terça-feira, 4 de agosto de 2009

Freire versus canalhas ideológicos: A batalha continua.


Paulo Freire alegava que “educar é um gesto de amor”, por que visa, antes de tudo, libertar um indivíduo da ignorância. Nesse sentido, ignorante é “aquele ou quem ignora algo”. Portanto, num conceito amplo, a alienação de Freire é a que não permite ao indivíduo compreender o mundo, justamente impedindo-o de transformá-lo. Paulo Freire alegava que qualquer um pode ser professor, já que o diferencial é justamente ser “educador”. O que é então ser “educador”? Alguém, que segundo Freire, se entrega na função de assumir erros, escutar o aluno como indivíduo, e propor um ato de transformação, com o “aprendizado mútuo” entre professor e aluno. Amém, Freire.
Perseguido politicamente no fim dos anos 60, Freire desenvolveu um método educacional simples, porém eficaz e revolucionário. Este método tinha a tônica de ser “radical”, por que ser radical na concepção freireana, é ir “na raiz do problema”. Portanto, o método era antes de tudo um formador de opinião, um transformador social. Assim, nesse objetivo, a construção democrática de Freire era a emancipação política. No método Paulo Freire, um aluno não aprende a escrever “Vaca”. Ele assimila signos, imagens, e entende o que é uma vaca, compreendendo a função desse animal numa subsistência, por exemplo. Freire conseguiu, por exemplo, dignificar as ciências exatas com ênfase humana: Ao ensinar matemática, Freire dizia que o importante não era capacitar o aluno a resolver equações, mas sim, usar os números e a razão para explicar o preço do pão. Como se vê, não à toa, Freire foi perseguido pelo regime Médici (1969-1974), quando o então ministro da educação era Jarbas Passarinho (hoje, no PP). Passarinho alegava que os métodos de Freire eram “doutrinação comunista”, e o chamou publicamente de “doutrinador ideológico”. Como se vê, os autoritários nascem a toda hora, mas não são nem mesmo criativos: Se repetem a todo o momento, na tentativa de manter o “estabilishment” da cultura dominante.
Antes de tudo, Freire foi um pensador político. O conceito de democracia na obra de Freire é veementemente lembrado. Exemplo disso está em “Pedagogia e conflito” (1981). Nessa obra, fomentada entre os diálogos entre Freire e Moacir Gadotti, o autor lembra que a marca dos regimes totalitários “é apagar o passado”, e fazer crer que a História não existe antes deles. Não a toa, Freire foi (e é) vítima dos verdadeiros “canalhas ideológicos” que querem apagar sua trajetória. Ao ser perseguido pela ditadura durante seu pior momento (quando Médici chegou a legitimar o estuprador Sérgio Fleury no DOI-CODI), Freire partiu para o interior do Brasil, onde desenvolveu seu método em populações analfabetas. Os resultados foram tão positivos, que lhe valeram admiração a nível mundial, e a perseguição do governo brasileiro (que vale lembrar, acusava Freire de “agente comunista”, enquanto permitia, a tortura nos cárceres da ditadura). É claro que os canalhas ideológicos preferem criticar Freire e silenciar sobre Médici, Passarinho ou Fleury. Com quem eles mais se assemelham ideologicamente?
Ao lançar “Pedagogia do oprimido” e “Pedagogia da libertação”, Paulo Freire dá um salto significativo na concepção do seu método. O professor se torna educador ao construir com o educando, um processo de emancipação. Não há espaço para “depositar conhecimento” (a “educação bancária”), por que este é antes de tudo, construído. O professor não é super-herói, não é vilão, ele é aliado nesse projeto. O método pode sofrer críticas, a partir do momento que o discurso de libertação pode ser usado por qualquer um, mas Freire lembra que além de gesto de amor, educar é um gesto de caráter, ética e princípios (o que poucos têm). O educador não ensina por ensinar, não quer formar alguém para o mercado de trabalho ou mesmo, plantar “mais eucaliptos em vez de jequitibás” como diz Rubem Alves, mas sim, dar uma chance de que alguém enxergue o mundo e se proponha a transformá-lo. Freire reconhecia o condicionante, mas negava o determinante social. As condições de miséria e alienação condicionavam alguém a escravidão, mas não determinavam, a ponto de estar no educador e no educando a chave de subverter esse processo e corromper a cultura dominante (também escreveu sobre o confronto mídia alternativa versus Grande mídia). Freire, antes de tudo, acreditava que “o caminho se faz caminhando” (esse livro é um reflexo de sua influência cristã), e que a perseverança seria fundamental. Quanto aos canalhas ideológicos? Alguns se apagaram com o fim da ditadura, outros, por aí, preferem “inventar uma mentira aos alunos para fingir que sabem a matéria”. É por isso, que Freire é criticado por eles. Por isso não entendem o sentido de educar na ótica freireana.

Fabiano da Costa, 22 de julho de 2009.

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