terça-feira, 13 de abril de 2010

Governo Lula: O formol dos desatinados.


Em 1999, sob impacto do neoliberalismo, publiquei uma carta aberta num fanzine de Mococa, São Paulo, onde propunha uma frente unida de Esquerda, para barrar o desatino dos neoliberais brasileiros. Neste texto, onde hoje me debruço sobre várias críticas feitas por mim mesmo, desenhei a proposta de que deveríamos unir a Esquerda brasileira (Partidos, círculos anarquistas, militantes independentes, Movimentos sociais, punks e demais) em torno da candidatura Lula. Como se sabe, passados oito anos de Governo Lula e com aceitação de 81,4% da população, me parece que tomei a atitude correta, na qual conseguimos salvar as universidades federais, o SUS e avançar em aspectos sociais. Para os desatinados, sejam eles tucanos, liberais ou simplesmente opositores da direita, o Governo Lula tem dado provas de que não é preciso ter curso superior para iniciar um processo de transformação e para melhor neste país. É preciso ter vergonha na cara, honestidade e principalmente compromisso com a imensa camada humilde.
Mas vamos aos fatos: Qual era a realidade de 1999, no qual baseei o alicerce deste texto, e qual a atual? A simples analise de conjuntura é muito objetiva. Em 1999, o MEC aceitava as imposições do FMI para quebra das universidades, seguindo as orientações dos grandes capitalistas. Para o FMI, o Governo brasileiro deveria poupar gastos em educação e saúde e investir em crédito, para que os grandes capitalistas gerassem mais renda. Tanto que Paulo Renato, atual secretário de educação do Estado de SP e à época, ministro da educação, procurou investir na educação para o mercado, fomentando os cursos de tecnologia, e esquecendo os de formação humana. Os desatinados que hoje criticam Lula e freqüentam uma universidade federal deveriam lembrar disso: Não haveria universidade federal nesse país, se tivéssemos seguido o caminho neoliberal. Não alteramos a matriz econômica (capitalista), mas desenvolvemos em nível de país, uma política de Estado presente e que investe (com suas contradições) nas universidades federais. O grande “estadista” defendido por alguns, que foi Fernando Henrique Cardoso, trabalhou para quebrar as federais, investindo na “modernização” das IFES, mas desvalorizando os trabalhadores em educação (arrocho, falta de concursos). Não houve em 8 anos de tucanato nenhum investimento considerável nas universidades federais, nem apresentou-se um plano de reestruturação. O que dizem os desatinados?
Não somente isso deve ser lembrado. Em 1999, o Brasil chegou a 18% de desemprego. Como fiz parte dessa imensa massa de pessoas que tem como melhor esporte o hábito de se sentirem “inúteis”, posso falar com autoridade sobre isso. Há desemprego ainda, e essa taxa é alta: 8% da população economicamente ativa está sem ocupação. Mas vamos comparar com os dados de 11 anos atrás, e encarar que estes dados atuais comprometem duas crises: A da Rússia (1998) e a da dos EUA (2008), considerada a mais grave da história do capitalismo pós-1929. Deixar alguém passar fome e frio, como sempre friso, é crime hediondo; construir situações para que as pessoas sejam expostas a isso (o desemprego), é ser cúmplice disso, e os tucanos o fizeram. Serra, que agora representa o discurso desatinado, neoliberal, capitalista e altamente polarizado na direita, foi membro desse esquema. Como fui vítima dessa política, posso argumentar com plena razão, que muitos dos detratores de Lula, nada conhecem de economia, muito menos de emprego e nada sobre dar condições de sustento e dignidade. O Governo Lula implementou novas matrizes energéticas que geram emprego no nordeste, fomentou o “Primeiro emprego” para jovens, fez frentes de trabalho através do PAC, potencializou as universidades como geradoras de renda, e ainda, trouxe o Pólo Naval para Rio Grande (no qual eu não trabalho, mas significou muito para milhares de pessoas). O Fome Zero, por exemplo, é considerado pela ONU, o maior programa de segurança alimentar do mundo, e ainda organiza políticas de sustento, trabalho e geração de renda. Os desatinados falam da pouca instrução de Lula, mas não é preciso ter curso superior para reconhecer a gravidade de alguém passar fome. Aliás, como temos provas na FURG, em especial, isso sugere o contrário.
Enquanto se aproximam as eleições, fica claro que os estudantes de História devem fazer uma séria discussão acerca deste processo. Permitir a volta dos tucanos, comandados por Serra e financiados pelas multinacionais do petróleo, pelos tubarões da educação e pelos usineiros e latifundiários, é mais do que desatenção, é comprometer o futuro da educação pública neste país. Antes que os desatinados passem a criticar Lula, vejamos a quem ele representa perigo: A Classe média branca, que rejeita as cotas e a diversidade. Se analisarmos que Lula faz um governo progressista, nacional-desenvolvimentista e não polarizado à Esquerda, veremos que essa burguesia branca, hegemônica nas universidades federais é mais conservadora do que pensávamos, por que reage à qualquer modificação. Não lhes bastam assim, as aparências modernosas, e os discursos plenamente atualizados, existencialistas, relativistas. São conservadores e agem assim quando a predominância histórica dentro das IFES está ameaçada. Por isso, até o governo de centro realizado por Lula é tão perigoso. Enquanto para nós Lula deve radicalizar-se, para os conservadores, um presidente metalúrgico já é uma ameaça. Assim sendo, é prudente que construamos mais uma vez, apesar das diferenças, uma frente que eleja Dilma Roussef, como estratégia plena de manter-se próximo à Esquerda. Ou isso, ou o fim gradual do ensino superior, publico, gratuito e de qualidade neste país.

Fabiano, domingo, 28 de março de 2010.