológico”. Como se vê, os autoritários nascem a toda hora, mas não são nem mesmo criativos: Se repetem a todo o momento, na tentativa de manter o “estabilishment” da cultura dominante.
Antes de tudo, Freire foi um pensador político. O conceito de democracia na obra de Freire é veementemente lembrado. Exemplo disso está em “Pedagogia e conflito” (1981). Nessa obra, fomentada entre os diálogos entre Freire e Moacir Gadotti, o autor lembra que a marca dos regimes totalitários “é apagar o passado”, e fazer crer que a História não existe antes deles. Não a toa, Freire foi (e é) vítima dos verdadeiros “canalhas ideológicos” que querem apagar sua trajetória. Ao ser perseguido pela ditadura durante seu pior momento (quando Médici chegou a legitimar o estuprador Sérgio Fleury no DOI-CODI), Freire partiu para o interior do Brasil, onde desenvolveu seu método em populações analfabetas. Os resultados foram tão positivos, que lhe valeram admiração a nível mundial, e a perseguição do governo brasileiro (que vale lembrar, acusava Freire de “agente comunista”, enquanto permitia, a tortura nos cárceres da ditadura). É claro que os canalhas ideológicos preferem criticar Freire e silenciar sobre Médici, Passarinho ou Fleury. Com quem eles mais se assemelham ideologicamente?
Ao lançar “Pedagogia do oprimido” e “Pedagogia da libertação”, Paulo Freire dá um salto significativo na concepção do seu método. O professor se torna educador ao construir com o educando, um processo de emancipação. Não há espaço para “depositar conhecimento” (a “educação bancária”), por que este é antes de tudo, construído. O professor não é super-herói, não é vilão, ele é aliado nesse projeto. O método pode sofrer críticas, a partir do momento que o discurso de libertação pode ser usado por qualquer um, mas Freire lembra que além de gesto de amor, educar é um gesto de caráter, ética e princípios (o que poucos têm). O educador não ensina por ensinar, não quer formar alguém para o mercado de trabalho ou mesmo, plantar “mais eucaliptos em vez de jequitibás” como diz Rubem Alves, mas sim, dar uma chance de que alguém enxergue o mundo e se proponha a transformá-lo. Freire reconhecia o condicionante, mas negava o determinante social. As condições de miséria e alienação condicionavam alguém a escravidão, mas não determinavam, a ponto de estar no educador e no educando a chave de subverter esse processo e corromper a cultura dominante (também escreveu sobre o confronto mídia alternativa versus Grande mídia). Freire, antes de tudo, acreditava que “o caminho se faz caminhando” (esse livro é um reflexo de sua influência cristã), e que a perseverança seria fundamental. Quanto aos canalhas ideológicos? Alguns se apagaram com o fim da ditadura, outros, por aí, preferem “inventar uma mentira aos alunos para fingir que sabem a matéria”. É por isso, que Freire é criticado por eles. Por isso não entendem o sentido de educar na ótica freireana.

Fabiano da Costa, 22 de julho de 2009.

Os 15 anos de plano Real: Ousadia tucana ou processo inevitável da História?


No dia 1º de julho de 1994, entrou em vigor o Plano Real. Na época, o então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso, declarou que “era mais uma tentativa de romper o ciclo da inflação no Brasil”, em alta fantasmagórica desde o fim dos anos 70. O sucesso obtido em relação ao poder aquisitivo da Classe média é inegável. No fim da década de 90, os indicadores econômicos mostravam que a Classe média estava viajando mais, comendo melhor e que era responsável pela renovação de cerca de 50% da frota nacional de automóveis. Os mesmos indicadores, entretanto, também revelaram o que já sabíamos: Aumentou a centralização de renda no país, mesmo tendo multiplicado o investimento de capital das multinacionais e tendo melhorado substancialmente a renda da classe média alta. Ou seja: É puro equívoco alegar que a miséria é falta de capital. Indicadores mostram isso. O Plano Real teve alguns objetivos alcançados, mas para quem viveu isso atentamente (eu sou um deles), algumas contradições ficaram claras.
Sem dúvida, o Plano real alcançou a “seguridade econômica”. Isso beneficiou não somente a classe média (num conceito amplo), mas também a classe baixa, já que ela pôde poupar e aumentar o consumo de bens duráveis. Mas o Real não se resumiu a isso. A dolarização da economia (que no desespero inflacionário parecia a melhor saída), quebrou as exportações brasileiras. O país, que vivia substancialmente de exportar 62% do seu produto agrário para os EUA, ficou engessado com a baixa do dólar (até 1995, o dólar valia 0,96 reais). Em Rio Grande, cidade pesqueira, o efeito foi dramático: das 28 empresas ligadas à pesca, somente 10 sobreviveram. Mesmo com o aumento de capital no país (o investimento estrangeiro aumentou mais de 5 vezes entre 1990 e 1994), o desemprego chegou aos (inacreditáveis) 18%. Ou seja: De cada 100 brasileiros na idade economicamente ativa, 18 não tinham emprego. Mais um prova de que não é o aumento do capital que elimina a miséria. Hoje, em pleno Governo Lula, essa média é de 9%, e mesmo assim é alta.
Em 1998, a economia viveu a ressaca do Plano Real. O consumo que explodiu em 1994, fez do país um dos maiores consumidores de frango do mundo. Aliás, esse foi o cardápio usado como propaganda nas campanhas de FHC em 1994 e 1998. Com a crise dos tigres asiáticos (que tinham as maiores concentrações de capital estrangeiro do mundo e quebraram), o Governo brasileiro permitiu o câmbio flutuante, para coibir a fuga de capitais e aumentar as áreas de investimento. O que se tornou bom para segurar as exportações, por outro lado permitiu o aumento vertiginoso do dólar e em decorrência, dos preços. É o sinal maior do Plano Real: No fim da década, em meio a fiasqueira neo-liberal em toda a América latina (que hoje só é mantida na Colômbia e no Peru), dos 50% mais pobres do Brasil, 30% foram transformados em miseráveis, mesmo cercados pelo acúmulo de Capital estrangeiro! O que parece absurdo, se torna aceitável: A manutenção do Capital de giro, entretanto não proíbe que as empresas “modernizem” seus parques industriais e visem minimizar seus gastos, substituindo operários por máquinas. Exemplo disso está na indústria automobilística: Ela aumenta gradativamente seus investimentos em novas linhas de montagem, mas não equipara esse número com o de pessoas contratadas. No Campo, o agro-business também se modernizou: Para cada colheitadeira adquirida, cerca de 80 cortadores de cana perderam o emprego. Importante lembrar que a tática neo-liberal para garantir o investimento foi fantástica: FHC deu incentivos, concedeu subsídios, mas em contraposição, não exigiu das empresas nenhuma garantia empregatícia. Foi a festa dos estrangeiros, ao mesmo tempo em que a crise se agravava.
No inicio da década (2002), o mito do Plano Real (diferente entre quem viveu e quem o idealizou) caiu por terra. Com a situação financeira agravada por uma crise de âmbito mundial, os neoliberais foram tirados do poder. Em contraposição, Lula investiu na teoria de “Socialismo de mercado”, quando existem dois Estados: Um da iniciativa privada, que fatura cada vez mais e pode gerar empregos (?), e outro, do Estado, que mantêm fortes projetos na área social (beneficiando a todos, inclusive os que defendem a iniciativa privada). Em miúdos, o Plano Real foi um movimento de ação mundial, no que concerne, naquele momento, um combate contra a inflação – para isso, permitiu o investimento de capital estrangeiro, forçando a livre iniciativa e a competição. Por outro, ficou claro que seu melhor reflexo (o de conter a inflação por meio da competição de preços no mercado), também aumentou o consumo, e privilegiou os monopólios privados em alguns setores. Os danos (e alguns benefícios) à longo prazo deverão se explicar. Por enquanto, o que se pode alegar, é que existem maneiras de conter a inflação e aumentar o crédito, sem para isso, gerar desemprego e aumentar a centralização de renda. A planificação, com diversificação econômica é claro, seria a solução para essas contradições inerentes do Capitalismo, onde se tapa a cabeça, mas se esquece dos pés na outra extremidade.

Fabiano da Costa, 12 de julho de 2009.

Inverno em gramado: A experiência estética da burguesia burra e do jornalismo maquiador.

Já é tradição: Chegando o frio, Cristina Ranzolim e toda a RBS (Rede Brasil Sul), se enchem de sorrisos. Quanto mais os termômetros despencam, a equipe do “Jornal do Almoço” se enche de esperança. Na hora da previsão do tempo a pergunta é entre sorrisos simplórios “Quando teremos neve?”. A neve é para a RBS (e cheguei a essa conclusão repentinamente), uma “experiência estética”, é um estar em Paris ou Roma, sem sair de Porto Alegre. Não há explicação melhor, mais apropriada. Chega a ser deprimente. É um espetáculo cruel da imprensa incompetente, tendenciosa e sem nenhuma responsabilidade com a imparcialidade diante dos fatos. Não há nada de ruim no Estado inteiro: “Tudo está bem, quando parece estar bem”.
Um dia, o viés da simploriedade chegou a ser científico: Escutei essa frase deprimente de uma das âncoras: “O bom com esse frio todo, é ficar em casa, ao lado da lareira, tomando um bom vinho”. Quantos gaúchos podem estar inseridos nesse “modelo estético europeu” promovido pela RBS? O Estado apresenta alguns dos seus piores indicies de desenvolvimento econômico na História. Numa das edições deste “fidedigno” programa (Jornal do Almoço), após se erigirem as mais esfuziastes frases à neve durante 3 minutos, foi dito o seguinte: “Olha só, que coisa linda essa neve, não é mesmo? Mas também existem notícias ruins: Nessa noite, em Porto Alegre, um morador de rua morreu congelado em decorrência do frio. Bom, agora vamos pro intervalo”. Não, isso não é brincadeira. É sério. Será que alguém pára pra lembrar, que cada vez que a RBS alega que turistas enchem gramado (a “Terra santa” do jornaleco da Direita) enquanto a temperatura despenca, uma série de pessoas e animais vai dormir encolhida? Não se trata de criticar a neve, o frio, a chuva (que acho linda), mas sim a alienação promovida em torno de uma estética desenhada para promover o turismo, maquiar os problemas econômicos. O mínimo que se pede de um jornalista é analisar os lados de um fato. Recentemente, em uma pendenga por anúncios publicitários, a ULBRA parou de contratar os serviços da RBS. Em decorrência disso (e essa é incrível), o time da ULBRA que disputava o Gauchão 2009 sumiu. Ou melhor: Passou a ser chamado de “Canoas” para que não se veiculasse o termo “ULBRA”. Com quem estamos lidando? Um engodo jornalístico sem tamanho?
A RBS foi o primeiro grupo a se afiliar à Rede Globo. Ela conseguiu eleger vereadores (Paulo Santana), deputados (Mendes Ribeiro e Mendes Ribeiro Filho), senadores (Sérgio Zambiazi) e pasmem, governadores, sendo entre eles, dois funcionários da sua rede de jornalismo, os neo-liberais Antônio Britto e Yeda Crusius. Como se vê, não é de graça que a RBS esteja inserida em mostrar o RS das hortênsias no inverno, e das praias do literal norte no verão. Desde fatos tão dissonantes como a invasão da fazenda Anoni, em 1989, até a morte da filha do Vice-governador no inicio de 2008, vitima de um desastre automobilístico, a RBS se profissionalizou em criar, editar, copiar e colar as suas notícias. As vezes, escondendo os fatos, as vezes, maquiando o que lhe soa ruim, destacando o que lhe soa bem. Essa mistura de incompetência, aliada a um jornalismo tendencioso repercute em seus nomes de peso: Lazier Martins e Ana Amélia Lemos. Ver Ana Amélia destacando os feitos dos senhores de terra dos pampas é um desastre. É uma afronta. Um desrespeito à nossa inteligência. É dizer que podemos ser formatados a cada 24 horas. Os desmandos de Britto e a incompetência de Yeda Crusius parecem ter a mesma fonte: O poço de absurdos da Rede Brasil Sul.

Fabiano da Costa, 28 de julho de 2009.

A Carta de Fabiano à Yeda Crusius – Outubro de 2006.

Aí está: ao lado de algumas pessoas, previ e alardeei o que seria o RS nos tempos de Yeda. Vendo que a derrota era inevitável, diante das alianças amplas dos tucanos do pampa, e indignado com as mentiras ditas e reditas por Yeda na TV, me prontifiquei a escrever e lhe mandar uma carta/e-mail. Eis alguns (longos) trechos da mesma...

Senhora Yeda Crusius;

Antes de tudo, gostaria de lhe cumprimentar por concorrer ao governo do Estado do Rio Grande do Sul – sem dúvida, depois de tantos desserviços seus a este Estado, tenho que dar a mão a palmatória e elogiar sua coragem, não só em concorrer, mas em desdizer todos os seus feitos (e defeitos, politicamente falando). Não é qualquer candidato, nem mesmo um candidato que começou esta eleição desacreditado, que sobe vertiginosamente nas pesquisas, que consegue entrar em um debate e não ser (pasmem!) desmoralizado, mesmo estando durante anos em acordo com tudo aquilo que há de pior e mais nefasto na política desse país (PFL, PP, PMDB...).
Pois bem, a senhora vem à luz do dia e declara ser “um jeito novo de governar”, declara ter “uma nova política” e mais do que isto, fala veementemente em “ter palavra”; (...) O seu “jeito de governar”, pode ser novo em seus parâmetros, mas já é bastante repetitivo na história da economia mundial nas últimas décadas deste século passou: É o neo-liberalismo (só falta a senhora agora, negar que é Neo-Liberal) que Margareth Tatcher teorizou por sobre os países da Commenwealth assim sendo: “Se os países do 3º mundo não podem cuidar e administrar seus recursos, é certo que passem esta administração para nós, do 1º mundo”. Ou melhor: Pinochet, o grande impulsionador do Neo-Liberalismo na América Latina, amigo pessoal da Senhora Margareth Tatcher, também achava que “a máquina estatal precisa ser enxugada”. Ele enxugou a máquina, antes de “pulverizar” seus inimigos, que segundo ele, eram “conduzidos por fundamentos ideológicos”. Aliás, não foi a acusação que a senhora fez ao Senhor Olívio Dutra em recente debate? Serão apenas coincidências? Podem ser consideradas meras coincidências, alguém que se alia ao PP e que repete os trechos do discursos de Pinochet?
Pior: Pode ser coincidência que o seu vice fale em privatizar o Banrisul, enquanto a senhora, que apoiou o governo entreguista de Britto, também admitiu “ser a favor da privatização dos Bancos estatais”? Me desculpe, mas estou confuso, candidata! (...) Quem implementou a venda e a quebra do Estado em 4 anos de governo? Quem fez deste país uma balburdia atrelada aos banqueiros internacionais? A senhora sabe quem são os seus aliados??? Claro! Por que como a senhora mesmo já disse “tem boa memória e acima de tudo, tem palavra”. Eu também! Por que lí, vivi, observei o mundo, conversei com as pessoas e morei em SP (portanto sei bem do que o Senhor Geraldo Alckmin é capaz na administração de um Estado). A senhora, Candidata Yeda, está polarizada, aliada ideologicamente: Ao lado dos filhotes da ditadura, dos banqueiros internacionais, da corja de investidores que fez questão de aumentar o contingente de famélicos a habitar nossos viadutos!(...) Eu digo isso, com a autoridade de quem viveu os 4 anos do governo Olívio, aqui, sentindo na pele o “terrorismo jornalístico” do grupo RBS (por coincidência, o seu berço político) contra a administração da Frente Popular. Aliás!? Onde a senhora estava neste período?
O seu “Jeito novo de governar” é o mesmo dos 8 anos de mandos e desmandos do governo FHC: A compra da emenda da reeleição, o processo escandaloso de entrega das Estatais a investidores estrangeiros, a repressão furiosa, jamais vista aos militantes do MST, a dolarização da economia, que quebrou em efeito dominó, uma série de indústrias, geradoras de emprego e renda. A sua economia Neo-Liberal gerou os maiores indicies de miséria e fome neste país nos últimos 30 anos. Isto não lhe diz nada??? Pois bem: A senhora é o novo, o modelo “ético” de política e com as alianças “amplas e sem preconceito” que fez, deve ganhar este pleito. Eu, tenho comigo, que este será o pior governo deste Estado em muitos anos, e corremos o risco, de ao fim de 4 anos não termos mais nenhuma estatal, o Estado estar invadido pelas tão famosas PPPs, os campos impregnados de “sementes sintéticas”, e pior do que tudo isso, a nossa população estar mais despolitizada do que nunca, num fenômeno jamais visto, de alienação, comodismo e descrença.
Se a senhora ama este Estado como diz tanto, retire sua candidatura. Aliás, não concorra a nenhum cargo representativo “representando” este Estado(...). Sei bem que esta mensagem por e-mail não será lida pela senhora (em decorrência de ser humanamente impossível na decorrência do seu tempo disponível) mas por sua assessoria. Peço que, se tiverem coragem de me contradizer, me respondam! Aliás! Façam dois debates: Um com o senhor Olívio Dutra, outro comigo! (...) Deixo claro que não sou o dono da verdade, assim como o atual governo federal não o é (e nos prova isso quotidianamente), mas acredito ser fundamental para a construção da democracia (exercida de forma pluralista), que o eleitor (seja seu eleitor ou não, como eu), que o pagador de impostos, que o contribuinte de divisas, questione as tantas contradições apresentadas neste pleito.

Cordialmente, Fabiano da Costa.
18 de outubro de 2006.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A Civilização Ocidental e cristã.


No século XVII, após os espanhóis terem acabado com os índios das Américas, Hegel escreveu que o processo de colonização foi sangrento, porém necessário. Segundo ele, alguém tinha de conduzir a difícil tarefa de “levar a civilização e a liberdade cristã” aos primitivos do Novo Mundo. Hoje, com todo o aparato científico da História, Hegel é veemente criticado, até por alguns admiradores. Afinal, o gesto de exportar o modelo ocidental as “Índias” e com isso sacrificar milhões de indivíduos não passou de um descompromisso com a vida dos mesmos – Somente na Ilha de Hispañiola (Cuba), se calculam em 8 milhões de mortes decorrentes da epidemia de gripe de 1558, trazida pelos espanhóis. Vale lembrar que essa epidemia matou 10.000 europeus, ou seja, ela era fatal até aos indivíduos que já a reconheciam e muito mais aos pobres índios. Mas claro: Valeu a intenção de levar a “liberdade cristã” (a de mercado, é claro).
Com tantos comentários infelizes e confusos (chegou-se a sugestionar que eu preferiria uma colonização espanhola em vez de portuguesa), tive de recorrer a bela obra do artista plástico Leon Ferrari: “A Civilização ocidental e cristã” (1996). Ela é de fato, a melhor resposta a estupidez (completa) de dar palmas a civilização ocidental, até mesmo por que ela foi edificada sobre uma figura originalmente oriental, Jesus Cristo. Sem Cristo, não existiria o sincretismo Católico, muito menos a exportação do modelo civilizado. Haveria outro modelo, mas não esse. É simples: A idéia de civilização é greco-romana, como diz Buckhardt, sugada das ruínas do antigo Império Romano. A fusão dessa grandiosidade com a cristandade, nos deu o modelo europeu renascentista, sustentado pela burguesia ascendente e pela Igreja (leia-se o chamado “mecenato eclesiástico” de Arnold Hauser). Portanto, defender a ocidentalidade é algo confuso. Não existe ocidente, como se entende, sem o oriente. O Cristianismo e o Judaísmo, pedras fundamentais desta metade louca de mundo, são pensamentos orientais. E boa parte do cristianismo advem do zoroastrismo – também, pasmem, oriental! Como saber disso? Ora, é só ler, antes de sair defendendo algo tão estúpido quanto o chamado “Ocidente”. A pergunta que fica é: O que é Ocidente?
Não devemos esquecer: O símbolo do ocidente, é o capitalismo. E não existe por tabela, nada mais atrasado que o capitalismo. A crise econômica que levou milhões a morar em pontes nos últimos dois anos, é a prova disso. Deixar o mercado se regular, sem Estado, é no mínimo, uma sandice. O sistema capitalista é tão atrasado, que os seus maiores defensores correm ao governo nos EUA, solicitando reparações financeiras. A máxima de que o mercado se regula é um embuste. Basta enxergar o que o capitalismo provoca: Grandes contingentes de pessoas sem acesso a educação, saúde, e saneamento. Por isso, os próprios capitalistas já advogam mudanças estruturais, como segurança de crédito, e um sistema de descentralização financeira, levando o capital para países periféricos e os afastando dos trustes econômicos. Isso, há 10 anos atrás, seria impensável e mostra que os próprios capitalistas, estão reconhecendo a insegurança do que criaram. Se isso era a civilização ocidental, logo será encarado por eles mesmos, como barbárie.
Outra coisa: Marx era ocidental. Ainda que usasse o “Modo de produção asiático”, foi esse alemão, que melhor criticou o ocidente ao apontar erros estruturais na sua economia, prever crises econômicas sucessivas e o preço alto que isso sugeriria: a socialização generalizada da miséria. Mas isso, é também, problema de leitura. Se defender o ocidente, a civilização, diante do processo histórico, é não dar veracidade ao relato do Frade Bartolome de Las Casas, quando mesmo atado a cristandade contou ao Rei de Espanha, o que era a chegada ao Novo Mundo: “Usam o estupro e toda forma de coação contra os nativos”. Antes de falar qualquer coisa, é bom ler e ter fundamento. Caso contrário, fica explicito o desamor com quem sofreu, o desrespeito contra quem lê e uma falta de ética com as próprias fontes históricas.

Fabiano, 7 de julho de 2009.
Imagem: "A civilização ocidental e cristã" de Leon Ferrari, escultura em plástico, Argentina, 1996.

Arte e funcionalidade na teoria e na prática da obra.

Qualquer arqueólogo dignifica que o montante da Arte romana, é em sua demasia, o restante da Arquitetura. Os romanos também se utilizavam da pintura, mas vale lembrar que os historiadores de Arte reconhecem que o artista era uma profissão inexistente na Roma antiga. Portanto, não tínhamos arte, mas puro artesanato, concebido para enfeitar ou para servir. Não havia significância própria na Arte romana. Nisso, se reconhece em Roma uma característica: A praticidade, a criação para o ato de servir. Por isso, seus edifícios eram diferentes dos gregos. Não havia procura direta pela estética, mas pura procura pelo ato da praticidade. Quis o processo histórico, que a arquitetura de civilizações antigas passasse a ser Arte de imediato. Hoje, nem toda a Arquitetura pode ser reconhecida como tal. Essa arquitetura, a serviço do Estado diz muito sobre a política, a economia, mas tange no desenvolvimento do trabalho do artista e na linha que o separa do artesão.
Arthur Danto diz em “O limite da História e o fim da Arte”, que o artista só nasce no renascentismo. Antes disso, a produção ou é encomenda súbita, ou não há o hábito de assinar a obra. Se procurarmos em Arnold Hauser, será uma identificação básica com o medievo, que fruto de Bizâncio, a Igreja proibia a figura humana e se constrangia a produção de Arte. Assim, não se tinha o hábito de assinar a obra. Na Grécia antiga por sua vez, assim como na Mesopotâmia, já existia um conceito de Arte, mas era relegado aos arquitetos e aos escultores, e mesmo assim, os de maior vulto. Grande parte das esculturas gregas não tem autor, e as que tem, mesmo produzidas em equipe de artesãos, são creditadas a seu autor intelectual, Fídias, protegido de Péricles. Daí, até a renascença, há um lapso de 1700 anos. Não morreu a Arte nesse período, mas é evidente que a alegação de Danto, do artista sendo uma criação da renascença, é mais do que palpável. Com o advento da burguesia e da teoria de beleza, enraizada na modernidade, era natural que surgisse o artista, prova do homem livre, que pensa, executa e assina. Não a toa, quando os “modernos” adentraram a América dos Andinos, sua impressão era de que os “primitivos” adoravam demônios, dado que suas divindades eram o antagonismo da beleza européia moderna.
Evidentemente, algumas contextualizações são necessárias. A primeira, é de que os artistas da renascença eram contratados pela Igreja. Isso, não os isenta da atividade artesã, mas se reconhece que nesse intento, tinham o direito de planejas as obras, ainda que sugestionadas pelo cliente (a Igreja). Segundo, que se reconhece nesse período, um apuro inédito com a profundidade e a perspectiva. Isso, faz com que a Arte tenha suas características alteradas. Um exemplo, é encontrado em Henrich Wölfflin, “Conceitos fundamentais da História da Arte” quando diz que na Arte pré-renascentista do holandês Van Heick há o elemento de uma perspectiva ousada, mas que não disfarça a impressão de uma profundidade no território, já que a linha do horizonte é mais baixa que nos países do centro europeu. Essa característica, notada somente por teóricos mais apurados, é fundamental para entender esse processo na criação da Arte renascentista. Além do mais, vários de seus representantes eram humanistas, o que os fazia incutir na obra, suas indagações, exemplo de Albrecht Dührer, que procurava na beleza humana, um sentido para a existência e a verdade dos fatos.
Dizer que o artesão é um artista é desvalorizar o próprio campo desse debate. O artesão é fundamental para o desenvolvimento da Arte, mas não é um artista. Não se desconhece aqui, a importância do desenvolvimento da atividade manual. O que se dá, é uma conceituação diferente e ímpar ao ideólogo da obra, não por um mérito apenas intelectual, mas por sua busca na química das cores e nos estudos mais avançados da própria perspectiva (no que tange a pintura). Exemplo disso esta em “La idea como Arte” de Gregory Battcock. No artigo “Monumentos para nenhum lugar ou para qualquer lugar”, Dore Ashton cita o artista pop Klaus Oldenburg e sua concepção de escultura moderna para o porto de Nova York: Klaus propôs em teoria, que fosse criado um banco de areia ou similar para que os navios que ali passassem, fossem ficando encalhados. Com o tempo, haveria uma pilha de sucata, envelhecida e que comporia um cenário atípico com a modernidade da cidade e do porto. Quem pode dizer então, que Klaus na seria o artista? A sua idéia seria a composição da obra, a construção do monumento, mas a edificação seria dividida entre a construção dos objetos (navios) e o processo tempo-espaço. Fica claro, aqui, que artista e artesão são distintos, ainda que manualmente possam estabelecer relações similares. Mas isso, é uma outra história, e bem explicada pela Escola Bauhaus.

Fabiano da Costa, 20 de junho de 2009.

Um país exótico.


Anos atrás, uma escritora francesa esteve no Brasil (devido a minha ignorância, não lembro seu importante nome) e disse ter ficado maravilhada com o país: Seu exotismo era tão exuberante que juntava papagaios, pessoas sorridentes, índios com lanças e o verde das florestas. Segundo ela, achou aqui também, uma espécie em extinção: Comunistas. Sim, esta senhora disse ter encontrado até Comunistas no Brasil! Isso, em 1999, foi o máximo para mim. Achava eu, que aqui ainda era o refúgio da Esquerda, pois o país é auto-suficiente. O Brasil não precisa importar medicamentos, por que vende matéria prima para fazê-los. Não precisa importar alimentos, por que produz 15% do que o mundo consome. Não precisa comprar água nem energia por que temos cerca de 10% da água potável do planeta. Ufanista? Pode me chamar de Policarpo Quaresma. Prazer em conhecê-lo.
Em 1999, o Brasil estava a beira de um colapso. Para quem não lembra, a crise econômica que arrebatou os tigres asiáticos e a Rússia entre 99 e 2001, ameaçava ser a crise de 2008. Qualquer economista avisava: Nos próximos 10 anos o Capitalismo quebra. Não quebrou, mas em compensação mostrou que o Capitalismo é inviável, e que os neo-liberais são contra o Estado até a primeira baixa nas bolsas. Em junho daquele inesquecível ano, Leonel Brizola me arrancou lágrimas. Pediu que FHC e sua quadrilha deixassem o país, que nos esquecessem e sumissem para gastar com os gringos, o que levaram com a venda das Estatais. “Senhor Presidente [FHC], nos deixe ao menos viver com dignidade. Renuncie. Vá embora do Brasil”. FHC não renunciou e sucateou o país ao extremo. Nunca tanta gente passou fome nesse país. Nunca, uma teoria econômica, construída por economistas, antropólogos, filósofos e até por um sociólogo deu tão errado. Era o jogo de dominó dos Neo-liberais: Quebrando um, faliam todos. Era a democratização da miséria – mas somente para os mais pobres. Diversos estudos mostram que o poder aquisitivo da burguesia brasileira (diluída na classe média) aumentou consideravelmente, o que lhe permitiu inclusive, renovar a frota nacional de veículos. Por outro lado, as mesmas pesquisas são unânimes: Quem sustentou esse enriquecimento foram os 50% mais pobres do país. Deles, a grande maioria mudou de classe. Deixou de ser pobre, para ser miserável. São Paulo, por exemplo, bateu o recorde de gente morando nas ruas e viadutos. FHC empreendeu um grande projeto de moradia. Qualquer ponte virava casa, rapidinho.
Sim, somos um país exótico. Esta senhora tem razão. O único país com imensa maioria branca, onde os brancos ocupam mais de 85% das vagas das universidades públicas e mesmo assim, o Governo federal optou por remarcar reservas indígenas, ceder sistemas de cotas para brancos pobres, negros e índios no ensino superior, e ainda, desenvolver o maior programa de alimentação no mundo: O Fome Zero. Depois de FHC, Lula procurou colocar comida no prato da população. Fez os acordos mais esdrúxulos, as uniões mais insólitas, os apertos de mão mais repugnantes, mas qualquer órgão da ONU é unânime em alegar que o número de miseráveis diminuiu enquanto o brasileiro hoje come mais e melhor. O Brasil é o paraíso? Claro que não. Óbvio que não. Mas para quem viveu o período FHC com olho clínico, não há sequer comparação. Claro, a não ser para a Direita, que não liga se alguém morre de fome. Os reacionários de plantão já escolheram Aécio Neves como seu candidato. Em Minas Gerais, os sindicatos ligados à comunicação já denunciam: O homem aperta qualquer jornaleco ou Rádio Comunitária que falar dele. Aécio, portanto, é a democracia que o Brasil precisa.
Temos ainda papagaios, alguns índios e alguns pés de Pau Brasil. FHC homenageou os portugueses. Segundo o sociólogo da Sorbonne, eles nos trouxeram a civilização. Os índios, como ainda se pensa em muitas salas de aula do ensino superior, eram apenas um entrave para isso. Precisam de liquidificadores, de Internet, e claro, de suco Tang, por que colher frutas dá trabalho, e ser moderno é minimizar o esforço. Nossos acadêmicos brancos e dominantes, sustentados pelos brancos pobres que não entram na Universidade e pelos negros que não serão seus colegas, agora querem acabar com a ignorância dos índios. Democracia é necessária e faz bem.
Quanto ao país exótico, ele está bem aqui. Dentre os micos-leão dourado e os peixe boi, em meio às piranhas do Rio Amazonas e os jacarés do Pantanal, e até perto das Capivaras do Taim, existem os temíveis comunistas. Podem de fato, estar até entre as esculturas de Aleijadinho, no Carnaval da Sapucaí, e pasmem, no meio do Governo Lula. São uma criação da pobreza brasileira e das contradições de nosso período colonial. São, na verdade, resquícios da insuficiência teórica de nossos liberais e da incompetência de nossos economistas, que nunca inventaram nada. Só mudaram a rota para onde ia o que era saqueado. O Próprio MST é uma herança da miséria gerada num país de proporções continentais, onde ainda existem Governadores Gerais e até sesmarias, que produzem em sistema pré-feudal. Sim, somos exóticos, mais coloridos, mais antropofágicos e temos comunistas. O que nos intriga é que um europeu esteja mais absorto com a sobrevivência da nossa Esquerda, do que com as colônias de pedofilia que eles mesmos, os turistas, subsidiaram. Mas isso não é discutível, por que somos neolíticos, e como consideram os acadêmicos, incapazes de discutir nós mesmos, o nosso futuro.

Fabiano da Costa, 22 de março de 2009.
Imagem: Araras brasileiras e comunistas. Autor desconhecido.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Aimará do futuro.


Evo Morales é o Aimará do futuro. E Isso quem diz, assustada, é a força reacionária de Veja, Câmbio e Rede Globo. Quem sou eu para desdizer essa crítica? Morales é a representação do fim da paciência, do esgotamento do debate em uma época onde o discurso protelou acordos de fome e miséria. Por isso, diferente dos Aimarás pacíficos, massacrados, e por fim, esquecidos, ele é um retrato do futuro, reflexo direto do passado. Não importa o que diga Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Olavo de carvalho. Evo Morales não é a personificação do passado, do Estado total e presente, mas sim um Aimará do futuro. Se a direita queria modernizar o Estado, transformando os escravos em servos comportados que vivem em uma suposta cidadania, conseguiu criar o Aimará do futuro.
Em 1531, os espanhóis chegaram ao altiplano peruano. O processo decorrente disso, junto ao massacre do México (1519), é chamado sugestivamente por alguns pesquisadores de “holocausto indígena”. Na cultura Asteca, por exemplo, a chegada dos espanhóis foi encarada pelos sacerdotes, como a representação do fim dos tempos. O que em bom dialeto cristão, significa “armagedom”. Num processo que durou poucos anos, milhares de indígenas tombaram em nome da cristandade. No altiplano, foram divididos entre as minas e a prestação de serviço nas fazendas que supriam o mercado consumidor local (junto as haciendas dos espanhóis). Em pouco tempo, passou a valer o que diz Enrique Dussel: Após o massacre dos seres humanos, houve um massacre de sua cultura. No México, Sergei Kruzinsky aponta para o apagamento da Arte Asteca: As formas dos deuses, a estética dos seus mitos foi sendo substituída por uma estética européia, branca, “cristã e civilizada” (como diria Hegel). Os espanhóis deixaram na Bolívia, uma representação de Estado que não existia, pois era o entreposto da metrópole, com os índios carregando os navios e vivendo cabisbaixos aos patrões europeus. Até hoje, a Bolívia fornece gás e cobre, depois de ter sua prata e ouro saqueados em Potosi. Não seria estranho enxergar uma caravela espanhola carregando no Prata, os minérios bolivianos até hoje. É o salgado contraste entre o passado, ainda presente na miséria, e o nascimento do Aimará do futuro.
Evo, que causa urticária em Reinaldo Azevedo, é uma extensão disso: plantador de coca nas altitudes bolivianas, conhece de perto o processo neoliberal local. Por isso, identificou na política estadunidense algumas semelhanças da invasão européia. Desfez então, os acordos firmados com as empresas européias e americanas. Fechou as refinarias da Petrobrás, o que fez com que a oposição exigisse de Lula, represarias imediatas, na economia ou na bala, para que Evo voltasse atrás. Em setembro de 2008, Veja declarou: “Evo fragmentou a Bolívia”. Que Bolívia? O país está dividido em 36 nações indígenas, as mesmas que Veja declarava ser um absurdo, ganharem autonomia política. Morales, nosso Aimará do Futuro é, uma ramificação das “veias abertas da América Latina” de Galeano, ou dos homens que agem “por medo da fome” de Ariano Suassuna. As Classes média e alta bolivianas, que nunca absorveram indígenas, acusam Morales de “cubanizar” o país. E que mal há nisso? O país não teria o menor PIB e nem os piores índices de desenvolvimento econômico e social do continente. Não a toa, Azevedo (em11/9/08) e Mainardi em outros artigos se mostraram assustados com Evo. Ele representa o basta da miséria, numa insurgência natural contra os senhores de terra bolivianos. Enquanto isso, o sonho nostálgico dos safados de Veja, de Cambio e da Globo é o inferno neoliberal , mas que graças a deus, não volta mais.
Fabiano da Costa, 15 de junho de 09.

A Nau e as caravelas.

Em 1498, os portugueses chegaram a foz do Rio Amazonas. A idéia deles, sempre foi a de expandir o mercado e os entrepostos de comércio da Coroa portuguesa. Não havia mal nenhum em conquistar novos espaços, levando a “cristandade” consigo e explorando o solo ao máximo. Se os entusiastas do progresso da modernidade alegam que sem os portugueses não teríamos o feijão e nem a Cana de açúcar (esse símbolo incontestável da nossa brasilidade), eu por minha vez, digo que teríamos mais alguns milhões de índios, falaríamos outro idioma (entre o espanhol e o Tupi) e estaríamos num outro estágio do nosso capitalismo. Isso por que os portugueses nos engessaram. Não permitiram o desenvolvimento de um mercado consumidor, por que não nos permitiam ter consumidores. A grande massa de escravos não tinha poder aquisitivo. Não tínhamos indústria, comprando os manufaturados primitivos da metrópole, e enviando a matéria prima. Há quem diga, que os lusos desenvolveram o capitalismo arcaico por aqui: Retiravam a matéria prima, devolvendo os produtos altamente taxados, já manufaturados. No campo, em volta das capitanias e das sesmarias, se desenvolveram os mini-feudos, que Décio Freitas adorava questionar. Se o nosso senhor feudal não era livre da Coroa, por outro lado, fazia leis próprias e castigava impunemente os escravos e os seus servos, brancos pobres e de tão livres, desgarrados até pela lei. Eram uma presa, na mão dos senhores, ou da inquisição brasileira.
1531: Aportaram os primeiros escravos domésticos. Com os indígenas iniciam a saga do operariado brasileiro. Sem o conceito exportado pelos lusos, não teríamos as empregadas domésticas, que a meu ver, são a maior prova da colonização da Casa Grande. Uma empregada doméstica, na ótica do capital, corresponde a quem deve desenvolver atividades secundárias (braçais) enquanto seu senhor se dedica a atividades intelectuais. Não à toa, em Cuba, foram proibidas por Fidel. Ninguém pode tolerar a idéia de que é sadio sentar a mesa e pagar alguém para um trabalho braçal, degradante, humilhante. O que torna essa função humilhante, não é o trabalho desenvolvido, mas como isso se impõe. É uma pena que a classe média tenha se habituado a isso. Como disse Márcia Goldschimidt (grande referencia intelectual dos programas da tarde), uma empregada tem de se aprimorar em lavar e passar e melhorar o seu trabalho como um todo, e não investir em inglês e informática. Afinal de contas, a essência de nosso desenvolvimento capitalista, é a concorrência, e uma empregada deve estar preparada para atender melhor o seu senhor.
Hoje, o Brasil é a nau mais desenvolvida da América Latina. Tem um parque industrial com níveis tecnológicos de primeiro mundo. Por outro lado, mais da metade da população nem sequer conhece as caravelas que traziam os degredados a serem servos de sua alteza, mas sim a realidade do Navio negreiro. Até 2004, 50% dos brasileiros não faziam as três refeições mínimas diárias. Portanto, são o lúmen-proletariado a que se referia Marx, prontos para encararem funções de altíssima capacidade, mas por um salário abaixo do mercado. Nessa massa, estão os nossos metalúrgicos, que ganham 3 vezes menos que os irmãos europeus. É o nosso capitalismo: voraz e sem capital. Não há nenhum liberal que explique isso. Só o tucano. Ele se baseia em Keynes, sem lembrar que John Keynes pensava no liberalismo como fonte de riqueza geral e com certa descentralização, pois o capital seria repartido, ainda que desigualmente, mas dando o mínimo de conforto ao empregado, gerando poder de consumo à classe média. Entre Keynes e os tucanos, existiu Delfim Netto. Delfim se propôs a construir um modelo híbrido, com estatais sustentadas por empréstimos estrangeiros. Mais estatais a capital estrangeiro e uma economia privada com os banqueiros cobrando juros altíssimos da dívida brasileira. Ele e Roberto Campos desenvolveram isso com maestria. Estudaram anos a finco para planejar algo que até um cego enxerga estar errado. Afinal, investir em dívida social por tabela, no déficit das contas públicas, é até para os estatizantes, um erro grosseiro. O que me faz pensar em tudo isso, é que nossa Nau não tem motores e nem as velas portuguesas, e nem a velocidade dos navios negreiros. Estamos sim, em um veleiro, perdidos em alto mar e sempre a mercê dos tubarões da economia mundial, por uma série de planos furados, projetos falidos e uma repetição de erros históricos. Ou isso, ou batemos num iceberg: A fria em que os tucanos nos meteram por 8 anos.

Fabiano da Costa, 2 de junho de 2009.

A Grande mala coreana.


Kim Jong Il é uma mala. Virão diplomatas dizer ao contrário, mas é uma mala. É o último bastião do Stalinismo, e se orgulha disso. Kim Jong Il sorri. E quando sorri, faz questão que o restante da população também sorria, e com dentes limpos, brancos e firmes, contra o imperialismo. Sua megalomania apavora o planeta. Nos anos 90, durante a grande fome que vitimou milhões de pessoas na Coréia do Norte, com a desculpa de não ser envenenado pelo imperialismo, importou sua comida direto da Europa (!?). Para mostrar a disciplina do povo, os acorda todos os dias as 7 e meia da manhã, com auto-falantes nas esquinas. Controla o telefone e por lei, pode violar toda a correspondência. Esse maníaco (na verdade um híbrido de maniático, com alguém que recebeu o poder sem limites), agora vive de fazer chantagem com os EUA. Quando o Porco espinho da Coroa Norte-coreana quer alguns mísseis, ameaça a menina dos olhos estadunidenses: A Coréia do Sul. Ou estamos vivendo uma grande chantagem universal, ou Kim Jong Il é a personificação da maior tramóia política do novo século.
Na terça-feira, dia 9 de junho, as agências de notícias anunciaram que tanto EUA, quanto Rússia e China aumentaram seus arsenais militares. Não se sabe para que guerra se preparam, mas se cogita que com as ameaças constantes de Pyongiang, essas potências bélicas passaram a se armar para um conflito com o maníaco do extremo norte asiático. Mentira. Todo o planeta sabe que a Coréia do Norte não atacaria os EUA, muito menos a China ou a Rússia, seus vizinhos. Kim Jon Il passou a ser a grande desculpa para resolver a crise: Estão aumentando as ofertas de emprego na indústria bélica estadunidense. Na China, a indústria metalúrgica aumentou o ritmo: Submarinos, mísseis, torpedos, helicópteros. No Japão, que teve um decréscimo econômico de 9,5% em 2008, já se cogita um esforço de guerra para frear os terríveis comunistas de Piongyang. Kim Jon Il não é por inteiro uma praga para o Planeta Terra, como se pode ver. Ele faz tanto pela economia mundial, quanto George Bush filho.
Em 2005, acessando o site www.vermelho.org (do PC do B) li algo que me embasbacou: No presente escrito, se elogiava a empreitada da Coréia do Norte na “Construção do Socialismo!”. A própria Esquerda tolerar o regime da Coréia do Norte é um absurdo! Aquilo representa tudo o que deu errado na Esquerda nos últimos 50 anos. A própria desconstrução da Esquerda não é só obra do imperialismo Yanquee, mas fruto da sua incompetência em corresponder à práxis marxista. Kim Jong Il não chegou ao poder por uma revolução. Com a morte do pai, Kim Il Sun, guerrilheiro contra a invasão japonesa na segunda guerra e amigo de Stalin, ele ascendeu ao poder em 1984. Desde lá, a oposição interna no próprio PC (Partido Comunista) sofre o efeito estufa: Aquece, incha, e simplesmente desaparece. O maníaco, sentado sobre o seu pequeno arsenal, consegue intimidar a todos: Já meteu o rabo de Bush entre as pernas e não teme nem a Vladimir Putin. (A ONU já cogita uma medida extrema: Mandar o amigo Lídio Lima para fazer os acordos necessários e selar a paz, dando todo o Japão de presente a ele).
Isso tudo me lembrou um fato curioso da História: Durante a Guerra fria, a paranóia era tanta que a União Soviética desenvolveu objetos do quotidiano com potencial nuclear. Um deles, uma curiosa série de malas, esquecidas em metrôs e praças, que ao serem abertas causariam explosões atômicas. Cheguei a conclusão, depois de algum tempo, que há uma ligação forte em muitas estarem perdidas até hoje e toda essa crise nuclear, souvenir de uma Guerra fria. Kim Jong Il é uma dessas malas, com tecnologia soviética, potencial atômico, e que causa a náusea típica da política de qualquer império.

Fabiano da Costa, 11 de junho de 2009.

A Língua do tamanduá na reeleição sem limites.


Em 1997, eu fui um dos que abriu a boca: A emenda da reeleição era tão estapafúrdia que quebrava a estabilidade política do país. Não que ela seja antidemocrática. Se uma gestão é boa, pode ser reeleita quantas vezes a maturidade da democracia suportar. O problema é quando o jogo começa de uma maneira, e as regras são alteradas durante seu exercício. Foi assim em 1997, quando a base aliada de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, PMDB, PFL, PL, PTB...) negociou e comprou a emenda da reeleição no congresso. A Esquerda, argumentou que a regras não poderiam ser mudadas na véspera de uma eleição presidencial. No entanto, a emenda foi aprovada no Congresso, o que permitiu a FHC ser reeleito no ano seguinte. Agora, a mesma base que deu a reeleição a FHC, argumenta ser golpe o projeto de o Brasil adotar a Reeleição sem limites, modelo emprestado da Venezuela. Como se vê, são dois pesos e duas medidas. Sempre.
E o que fomenta essa discussão? Os altos níveis de popularidade de Lula e a doença da então candidata Dilma Roussef. Na verdade, desde Getúlio Vargas, um presidente não havia conquistado tanta confiança. O crescimento da economia e a grande presença do Estado nos setores sociais são causas dessa popularidade. Entretanto, Lula, não aceita a reeleição sem limites. Aliás, sempre deixou claro: É contra qualquer reeleição, e a favor de um mandato finito de 5 anos. Lula, como se vê, e como provam até mesmo os críticos, não foi picado pela mosca azul. É uma pena que só Diogo Mainardi não comprove isso. Ele acha que Lula trama algo. E se Lula fosse a favor da reeleição, também acharia que Lula estaria tramando.
Em meu ver, reeleição sem limites é um perigo. Nem por isso, ela deixa de ser legítima pelo tramite democrático, afinal quem decide nesse processo, são as urnas. O problema é que as regras não podem ser mudadas durante o jogo. Isso efetiva o que foi chamado de “prática de Gilmar”, ou seja: Começamos com uma regra no jogo, e de acordo com o que vai acontecendo no mesmo, as regras podem ser mudadas ou mantidas. A situação venezuelana é diferente: Chavez é um milico perigoso, mas tem apoio total da população, no que tange a políticas sociais firmes, investindo os lucros do petróleo em educação e saúde. Nem por isso, eu acho que a reeleição sem limites de Chavez é menos perigosa. O que há, é que na Venezuela, a discussão acerca da democracia baseada em eleições é recente. Assim como na Bolívia. Lembre-se que quem mais ataca Evo e Chavez hoje, é quem justamente propiciou o momento político dos dois: As multinacionais, os fazendeiros, os agiotas políticos e a corja mantida e suportada pelos interesses estadunidenses na região, que centralizando a renda, polarizaram a miséria. No Brasil, a discussão está mais avançada. É bem verdade, que mesmo assim, quem a propicia, não está nela pela compreensão da democracia como um regime que precisa de reparos e de avanços, mas sim por ver na mesma, interesses específicos. Tanto a campanha de Dilma Roussef como a empreitada Petista de dar uma reeleição sem limites a Lula tem a mesma face: Um projeto de poder por décadas. Se isso é positivo para o país ou não, não é a discussão para esse momento.
Lula, por sua vez, não deveria estar assustado com a turba enfurecida na oposição, onde estão José Agripino e ACM Neto, e nem com a já tão comentada candidatura de Aécio Neves, mas sim com os seus aliados na câmara e senado. Quem tem José Sarney, Fernando Collor e Romero Jucá como aliados políticos, deve dormir com os dois olhos abertos e nem mesmo pensar em reeleição, mas sim, cuidar-se ao máximo para concluir seu segundo mandato sem levar uma cama de gato.

Fabiano da Costa, 9 de junho de 2009.
Fonte da imagem: blog Humor do Novaes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A política do devaneio em Terra brasilis.

Não é muito tarde para começar a escrever. Ainda há tempo para um café, escutando aquele LP do Milton, ainda resta tempo para fazer amor. É uma pena que essas invenções, que essas genialidades, que essa tecnologia demore tanto a me chegar. Eu tenho me sentido embasbacado com esse novo mundo. Não somente pelo imenso número de luzes a brilhar, mas por todo esse discurso que emana nas noites de sexta. Quando sinto tua falta, coloco uma música brasileira ou passo um café. Isso não garante tua volta, mas me aponta sempre, à frente, o que eu sinto durante a saudade: falta de diálogo.
Já é um a tradição de terra brasileira: Os cargos públicos de maior envergadura agem sempre como se fossem privados, sob interesses nem sempre claros. É nebuloso o caminho da política, por que a construção de práticas dirigidas à coletividade, é substituída por uma idéia fixa de que alguém eleito legisla sobre si mesmo. Ora, um deputado ou um senador são delegados populares. Deveriam, em tese, votar sempre de acordo com sua base. Ou seja, eles são um voto na contagem, mas devem representar os votos de uma coletividade. Isso, em uma democracia madura e socialista, não deveria ser novidade. Se o sistema dos Soviets falhou, não é a democracia burguesa da representatividade que lhe substituirá com ares de redenção. A solução é o fim da anomalia do sistema bicameral. Assim, os deputados remanescentes, seriam substituídos por delegados (o que em tese já deveriam ser). A volta de Collor ao senado, além de um acidente, transformou-se em desastre com sua ascensão ao Conselho de ética. Como pode presidir a comissão de ética, alguém deposto por corrupção? Collor de Mello, seria em tese, um delegado?
No STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa foi a voz da coletividade. Não há canto nesse país, que não reconheça a figura de Gilmar Mendes (como já fora anteriormente postado aqui), como um espécime do coronelismo renovado, com a substituição da Casa Grande pela fazenda do Agro-business. Isso é uma analise histórica, um reconhecimento dessa brasilidade imposta, mas que nos conquistou. Ora, é preciso discutir, debater, propor e aceitar a proposta. Já dizia o poeta “Um país é feito de livros e de homens” (na verdade o contista Monteiro Lobato). Não há o que se discutir. Não vamos construir o socialismo em alguns dias, nem fazer a revolução em alguns meses. Por enquanto, o que nos resta, é lutar pela elasticidade de nossa democracia. Que o Estado cumpra a sua parte, por que ele é naturalmente, formado pelo “nós”. Não existe um ente chamado “Estado”. Não existe um indivíduo que anda por aí, usando o nome Estado da Silva. O problema do Estado (já diria Robbes) é a máquina burocrática, o grande depositário de parasitas e lampreias (boa definição dada pelo amigo Lídio Lima), o corporativismo, o vício de usar a máquina em nome do individual. Não é então ele, o culpado, mas o que fazem dele.
Eu sou sim, uma companhia desagradável. Não consigo, por mais que queira, ficar sem exercitar o meu senso crítico. E começo por mim. As minhas angustias transcendem entre o anarquismo e o marxismo. Não pode haver um Estado que simplesmente esmague o indivíduo. O indivíduo é parte do que forma o Estado. As liberdades individuais devem ser garantidas, respeitadas, constitucionalizadas. Devem ser, enfim, vividas. Considerar que a liberdade pode ser ampla e completa sem o anarquismo (essa teoria maravilhosa de gente como Kropotkin) é uma miragem, um engano. Por outro lado, achar que por si só, o anarquismo garante todas as liberdades é um divagar sem fim. A função do Estado, segundo Karl Marx, é legislar, organizar, ser de todos, e deixar de existir assim que o Estado não tiver mais nenhuma função. Isso, em meu ver, não é possível de imediato. A transição para o anarquismo só é possível, após o socialismo. Passar ao comunismo libertário, sem a etapa cientifica é impossível. O Capitalismo não permite que esse estágio seja negável. São divagações, como bem sabes...
E por falar em divagações, mais cientistas tentam definir a fórmula do amor. A ciência tem um problema, desde a Grécia: Achar que explica, resolve e transforma tudo em equação. Não são meramente os números que regem os Homens. É uma gama de acontecimentos, de reações biológicas e de fatores psico-sociais. O que é o amor, como pergunta, é de uma impossibilidade de haver resposta. Na verdade, o que sabemos, dentro do conhecimento cristão, é que ele não é ciúmes, não é inveja e não age por si próprio. Ou seja, quem ama, pode vir a sofrer, mas não quer incidir este sofrer a outro. O que há nele, de tão estranho, é que a liberdade de um indivíduo passa a ser concedida a outra pessoa. Isso nem sempre predispõe a uma escravidão, a uma prisão, mas uma sentença consentida, por um suposto livre arbítrio. Ninguém, fora da idealização, poderá defini-lo. Não é o tipo de pergunta que nos faz perder o sono. Simplesmente não há resposta. É amor, e tão somente isso. Os cientistas, que já estão na borda da ciência, deveriam compreender que entre outras, duas coisas não nasceram para ser definidas e explicadas: Amor e Arte. Por isso, elas machucam, mas sempre tem seus reincidentes, por que não esgotaram suas probabilidades.

Fabiano da Costa, quinta, 28 de maio de 09.

Obama sai do anonimato.


Isso é incrível, mas desde que Obama foi eleito, nunca escrevi uma linha sobre ele. Fui um dos poucos a resistir à essa tentação, à esse fenômeno pop, à esse astro reluzente da falida constelação que outrora iluminava a economia mundial. Barack Obama brilha na dimensão dos holofotes, mas como já disse aqui, tem a mesma funcionalidade de um discurso de Delfim Netto: nenhuma. Delfim é um grande economista, escreve e faz articulações ótimas entre historia e economia (como se não o fosse possível faze-lo), mas suas propostas não me atraem: É um Keynesiano piorado, que acha que os números salvam muitos milhões de pessoas, pelo sacrifício de alguns outros milhões. Obama é assim: Pop. Ele acha que se o mundo trabalhar pelo bem dos EUA, em efeito cascata, a própria economia americana poderá reaquecer o crescimento mundial, e por tabela, remover os pobres para a classe média, gerando consumo para os próprios estadunidenses. Complicado? Não para um liberal convicto.
Obama não vai resolver os seus problemas. Ele não pode reconstruir o Éden. Os americanos, aliás, só desenvolveram uma coisa em prol da unificação mundial: A Bomba atômica. Em alguns segundos, todos nós, dispersos por etnias, religiões e torcidas de futebol, poderíamos morrer juntos, abraçados, num fulminante ataque nuclear. Em 1988, os EUA já tinham arsenais o bastante para destruir todo o planeta por 47 vezes consecutivas. Quando chegou na presidência dos EUA, Obama descobriu que ele só era, de fato, o presidente. Quem manda nos EUA, e em decorrência nas demais terras do Império (por mais que isso soe clichê) são os donos das fábricas de armas e as petrolíferas. É como voltar ao inicio da modernidade: Os espanhóis e os portugueses não tinham como manter todos os territórios que dominavam. Para isso, faziam um truste de empresas através da coroa holandesa. Assim, era terceirizado o gerenciamento da produção e do comércio nas colônias. Deste mesmo modo, os EUA estão saqueando o Iraque: Mandaram para lá, um lobby de empresas estadunidenses e inglesas, como petrolíferas e empreiteiras. E claro, mercenários e ONG´s. O Rei Barack Obama, por sua vez, só carimba os relatórios.
Na década de 1960, surgiu nos EUA, a chamada Pop Art. A Arte “do consumo” era um movimento maravilhoso e debochado, mas com um lado sério. Afinal de contas, ela contestava justamente aquilo que mais nos irrita: O grande edifício da mídia e do consumo, a grande vertente de ícones facilmente consumíveis e de objetos, fabricados, comprados e jogados ao lixo, aos milhões. A Pop Art abriu em definitivo o caminho para a contemporaneidade na Arte. Entre os artistas desse movimento, o genial (e mega consumista) Andy Wahrol, que dizia que no futuro, qualquer um teria seus “15 minutos de fama”. Obama, assim como outro “qualquer um” tem lá esses 15 minutos, ainda que diários. Mas na prática, não é um político, nem alguém que tenha relevância política na conjuntura caótica e belicista americana. É, como dissemos, um Pop. É um fenômeno de vendas, em jornais e revistas, sites e blogs quaisquer. No Youtube e no Google, assim que eleito, seu nome era o mais citado. Chegou a dizer o Kossaco Arnaldo Jabor, fazendo uma analogia com a Coca Cola: “Beba Obama”.
Na contramão, Fidel Castro tem emitido comentários explosivos contra Obama. Aliás, Fidel analisa como ninguém os ícones Pop dos nossos dias, apesar da bola fora que deu em alegar que a gripe suína era mais uma armação Yankee. Foi Fidel que desmontou Bill Clinton antes da estagiaria Monica Levinsky; que disse que a Perestroika não daria certo; e que haveria uma polarização anti-USA na América latina após o neoliberalismo, justamente pelo agravamento da miséria. Quem sabe, nós também não transformamos Fidel em um ícone Pop? Como Esquerda, sempre achei a foto de Córdoba estampando Che de uma beleza inigualável. Fidel, é também, um ícone Pop: Ele existe naturalmente, mesmo sem mídia. Em Rio Grande, temos Angelina Gonçalves, mas foi um ícone perigoso para as famílias tradicionais da cidade. Sobre Obama, ele será Pop e terá seus 15 minutos, mas depois, como qualquer Kitsch que se preze, sumirá e seus vestígios serão assuntos para arqueólogos.

Fabiano da Costa, sábado, 30 de maio de 2009.

sábado, 9 de maio de 2009

Esperanças mil pelo Brasil



Eu escrevo direto no computador, mas gosto da caneta e do papel. Gosto do rabisco. Deves conhecer as minhas manias. Uma delas é, de fato, o alto de número de frases dispersas pelo caderno. E esse caderno fica repleto de anotações, datas, nomes, números de telefone, endereços, dados desconexos e frases dispersas, adornadas por desenhos e pinturas por todos os cantos. Eu gostaria de ser um ser humano melhor, mais sensível e sensato, mas essa é a qualidade que não queria perder em mim: produzir Arte por todo o tempo disponível e possível.
Esse país é muito rico. Por muito tempo, troquei cartas e mais cartas e mais cartas com pessoas de todos os cantos. Todas elas me contavam coisas incríveis sobre o Brasil que eu ainda não tinha visitado. Depois, visitei muitos lugares e uma imensidão de lugares ficou faltando. A maioria, sequer vou conhecer. O Brasil é um continente. Talvez de suseranos (há quem diga que houve o sistema Feudal por aqui), talvez de vassalos (há quem diga que está no nosso DNA), talvez de brasileiros mesmo. Na verdade, o Brasil é lindo por não ter identidade. A nossa antropofagia cultural é extremamente sedutora. O que se chama de identidade brasileira é na verdade, um acúmulo de várias facetas. Isso tudo, compilado pela inteligência de Getúlio Vargas. Foi o Estado Novo e a complicada década de 30 que nos deram o recado: Ou vocês se somam e se tornam uma nação ou não serão nada, perdendo os pedaços pelo tempo. Gilberto Freyre já havia dito tudo isso.
Essa euforia Global de sermos unidos é uma bela arma. Existem dois países e nisso está a grande mão do Governo Lula: O Brasil que come e o Brasil que tem fome. Não há como nega-los. A luta de classes é um sintomático de nossa colonização européia. Os portugueses deixaram bem claro que existiam duas categorias nesse país continental: Uma, construída por eles mesmos; a outra, um misto de negros, índios e brancos pobres. Nisso se desenvolveram nossa agricultura de exportação, nossa fuga de metais, nosso subdesenvolvimento econômico. Com o país repleto de escravos e índios marginalizados, além de brancos pobres famintos, não havia mercado consumidor. Os portugueses trataram de nos manter em estado letárgico na economia. Talvez o nosso marxismo soviético seja fruto de um atraso como um todo. Nossos liberais chegaram muito depois, nossa idéia inicial de democracia quase não veio. Num país tão rico de matéria prima, tão lindo (e eu não me acho ufanista), mas tão pobre e miserável, somente a teoria marxista pode vingar. Capitalismo num país descapitalizado? Precisamos da estatização da economia, do sistema financeiro, das reformas urbana e agrária. Temos de manter a propriedade individual e a privada mínima: Somente pequenos negócios, micro-micro empresas. O restante, negociado pelo Estado. Num país que produz 15% da comida do mundo, deixar que os latifundiários exportem o excedente, enquanto 1/3 da população não faz as três refeições diárias é uma sandice econômica, e um crime ético. A prova de nosso liberalismo burro e de nosso capitalismo entreguista está nesse dado: Enquanto a Vale do Rio Doce é a maior empresa de minérios do mundo e o Itaú Bamerindus está entre os 20 maiores bancos do planeta, nossa descentralização de renda é a 3ª pior, junto a países subdesenvolvidos do continente africano. Contra fatos não há argumentos.
Já dizia Oswald de Andrade: Há muito sol por aí, por todos os cantos. Que dúvidas restam que podemos decretar nossa independência econômica? Estamos sim, atados ao FMI, ao mercado internacional. Mas isso não é impossível de ser feito. Vai nos dar muito trabalho. A Direita brasileira vai rezar por uma quebradeira total no país. Mas não há outra saída. Nossos usineiros, banqueiros e latifundiários são uma prova do sistema ultrapassado que temos, até para o padrão de desenvolvimento capitalista. Até os liberais que clamam por uma democracia de liberdades individuais não toleraram o senado dado à Sarney e a Collor. Nenhuma democracia madura pode tolerar que Ernesto Dornelles, Jarbas Passarinho e Delfin Netto ainda sejam eleitos e reeleitos. Não há explicação lógica para a união entre PT e PP no congresso, para os ministérios dados ao PMDB, para a privatização dos aeroportos em SP. Na verdade não há lógica alguma em nada disso. Habermas estaria possuído de raiva com toda essa política enfadonha. Um senado que deixa sua ética ser respondida por um ex-presidente como Fernando Collor, não está nos levando a sério.
Nós não precisaríamos de nada disso: Jorge Amado, Rubem Valentin, Décio Freitas, Caio Fernando Abreu, Jards Macalé. Temos tudo isso por aqui. Que falta faz a neve? Agüentar a Xuxa promovendo o Helloween é de uma decrepitude sem igual. Agüenta-la como rainha dos baixinhos não tem uma explicação viável. O ministério da Saúde adverte: Xuxa faz mal para o cérebro e para o estômago do seu filho. Ainda bem que coisas como ela, Eliana e Angélica estão mais tempo fora do que no ar.
Só nos resta escutar o novo disco do TSOL: Nada mais californiano. Nossa doce antropofagia cultural. Quem de nós resiste àquela bateria e aqueles climas crus das noites dos anos 80 e 90? Quem sabe, num dia muito quente, uma Coca. Isso não mata, mas também não deve ser hábito. Qualquer pessoa ponderada pode beber uma Coca vez em quando. Talvez um dia eu te escreva para mandar boas novas e dizer que continua calor por aqui. E aí? Sempre neva e é sempre véspera de Natal? Aqui nós suamos e desfrutamos do buraco na camada de ozônio – Quem sabe, com as ressalvas do Século 21, não é esse o sol que tanto nos falava Oswald de Andrade.

Fabiano da Costa, 7 de março de 2009.

Lula e os brancos de olhos azuis.



Em meio a crise mundial e ao quebra-quebra dos banqueiros de Wall Street, Lula não se conteve e disse o que nós, latino-americanos “sem dinheiro no banco e sem parentes importantes”, pensam e confabulam na padaria: A crise foi gerada pelos brancos de olhos azuis. Os brancos de olhos azuis genuínos, não se importaram: Estão sossegados, escondendo o que ganharam na especulação financeira. Os nossos “brancos de olhos azuis”, por outro lado, geraram uma cruzada anti-racial. Os da Rede Globo por exemplo, chegaram a ponto de localizar dois funcionários negros entre os grandes bancos norte-americanos. Acusaram Lula de racismo, de preconceito, de tocar num assunto tão pesado, ocupando uma posição tão sensível. Sim, os brancos da Rede Globo que adoram um negro na novela, mas sempre transitando entre o servir cafezinho e ser a amiga conselheira da Vera Fisher se ofenderam. Democracia racial Global.
Em Wall Street, os brancos de olhos azuis não se ofenderam, por que para eles isso é a profissão de fé do mercado. Sua crença no Destino Manifesto, calcada em Weber e sua ética protestante no espírito do Capitalismo, são tão redundantes que discutir democracia racial é perda de tempo (e de dinheiro). Os imigrantes ingleses radicados nos EUA nunca pensaram em democracia racial e sim, em manter os negros nas lavouras de algodão, e os índios, abaixo da terra. Em 1861, Abraham Lincoln deixou claro que o desenvolvimento e o progresso dos EUA não estavam, obrigatoriamente, atados a causa abolicionista. O presidente Abe nunca pensou na abolição como justiça, mas sim, como enfraquecimento nevrálgico dos produtores do Sul, já que perdiam sua mão de obra barata. Lincoln é tido por brancos de olhos azuis e por negros dos EUA como um apaziguador, não como militante do abolicionismo.
Nenhum de nós nunca encontrou um banqueiro de Wall Street, mas sabe perfeitamente, que nenhum deles é negro, índio, xicano, ou que é uma mulher negra. Esses conceitos de radicalidade estão muito claros. O moralismo da Rede Globo tenta disfarçar uma obviedade que é o alto teor de preconceito na economia. Por um lado, os países colonizados da África, Ásia e América, com populações de “brancos puros” bastante restritas, se mantêm periféricos e sub-desenvolvidos. Por outro, nos EUA, a população de negros é enorme, mas ocupando cargos subalternos. No Brasil, os brancos pobres, juntamente com indígenas e negros, foram excluídos do desenvolvimento econômico, a ponto dos 5% mais ricos do país (brancos!) deterem consigo, metade da renda nacional. Não há dúvida, de que a afirmação de Lula é verdadeira. Popular, por um lado, científica por outro, mas verdadeira.
Não é incomum se enxergar o “normal” como homem branco e heterossexual. É um pouco do American Way of life. Também não é estranho, adotar a visão ingênua de que os anjos são sim, brancos e com cabelos cacheados (fruto do paganismo Greco-romano e do Renascentismo). Tudo isso, é um retrato do racismo cultural que nos move, mesmo que não saibamos e não notemos, e mesmo que as vezes, não tenhamos sequer consciência disso. A beleza dos olhos azuis e verde é encantadora e não há nada demais nisso, mas deve-se questionar por que os símbolos de beleza são sempre europeus. Não há referencial de beleza indígena ou negróide. A própria história da Arte é a história da Arte européia e dos seus juízos de valor. Era dessa forma em 1540, e funciona assim em 2009. Lula, portanto, faz a defesa da sua classe, o que é normal e corriqueiro em situações limítrofes. O próprio Pefelista Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo declarou à Carta Capital, em novembro de 2007: Somos fruto da mesquinhez da nossa elite branca. Seja no Brasil, ou nos EUA, o racismo é evidente. No Brasil, entretanto, a Globo já achou a sua solução: Ficar em silêncio até que o passado se esvaia e esqueçamos de nos olhar no espelho.

Fabiano da Costa, 1º de abril de 2009.