quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Travas na língua.

Roberto Irineu Marinho nos adverte: Não há adianta haver censura, “o bom jornalismo vencerá”. Parece mentira, mas Globo e Folha de São Paulo lutam pela democracia. A deles é claro. Esse jornalismo direitista e sem escrúpulos, é a prova cabal de que a discussão acerca da liberdade de expressão é delicada. É fundamental haver liberdade de expressão. Isso é inegável. Não somente pelo amadurecimento da democracia, mas também pela manutenção progressiva das liberdades individuais. O direito a informação é inalienável. Marx o defende em “A Liberdade de expressão”, como parte do direito do indivíduo de se informar. O problema reside em quem fabrica uma notícia, e o que faz com ela. Quem tem um jornal ou uma emissora de TV, não só notícia como quer um fato, mas passa a fabricar frases alheias, situações e acontecimentos.
Jaime Sirotsky é bonzinho. Segundo ele, não pode haver ligação entre a política e os meios de comunicação. E quem disse isso, foi patrão de dois governadores gaúchos, os neoliberais Antônio Britto e Yeda Crusius. Jaime, na guerra da Globo contra a Record, no dia 18/8, deu seu palpite: “Misturar religião, política e comunicação é perigoso”. Contra os bispos da Universal, surge outra opção: Jogar-se à democracia do Grupo RBS, que manda e desmanda no RS. Se não creio em Edir Macedo, logo me entrego à Ana Amélia Lemos. O que soa como brincadeira, é na verdade uma desgraça. A Universal é detentora de inúmeros meios de comunicação. Contra estes evangélicos fundamentalistas, os filhos da ditadura: Globo, Editora Abril, O Estado de São Paulo. Não é mera brincadeira se alguém disser que a população está encurralada.
Roberto Civita, da Editora Abril, vai mais longe: No ano passado, criticou a proibição de veicular para crianças, anúncios de guloseimas em geral. Civita, alegou que “o consumidor brasileiro já está amadurecido o bastante para saber o que consome”. Uma criança de 7 anos, por exemplo, já pode adquirir bens de consumo e duráveis, como escolher conscientemente se quer um Hamburger ou uma berinjela. Civita, como se vê, entende mais de crianças que Piaget e Vigotsky. Este tipo de mídia sem escrúpulos, é a mesma que fomenta gente como Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi. Mainardi simplesmente não denota fatos, ele os cria, faz interpretações doentias, vê conchavos balbuciantes, atos de corrupção entre os seus adversários. E é uma máquina de insultos. Por outro lado, é menos terrível que a usina de denúncias de Reinaldo Azevedo. Azevedo tem um blog. Um blog tão independente, que é hospedado pela Veja!, a revista de maior circulação no país. Azevedo não critica os abusos de José Serra, mas sempre tem fontes dentro do Planalto que lhe garantem informações quentes: Foi ele que inventou o tema “Petralha”, mistura de Petista com metralha. Esquece, é claro, que o Governo FHC foi recordista de denúncias de corrupção. Azevedo não tem boa memória. E assim como Mainardi, é isento. Faz tudo isso pelo amor a camiseta, pela ética pública em denunciar parasitas do erário público. Além disso, Papai Noel existe.
A imprensa brasileira é uma piada de mau-gosto. Não se pode entretanto, nega-la. Talvez Lula, cobrado pela The Economist por manter relações amistosas com Chavez passe a agir como ele: Fechando jornais, tirando do ar a Globo dos Venezuelanos. Se a mídia não se contenta com o espaço que tem e quer logo o poder, a briga é política, e aí age o Estado que representa o acesso democrático à comunicação. Talvez Jaime Sirotsky esteja certo: É melhor não misturar política e comunicação. Cada um no seu espaço. Bom para eles, melhor para a população.

Fabiano da Costa, 18 de agosto de 2009.

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