terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os 15 anos de plano Real: Ousadia tucana ou processo inevitável da História?


No dia 1º de julho de 1994, entrou em vigor o Plano Real. Na época, o então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso, declarou que “era mais uma tentativa de romper o ciclo da inflação no Brasil”, em alta fantasmagórica desde o fim dos anos 70. O sucesso obtido em relação ao poder aquisitivo da Classe média é inegável. No fim da década de 90, os indicadores econômicos mostravam que a Classe média estava viajando mais, comendo melhor e que era responsável pela renovação de cerca de 50% da frota nacional de automóveis. Os mesmos indicadores, entretanto, também revelaram o que já sabíamos: Aumentou a centralização de renda no país, mesmo tendo multiplicado o investimento de capital das multinacionais e tendo melhorado substancialmente a renda da classe média alta. Ou seja: É puro equívoco alegar que a miséria é falta de capital. Indicadores mostram isso. O Plano Real teve alguns objetivos alcançados, mas para quem viveu isso atentamente (eu sou um deles), algumas contradições ficaram claras.
Sem dúvida, o Plano real alcançou a “seguridade econômica”. Isso beneficiou não somente a classe média (num conceito amplo), mas também a classe baixa, já que ela pôde poupar e aumentar o consumo de bens duráveis. Mas o Real não se resumiu a isso. A dolarização da economia (que no desespero inflacionário parecia a melhor saída), quebrou as exportações brasileiras. O país, que vivia substancialmente de exportar 62% do seu produto agrário para os EUA, ficou engessado com a baixa do dólar (até 1995, o dólar valia 0,96 reais). Em Rio Grande, cidade pesqueira, o efeito foi dramático: das 28 empresas ligadas à pesca, somente 10 sobreviveram. Mesmo com o aumento de capital no país (o investimento estrangeiro aumentou mais de 5 vezes entre 1990 e 1994), o desemprego chegou aos (inacreditáveis) 18%. Ou seja: De cada 100 brasileiros na idade economicamente ativa, 18 não tinham emprego. Mais um prova de que não é o aumento do capital que elimina a miséria. Hoje, em pleno Governo Lula, essa média é de 9%, e mesmo assim é alta.
Em 1998, a economia viveu a ressaca do Plano Real. O consumo que explodiu em 1994, fez do país um dos maiores consumidores de frango do mundo. Aliás, esse foi o cardápio usado como propaganda nas campanhas de FHC em 1994 e 1998. Com a crise dos tigres asiáticos (que tinham as maiores concentrações de capital estrangeiro do mundo e quebraram), o Governo brasileiro permitiu o câmbio flutuante, para coibir a fuga de capitais e aumentar as áreas de investimento. O que se tornou bom para segurar as exportações, por outro lado permitiu o aumento vertiginoso do dólar e em decorrência, dos preços. É o sinal maior do Plano Real: No fim da década, em meio a fiasqueira neo-liberal em toda a América latina (que hoje só é mantida na Colômbia e no Peru), dos 50% mais pobres do Brasil, 30% foram transformados em miseráveis, mesmo cercados pelo acúmulo de Capital estrangeiro! O que parece absurdo, se torna aceitável: A manutenção do Capital de giro, entretanto não proíbe que as empresas “modernizem” seus parques industriais e visem minimizar seus gastos, substituindo operários por máquinas. Exemplo disso está na indústria automobilística: Ela aumenta gradativamente seus investimentos em novas linhas de montagem, mas não equipara esse número com o de pessoas contratadas. No Campo, o agro-business também se modernizou: Para cada colheitadeira adquirida, cerca de 80 cortadores de cana perderam o emprego. Importante lembrar que a tática neo-liberal para garantir o investimento foi fantástica: FHC deu incentivos, concedeu subsídios, mas em contraposição, não exigiu das empresas nenhuma garantia empregatícia. Foi a festa dos estrangeiros, ao mesmo tempo em que a crise se agravava.
No inicio da década (2002), o mito do Plano Real (diferente entre quem viveu e quem o idealizou) caiu por terra. Com a situação financeira agravada por uma crise de âmbito mundial, os neoliberais foram tirados do poder. Em contraposição, Lula investiu na teoria de “Socialismo de mercado”, quando existem dois Estados: Um da iniciativa privada, que fatura cada vez mais e pode gerar empregos (?), e outro, do Estado, que mantêm fortes projetos na área social (beneficiando a todos, inclusive os que defendem a iniciativa privada). Em miúdos, o Plano Real foi um movimento de ação mundial, no que concerne, naquele momento, um combate contra a inflação – para isso, permitiu o investimento de capital estrangeiro, forçando a livre iniciativa e a competição. Por outro, ficou claro que seu melhor reflexo (o de conter a inflação por meio da competição de preços no mercado), também aumentou o consumo, e privilegiou os monopólios privados em alguns setores. Os danos (e alguns benefícios) à longo prazo deverão se explicar. Por enquanto, o que se pode alegar, é que existem maneiras de conter a inflação e aumentar o crédito, sem para isso, gerar desemprego e aumentar a centralização de renda. A planificação, com diversificação econômica é claro, seria a solução para essas contradições inerentes do Capitalismo, onde se tapa a cabeça, mas se esquece dos pés na outra extremidade.

Fabiano da Costa, 12 de julho de 2009.

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