terça-feira, 2 de junho de 2009

Obama sai do anonimato.


Isso é incrível, mas desde que Obama foi eleito, nunca escrevi uma linha sobre ele. Fui um dos poucos a resistir à essa tentação, à esse fenômeno pop, à esse astro reluzente da falida constelação que outrora iluminava a economia mundial. Barack Obama brilha na dimensão dos holofotes, mas como já disse aqui, tem a mesma funcionalidade de um discurso de Delfim Netto: nenhuma. Delfim é um grande economista, escreve e faz articulações ótimas entre historia e economia (como se não o fosse possível faze-lo), mas suas propostas não me atraem: É um Keynesiano piorado, que acha que os números salvam muitos milhões de pessoas, pelo sacrifício de alguns outros milhões. Obama é assim: Pop. Ele acha que se o mundo trabalhar pelo bem dos EUA, em efeito cascata, a própria economia americana poderá reaquecer o crescimento mundial, e por tabela, remover os pobres para a classe média, gerando consumo para os próprios estadunidenses. Complicado? Não para um liberal convicto.
Obama não vai resolver os seus problemas. Ele não pode reconstruir o Éden. Os americanos, aliás, só desenvolveram uma coisa em prol da unificação mundial: A Bomba atômica. Em alguns segundos, todos nós, dispersos por etnias, religiões e torcidas de futebol, poderíamos morrer juntos, abraçados, num fulminante ataque nuclear. Em 1988, os EUA já tinham arsenais o bastante para destruir todo o planeta por 47 vezes consecutivas. Quando chegou na presidência dos EUA, Obama descobriu que ele só era, de fato, o presidente. Quem manda nos EUA, e em decorrência nas demais terras do Império (por mais que isso soe clichê) são os donos das fábricas de armas e as petrolíferas. É como voltar ao inicio da modernidade: Os espanhóis e os portugueses não tinham como manter todos os territórios que dominavam. Para isso, faziam um truste de empresas através da coroa holandesa. Assim, era terceirizado o gerenciamento da produção e do comércio nas colônias. Deste mesmo modo, os EUA estão saqueando o Iraque: Mandaram para lá, um lobby de empresas estadunidenses e inglesas, como petrolíferas e empreiteiras. E claro, mercenários e ONG´s. O Rei Barack Obama, por sua vez, só carimba os relatórios.
Na década de 1960, surgiu nos EUA, a chamada Pop Art. A Arte “do consumo” era um movimento maravilhoso e debochado, mas com um lado sério. Afinal de contas, ela contestava justamente aquilo que mais nos irrita: O grande edifício da mídia e do consumo, a grande vertente de ícones facilmente consumíveis e de objetos, fabricados, comprados e jogados ao lixo, aos milhões. A Pop Art abriu em definitivo o caminho para a contemporaneidade na Arte. Entre os artistas desse movimento, o genial (e mega consumista) Andy Wahrol, que dizia que no futuro, qualquer um teria seus “15 minutos de fama”. Obama, assim como outro “qualquer um” tem lá esses 15 minutos, ainda que diários. Mas na prática, não é um político, nem alguém que tenha relevância política na conjuntura caótica e belicista americana. É, como dissemos, um Pop. É um fenômeno de vendas, em jornais e revistas, sites e blogs quaisquer. No Youtube e no Google, assim que eleito, seu nome era o mais citado. Chegou a dizer o Kossaco Arnaldo Jabor, fazendo uma analogia com a Coca Cola: “Beba Obama”.
Na contramão, Fidel Castro tem emitido comentários explosivos contra Obama. Aliás, Fidel analisa como ninguém os ícones Pop dos nossos dias, apesar da bola fora que deu em alegar que a gripe suína era mais uma armação Yankee. Foi Fidel que desmontou Bill Clinton antes da estagiaria Monica Levinsky; que disse que a Perestroika não daria certo; e que haveria uma polarização anti-USA na América latina após o neoliberalismo, justamente pelo agravamento da miséria. Quem sabe, nós também não transformamos Fidel em um ícone Pop? Como Esquerda, sempre achei a foto de Córdoba estampando Che de uma beleza inigualável. Fidel, é também, um ícone Pop: Ele existe naturalmente, mesmo sem mídia. Em Rio Grande, temos Angelina Gonçalves, mas foi um ícone perigoso para as famílias tradicionais da cidade. Sobre Obama, ele será Pop e terá seus 15 minutos, mas depois, como qualquer Kitsch que se preze, sumirá e seus vestígios serão assuntos para arqueólogos.

Fabiano da Costa, sábado, 30 de maio de 2009.

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