sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Nau e as caravelas.

Em 1498, os portugueses chegaram a foz do Rio Amazonas. A idéia deles, sempre foi a de expandir o mercado e os entrepostos de comércio da Coroa portuguesa. Não havia mal nenhum em conquistar novos espaços, levando a “cristandade” consigo e explorando o solo ao máximo. Se os entusiastas do progresso da modernidade alegam que sem os portugueses não teríamos o feijão e nem a Cana de açúcar (esse símbolo incontestável da nossa brasilidade), eu por minha vez, digo que teríamos mais alguns milhões de índios, falaríamos outro idioma (entre o espanhol e o Tupi) e estaríamos num outro estágio do nosso capitalismo. Isso por que os portugueses nos engessaram. Não permitiram o desenvolvimento de um mercado consumidor, por que não nos permitiam ter consumidores. A grande massa de escravos não tinha poder aquisitivo. Não tínhamos indústria, comprando os manufaturados primitivos da metrópole, e enviando a matéria prima. Há quem diga, que os lusos desenvolveram o capitalismo arcaico por aqui: Retiravam a matéria prima, devolvendo os produtos altamente taxados, já manufaturados. No campo, em volta das capitanias e das sesmarias, se desenvolveram os mini-feudos, que Décio Freitas adorava questionar. Se o nosso senhor feudal não era livre da Coroa, por outro lado, fazia leis próprias e castigava impunemente os escravos e os seus servos, brancos pobres e de tão livres, desgarrados até pela lei. Eram uma presa, na mão dos senhores, ou da inquisição brasileira.
1531: Aportaram os primeiros escravos domésticos. Com os indígenas iniciam a saga do operariado brasileiro. Sem o conceito exportado pelos lusos, não teríamos as empregadas domésticas, que a meu ver, são a maior prova da colonização da Casa Grande. Uma empregada doméstica, na ótica do capital, corresponde a quem deve desenvolver atividades secundárias (braçais) enquanto seu senhor se dedica a atividades intelectuais. Não à toa, em Cuba, foram proibidas por Fidel. Ninguém pode tolerar a idéia de que é sadio sentar a mesa e pagar alguém para um trabalho braçal, degradante, humilhante. O que torna essa função humilhante, não é o trabalho desenvolvido, mas como isso se impõe. É uma pena que a classe média tenha se habituado a isso. Como disse Márcia Goldschimidt (grande referencia intelectual dos programas da tarde), uma empregada tem de se aprimorar em lavar e passar e melhorar o seu trabalho como um todo, e não investir em inglês e informática. Afinal de contas, a essência de nosso desenvolvimento capitalista, é a concorrência, e uma empregada deve estar preparada para atender melhor o seu senhor.
Hoje, o Brasil é a nau mais desenvolvida da América Latina. Tem um parque industrial com níveis tecnológicos de primeiro mundo. Por outro lado, mais da metade da população nem sequer conhece as caravelas que traziam os degredados a serem servos de sua alteza, mas sim a realidade do Navio negreiro. Até 2004, 50% dos brasileiros não faziam as três refeições mínimas diárias. Portanto, são o lúmen-proletariado a que se referia Marx, prontos para encararem funções de altíssima capacidade, mas por um salário abaixo do mercado. Nessa massa, estão os nossos metalúrgicos, que ganham 3 vezes menos que os irmãos europeus. É o nosso capitalismo: voraz e sem capital. Não há nenhum liberal que explique isso. Só o tucano. Ele se baseia em Keynes, sem lembrar que John Keynes pensava no liberalismo como fonte de riqueza geral e com certa descentralização, pois o capital seria repartido, ainda que desigualmente, mas dando o mínimo de conforto ao empregado, gerando poder de consumo à classe média. Entre Keynes e os tucanos, existiu Delfim Netto. Delfim se propôs a construir um modelo híbrido, com estatais sustentadas por empréstimos estrangeiros. Mais estatais a capital estrangeiro e uma economia privada com os banqueiros cobrando juros altíssimos da dívida brasileira. Ele e Roberto Campos desenvolveram isso com maestria. Estudaram anos a finco para planejar algo que até um cego enxerga estar errado. Afinal, investir em dívida social por tabela, no déficit das contas públicas, é até para os estatizantes, um erro grosseiro. O que me faz pensar em tudo isso, é que nossa Nau não tem motores e nem as velas portuguesas, e nem a velocidade dos navios negreiros. Estamos sim, em um veleiro, perdidos em alto mar e sempre a mercê dos tubarões da economia mundial, por uma série de planos furados, projetos falidos e uma repetição de erros históricos. Ou isso, ou batemos num iceberg: A fria em que os tucanos nos meteram por 8 anos.

Fabiano da Costa, 2 de junho de 2009.

2 comentários:

Anônimo disse...

Há algo que ainda não percebi nestes constantes ataques de Brazileiros a Portugal! Preferiam ter sido descobertos por espanhois? Porquê? Preferiam ser peruanos,colombianos,mexicanos, Paraguaios,etc,etc, todos foram explorados e descobertos por espanhois? O Brazil é o unico paìs da américa latina que é mágico, belo, original e atraente para qualquer europeu! E não tenham ilusões, nenhum paìs fez melhor que os portugueses no hemisfério sul. A não ser que fizessemos um Estado exclusivo para brancos, como os ingleses na Africa do Sul..e vejam como é aquilo agora! Aquilo que Portugal deu ao mundo foi Humanismo,Universalidade e respeito por todos! Se o Brazil ficasse independente com 1 guerra, saberiam apartir de quando a responsabilidade do que é hoje o Brazil há muito que é exclusiva dos Brasileiros! Portugal hoje é dos melhores locais do mundo para viver, não confundam com os tempos atrasados da ditadura! Esse senhor refere-se aos Portugueses dos estractos mais baixos de Portugal e que mesmo assim foram trabalhar honestamente para o Brasil. Portugal está cheio de milhares de prostitutas e agora criminosos brasileiros, é assim que querem que generalizemos o povo brasileiro? Força Brazil, mas com coragem e inteligência!

Lidio Lima Jr disse...

Concordo com o "portuga" ai de cima, temos que para de ficar choramingando e dizendoque portugal só nos "fu..". Se os americanos tivessem ficado choramingando quanto as taxas que eram cobradas pela Inglaterra e não fizessem nada, com nós não fizemos estariam na "m" como nós ou pior. Temos que aprender a para de culpar a Europa por nosso sub-desinvolvimento. O Brasil na década de 60 era equiparavel a Coreia do Sul, em desenvolvimento economico, agora ela está bem melhor que nós. Por que? Culpa dos portugueses? Não, culpa nossa. Claro que não se pode negar a contribuição portuguesa para o nosso atraso, porem eles fizeram tanto mau quanto os espanhois no resto da america lat(r)ina.