segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

As coisas como elas são (ou nunca deveriam ter sido).

As vezes eu penso em dedicar uma música para cada pessoa em especial. Amigos, grandes amores, pessoas que me chamam a atenção, pessoas que tenho uma grande saudade. Na maioria das vezes, não dedico nada a ninguém, mas em outras, guardo comigo aquelas cantaroladas básicas para me lembrar de como foram bons os tempos passados. E não falo nada sobre isso para a pessoa. É uma boa maneira de fingir estar sendo vazio por todo o tempo.
Eu fui estudar Arte por que não vi outro caminho na minha vida. Ou eu fazia Artes, ou fazia História. Acabei indo cursar os dois, por que sem um dos dois, me sentiria frustrado (não que fazer os dois não me permita sentir frustração). Quando desenho ou pinto, penso em História, mas se estou lendo sobre História, preciso de uma pausa para um café e um bloco de desenhos (quem me conhece, sabe que isso é um vício que tenho). Não sou político, por que penso como artista todo o tempo. E como artista, eu deveria pensar menos sobre ciência, mas isso é uma incongruência minha. “Não exijam coerência de mim, pois sou um artista” dizia o Glauber Rocha.
Quando estou na política, não sou político. Ecoa-me o pensamento do Weber (sim, um liberal!), que dizia que o cientista procura a verdade, enquanto o político não está preocupado com isso. O político ultrapassa limites, não está preocupado com nada que não seja a perpetuação de seu pensamento sobra a facção inimiga. Talvez por isso, liberais e marxistas, como um todo, tenham perdido o rumo. Os liberais na defesa da democracia e dos valores individuais, os Marxistas, na intransigente defesa da vida e dos direitos dos oprimidos. Como Esquerdista, ainda acho que Marx é fundamental para entender o mundo, mas não posso negar que Weber conseguiu expressar bem o sentido da política como a conhecemos. Infelizmente.
Não acredito em verdade absoluta. Verdade inquestionável não existe. Essa fórmula é uma luva para a mão do totalitarismo, da burocracia e do corporativismo. Pode existir verdade de acordo com o acontecimento dos fatos, mas ela não pode ser inquestionável. Pessoas que não podem ser questionadas, são em sua maioria, protótipos de grandes ditadores. A diferença entre o Primeiro e o segundo grupo é justamente, a falta de uma máquina de guerra e do aparelho de um Estado opressor. A função do Estado é zelar por todos, dar a melhor educação, a melhor saúde, as condições básicas de vida, e depois, desaparecer. Esse conceito anarquista, e também marxista, é muito belo. Há espaço para todos. O problema reside em aceitar a diferença. Só somos iguais quando aceitamos a diferença de cada indivíduo, por mais que isso seja difícil.
É bom assinar tudo o que se escreve. Por dever e por direito. Só assumindo um pensamento passamos a ter identidade. Não sei bem como, podemos garantir identidade dentro de um espaço onde a mídia nos forma e deforma constantemente. Mas se há algo que possa ser uma premissa de liberdade é a livre expressão da idéia. A maioria das pessoas que fala sobre isso, infelizmente, não sabe o que é liberdade. Está nos chavões, nas mesmas e repetidas frases. Ou descamba para a libertinagem, que é o abuso e a destruição da própria liberdade. Durante muitos anos eu pensei sobre os limites da liberdade e tentei teorizar essa sensação, até que me foi Engels, ao dizer que a liberdade precisa ser entendida, pensada, teorizada como um todo, para ser vivida em sua plenitude, que teorizou cientificamente o que eu pensava. È mais ou menos isso. Ou isso. Nenhuma palavra, pode por fim, refletir a liberdade. Ela é ampla.
Não me importo com o que achem, mas deus existe. Talvez eu não possa o ver, mas possa senti-lo as vezes. É uma descoberta recente na minha vida, mas que aumentou a minha curiosidade cientifica, já que isso foge à ciência, e a ciência precisa se ampliar para entender o todo. Não me importo que uma pessoa ache isso uma mentira. Quando falei às pessoas que tinha visto um disco voador, estava bem consciente do que elas iam dizer. Um disco voador, a bem da verdade, é bem mais cientifico que a existência de deus, mas vale o exemplo. Ser um ufologista (sim, não um ufólogo, muito menos um ufólatra), não interfere na minha concepção marxista, na minha visão artística das coisas, nem mesmo na minha audição dos LPs do Alceu Valença (usando uma camiseta do Metallica).
As pessoas deveriam ter o direito de ter 5 vidas por semana. Seria mais justo, já que o tempo é interminável, sempre existiu e sempre vai existir, e a gente só tem, quando muito, 80 anos de vida (com muita sorte, é claro). A qualidade daria sentido à vida, já que quantitativamente ela é deficitária. Eu poderia optar por diversas coisas, ou por uma somente, quando estivesse cansado. Mas também poderia optar por começar tudo de novo quando me achasse perdido. Eu seria escritor, artista plástico, historiador, radialista, advogado, guerrilheiro comunista e barbudo, dono de um bar, morador de uma papelaria, freqüentador dos melhores cafés, e sei lá mais o que. E também, mesmo detestando a Igreja Católica, um daqueles “padres comunistas” (como diz o Lídio), com barba, cabelo comprido e metido nas lutas contra os latifundiários. Mas isso por um dia. O resto do tempo, eu ia querer ser outras coisas. E mesmo assim, na hora de morrer, meu lado artista ia dizer que faltou coisa. “Poderia ter feito mais”. Uma das cenas mais tristes que já vi, é a de Dalli (um gênio da pintura), em 1989, antes da morte, lamentando o fim de tudo, e com um tubo de soro no nariz dizendo que o mundo precisava dos gênios. É triste ver que algo está acabando. Talvez a gente só perceba quando está na 2ª metade, ou seja, a final. Antes disso, tudo é inicio e a gente se dá o direito de perder todo o tempo que acha que tem.

Fabiano, 24 de dezembro de 2008.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Resposta (ainda que tardia) à Janer Cristaldo.

O texto do jornalista Janer Cristaldo, publicado em 2002, e republicado recentemente no blog Philos porque quilo (www.philosporquequilo.blogspot.com) , é um atentado ao direito à informação. Extremamente tendencioso e por sua vez, carregado de preconceitos, o autor mescla propaganda política à uma sessão de desinformação e jornalismo viciado. É bem verdade, que ele tem seu direito inquestionável de se expressar, como também respeito o direito total do amigo Lídio Lima a corroborar com sua visão, mas achei producente fazer algumas observações necessárias ao caráter do escrito e de sua contextualização histórica. É de se perceber, que Cristaldo, autor de textos onde mostra equilíbrio nos julgamentos mais dificeis, se mostre tão parcial em seu julgamento como jornalista. E o melhor: Esta é a segunda resposta, já que a primeira, escrita durante uma hora foi deletada pelo Word num ato nada democrático!
Cristaldo trata do terrorismo como uma meta política e como uma causa da resistência e não como uma conseqüência natural da opressão. Não estranhamente, ele coloca no mesmo barco, as FARC-EP, Grupos islâmicos e João Amazonas, num incrível ato de descompasso histórico e desconhecimento da conjuntura mundial. Buenas: É preciso entender, entretanto, em que contexto Janer Cristaldo se dispôs a escrever “As FARC e o silêncio obsequioso”, e o que acontecia naquele período de 2002. Naquele ano, sob pressão de Washington, o Governo colombiano rompeu os acordos de paz firmados com as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular), que permitiam a existência da chamada “Zona desmilitarizada”. Portanto, até aquele momento, as FARC não eram um grupo marginal ou ilegal. Elas, assim como o ELN (Exército de Libertação Nacional), detinham 48% do território colombiano e haviam estruturado uma meta de Estado Paralelo, onde a economia, assim como a justiça, tentavam seguir preceitos comunistas. Quando dos atentados do 11 de setembro de 2001, o Governo de Washington, passou a desenvolver um plano anti-terror, onde aproveitou a histeria mundial para justificar a retomada de sua política intervencionista na América Latina (se alguém ainda lembra, os EUA alegaram que o Eixo do Mal estava situado também na fronteira entre Brasil e Paraguai!). A Histeria mundial acerca do termo “terrorismo” estava a tal ponto, que o autor aproveita para fazer uma comparação, no mínimo, duvidável:
Tentando chegar a uma definição aceita universalmente sobre o que seja terror, a ONU até hoje não chegou a nenhuma. Ao tentar uma definição, esbarra numa parede, os países muçulmanos. Se estes países não concordam sobre o que seja terrorismo, chegaram a um consenso sobre o que não é terrorismo: qualquer coisa que se inclua na luta palestina. Trocando em miúdos: um palestino que se enrola em bombas e se explode em meio a civis, velhos, mulheres e crianças, não pode ser definido como terrorista. Porque os árabes não querem.
Cristaldo, coloca como terrorista, um palestino que amarra uma bomba ao corpo e explode entre civis. Não é, evidentemente, normal faze-lo, mas o que é terror para o autor, já que não cita em momento algum, os bombardeios aéreos de Israel sobre a Palestina? Janer Cristaldo, esquece-se de alegar que os atentados, emitidos em uma nova onda desde a Segunda Intifada de 2000, estavam ligados a repressão severa imposta por Israel, que a se saber, é armado pelo EUA, apoiado pela ONU e pertence ao seleto grupo de Países como “Potência Nuclear”. O que pode parecer mais aterrorizante: Manifestantes com paus e pedras e que agredidos passam a usar bombas, ou uma potência nuclear que alveja orfanatos, creches e asilos? Claro que Cristaldo não fez essa pesagem. Também chama a atenção por que o autor cita os árabes: O impacto dos ocorridos na faixa de Gaza, não são em nada semelhantes às práticas das FARC. Ora, as FARC não são um grupo urbano, não se utilizam de atentados à bombas contra alvos civis e mesmo suas práticas mais duvidosas, como o seqüestro, tem como justificativa, os atos de desmando do Governo colombiano, que em nome da Luta contra o terror (O que a Colômbia tem a ver com isso???), passou a prender e manter sob guarda qualquer cidadão ligado ou suspeito de ligação às FARC. Ou seja: Além de quebrar os acordos para a manutenção da paz e que deram origem as “Zonas desmilitarizadas”, o Governo de Bogotá passou a perseguir qualquer cidadão, suspeito de ligação com as FARC ou com grupos terroristas islâmicos (Repito: O que a Colômbia tem a ver com isso???). Cristaldo, ainda assim, insiste em comparar os grupos colombianos e islâmicos, sendo que estão em situação geográfica, política e histórica totalmente dissonantes.
Para piorar, não faltava muito. O autor do texto, exibe o que para ele, seriam ligações entre as FARC e os grupos terroristas, com o PT, que naquele momento estava prestes a eleger Lula como presidente. Vale lembrar que o maior grupo armado colombiano dos anos 80 fora o M-19 (que em 1989 se tornou um partido político) e à época também não foram poucos os que tentavam liga-lo à Esquerda brasileira. Leia-se a pérola de Cristaldo à seguir:
Não bastassem as boas relações do governo gaúcho com a narcoguerrilha colombiana, em março passado, líderes petistas de Ribeirão Preto, ligados ao prefeito Antônio Palocci Filho, coordenador do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, anunciaram um comitê pró-Farc no município. Entre as funções do Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano e aos Movimentos de Libertação Nacional estariam colher assinaturas pró-guerrilha e defender as posições do grupo no Brasil.
Evidentemente, qualquer pessoa faz a correlação de fatos que quiser, e como quiser quando tem seus próprios interesses em manter uma “verdade política”. As relações políticas do então Governador do RS, Olívio Dutra, com as FARC, citadas por Cristaldo, eram bem claras: Um membro da Guerrilha esteve no RS para divulgar o que estava acontecendo em seu país, desde a implementação do “Plano Colômbia”, iniciada em 1997. Recebido como qualquer outro membro de delegação política, a mídia levou a exaustão tal fato. Em nenhum momento, Olívio Dutra, Miguel Rossetto (vive-governador na época) ou o Governo Gaúcho declararam apoio oficial às FARC, se limitando à pedir por paz no país vizinho. Da mesma forma que Olívio Dutra recebia um mensageiro das FARC-EP, o Governo de Fernando Henrique Cardoso hospedava membros dos Governos colombiano e norte-americano, e isso, em um clima de Guerra Civil instaurado na Colômbia.
Sobre os Comitês de Solidariedade ao Povo Colombiano e aos Movimentos de Libertação, eles não foram organizados pelo Partido dos Trabalhadores, ainda que fosse clara a intenção de Cristaldo de, em meio a uma eleição para Presidente, conectar às FARC ao PT. Eu mesmo, fiz parte de um Comitê de apoio às comunidades Zapatistas, entre 1996 e 1999. No ano de 1997, com o advento do Plano Colômbia, esse comitê passou a divulgar também, material da Crise colombiana. Em nenhum momento, nos três anos que recebi, editei, publiquei e repassei material desses comitês, vi qualquer alusão ao terrorismo. Nas correspondências emitidas por estas pessoas e ao qual eu divulguei para mais de 250 correspondentes, havia sempre um pedido: Que o Governo brasileiro, na pessoa de Fernando Henrique Cardoso, emitisse na ONU, um pedido de trégua tanto no México quanto na Colômbia, entendendo a licenciosidade desses governos para com os Grupos paramilitares que atormentavam as populações civis.
Pior do que tudo isso, é assistir como o autor se posiciona ao lado da política estadunidense (algo que ele próprio questiona), tentando definir quem são os terroristas e quem são os mocinhos, quem está com o bem, e quem está com o mal. Janer Cristaldo coloca as FARC-EP numa posição superestimada, ora como grupo terrorista de nível mundial, ora como uma espécie de instituição burocrática do crime organizado na Colômbia; Nem uma, nem outra: As FARC-EP não tem qualquer intervenção fora da Colômbia. Vale lembrar, o que Cristaldo faz questão de esquecer: Nas zonas ocupadas pelos “Narcoguerrilheiros”, o consumo de drogas foi zerado com a ocupação das FARC, sendo que os números cresceram novamente com a inserção do Exército. Não há alguma contradição aí??? Outra coisa: Por que Cristaldo esquece de citar entre os terroristas as forças paramilitares? Esses grupos atacam guerrilheiros, camponeses, usuários de drogas, militares do exército regular, pessoas comuns suspeitas de colaborar com as FARC. Enfim, eles sim geram o terror, e são tolerados pelo Governo de Bogotá, que está (e estava quando da escrita do texto), mais preocupado em velar os mortos do World Trade Center na luta anti-terror norte-americana, do que dar uma vida digna e mais confortável a seus cidadãos. É o máximo que a submissão pode chegar. Mas chegou.

Fabiano da Costa, 6 de dezembro de 2008.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Uma outra nau de insensatos?

(fotos do debate ocorrido no Campus Carreiros da FURG em 1° de outubro, com duas ausências: Carlinhos Pescador (PSOL, e Fábio Branco (PMDB), que só compareceu a 1 debate dentre os 5 promovidos durante a campanha. Na mesa: Candidatos Dirceu Lopes, da Frente Popular, Rubens Goldenberg, dos Democratas e Professor Philomena, do PV).




O resultado das eleições em Rio Grande, mesmo fruto de um processo “democrático” (sim entre aspas!), nos aponta para algumas especulações: Por uma perspectiva, é uma prova cabal do ostracismo político da cidade e da região sul do Estado, considerada por alguns, “o sertão gaúcho” (diante da miserabilidade da região mais pobre do RS). Por outra, é sabido que em qualquer província, o termo “progresso”, repetido exaustivas vezes pode parecer, por um momento, algo contundente, revelador de um novo momento (econômico); mesmo assim, geralmente as pessoas tendem a votar em quem traz os investimentos, e não em quem diz que “vai continuar tocando os mesmos”. Noutra perspectiva, o resultado agradou os dois lados: De um, os PeMeDebistas, comemorando a prolongação de seus já (longos) 12 anos de mandato, calcados numa dinastia que tem grande enlace popular; por outro, os Petistas, acreditando que a soma de 46.000 votos é o desgaste da Família Branco e por sua vez, o terreno frutífero para fomentar uma nova força para 2012, já que terá, na Frente Popular, 4 vereadores para o próximo mandato.
Os jornais da região não pouparam: O título de capa do “Jornal Agora” de Rio Grande, no dia 6 de outubro, disse tudo: “Deu branco!”. Sim, passaremos estes quatro anos em branco. No branco mesmo, que é a ausência de cores, de formas, de qualquer atividade. Já o diário Popular, de Pelotas, transpareceu serenamente que o resultado, aponta para um aparente desgaste do modelo apresentado pela mesma família no poder, diante do crescimento da oposição. Na Zero Hora e no Correio do Povo, ambos de Porto Alegre, as notas se resumiram a alegar mais uma vitória da (famigerada) Família Branco. Para nós, o resultado pode ser interpretado como um provincianismo maior do que imaginávamos na população local: Nem mesmo a vinda do Presidente Lula, há poucos dias do pleito, anunciando mais uma plataforma de petróleo, para “decorar” nosso Pólo naval, deu resultado. A “grande virada”, alardeada por alguns (como eu!) até horas antes do pleito não deu resultado, e se levarmos em conta que Rio Grande tem tão somente 137.534 eleitores (num universo de mais de 200.000 habitantes), para 5 candidatos, a diferença obtida por Fábio Branco, de 14.000 votos, fora enorme.
Diante do resultado, e levando em conta que o candidato vencedor só foi a um dos cinco debates promovidos (fotos do debate de 1º de outubro nesta postagem), e considerando que em 12 anos, seu grupo político não desenvolveu nada sustentável para a economia da região, tendo até 2005, essa cidade um dos maiores índices de desemprego do Estado, já podemos contextualizar algumas soluções imediatas: Uma delas é pedir asilo político em algum país distante (as vezes, me pego imaginando que quando a Esquerda ganhar as eleições em Rio Grande, poderemos ir ao Aeroporto e a Rodoviária reencontrar os “anistiados”, abraça-los fraternalmente numa tardinha e esperar que esse inverno não tenha volta). Fora isso, a vontade é mesmo, de fugir, de sumir e continuar crendo que um dia essa dinastia saia do poder. Não se pode tolerar a idéia de que o povo acreditou plenamente na história de que Fábio Branco, fora prefeito e durante seu mandato fomentou a construção do Pólo naval, que só entrou em atividade durante o mandato do Presidente Lula, e não no seu, por uma coincidência. Alguém consegue conceber a idéia de que o ex-Prefeito de Rio Grande, teve força diplomática para trazer as plataformas que seriam construídas em Cingapura? Se alguém acreditou nisso (e a grande parte do eleitorado votou por outros motivos, como a política do "asfalto para todos"), realmente, não estamos mais com um problema de provincianismo cultural, mas sim, com um de saúde pública: Bócio endêmico, e em estágio avançado.

domingo, 5 de outubro de 2008

Agradecimentos!!!

Antes de qualquer outra postagem, antes de qualquer suspiro, antes de qualquer sugestão de leitura, antes de tomar mais uma água e tentar retomar o fôlego, antes mesmo de apagar as luzes, recolher a bandeira e ir pra casa, na noitinha, chorar na beira do relento: Parabéns povo do Rio Grande, por sua sabia escolha política. Parabéns, povo do Rio Grande, por democraticamente, ter nos condenado a mais quatro anos de nada. (Desabafo das 20:07 de 5 de Outubro).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008


ATENÇÃO: Confirmado debate dos candidatos à prefeito de Rio Grande, nesta quarta, dia 1° de outubro, às 18h 30 min, no CIDEC-SUL, Campus Carreiros da FURG. A Organização é dos Estudantes do Curso de História, com apoio estrutural do CAHIS (Centro Acadêmico do Curso de História Angelina Gonçalves) para uma atividade de extensão de sua Semana Acadêmica. O evento foi deferido pela Excelentissima Juíza da 163ª Zona eleitoral no dia 24 de setembro, conforme encaminhamento feito no dia 23 de setembro deste ano.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

As coisas e os seus devidos lugares...



Um dos meus defeitos mais famosos é a preguiça em desenhar. Pegar a caneta, achar o papel mais adequado, a luz mais propícia; tudo isso me transmite a preguiça divina, contestada pelos pecados capitais, mas mais prazeroza que qualquer outra preguiça (principalmente enquanto se assiste uma aula e o rabisco vai na borda do caderno). Para quem insiste que Arte e política, e estética e funcionalidade não podem andar juntas, seguem alguns rabiscos mais antigos (dezembro de 2005, com técnicas de aquarela e guache não diluido) e um pouquinho da História que não se pode apagar.
Fabiano, 24/7/08.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Cala a boca, Jabor!


Não é mais novidade que Arnaldo Jabor é atualmente, o grande ideólogo da “Burguesia democrática” brasileira. Um Neo-liberal daqueles insuportáveis, que quer ver o Estado sucateado e a iniciativa privada dando as cartas na economia. Assim como Diogo Mainardi, se constrói como grande figura em momentos de crise, emergindo como um homem que faz críticas oportunas em momentos certos. São esses, os homens que dão mais medo: Eles são a salvação da lavoura, mesmo quando não tem proposta alguma em tentar derrubar as propostas alheias.

O problema de Arnaldo Jabor é quando quer ser golpista; Enquanto se prendia ao cinema e contestava os valores da classe média por meio de suas obras (vide o ótimo “Toda nudez será castigada”), Jabor se mostrava um homem em equilíbrio constante, por ser o centro perfeito: Nem direita, mas muito menos Esquerda. Saudades daquele Jabor que corroborava com a Esquerda: A Classe média consumista é bem mais patética quando quer viver sob o teto dos valores judaico-cristãos!

Quando Arnaldo Jabor diz que “os brasileiros sãos burros”, que “o governo é bolchevista” e que vai nos fazer falta “uma grande mulher como Ruth Cardozo”, depois de nos vomitar que a América Latina não pode mais tolerar os “Narco-guerrilheiros e terroristas do último bastião da Esquerda” das FARC, podemos ficar tranqüilos: Ele está rolando o mesmo vinil, engasgando com a mesma faixa da Direita tucana e Pefelista e de seu amigo Diogo Mainardi. O que não se pode agüentar é ele jogando merda no ventilador e dizendo que “está fazendo a sua parte”. Segundo nosso nobre herói (que deve se achar um Macunaíma que aos olhos alheios dos amigos quer ser Dom Quixote), “nunca houve um governo tão corrupto na nossa História”. Mas entenda-se: Jabor não viveu aqui nos últimos 500 anos. Se Jabor cuidasse da sua memória, lembraria que o governo anterior a Lula, teve a maioria de seus ministros implicados em denúncias de corrupção, improbidade administrativa, desvios de verba; lembraria que a emenda da reeleição foi negociada com os partidos da base aliada num escândalo que já em 1997 recebeu o sugestivo (mas nunca tardio) apelido de “mensalão”; que muitas das privatizações que ele lembra com saudades são contestadas na justiça por terem causado danos financeiros ao Estado brasileiro; que o Governo de FHC causou a maior quebradeira do país enquanto saudava as dívidas dos bancos privados; que “a grande mulher que vai nos fazer falta”, Dona Ruth Cardozo, “caridosa para com os humildes” foi implicada em graves denúncias de corrupção e apoiou FHC e seus asseclas no desmonte do patrimônio público, dando de mão beijada para os investidores estrangeiros, uma série de empresas estatais que davam lucro e pertenciam ao povo brasileiro. É esse governo, corrupto, sórdido, mesquinho e entreguista que Jabor quer de volta. Um Governo que comemorou os 500 anos da invasão portuguesa e do massacre dos indígenas aqui residentes, com um banquete oferecido aos europeus! Por isso, não é de se estranhar que o Governo Lula seja “o mais corrupto da História”. Lula, apesar de suas contradições, equívocos e tiros n´água tem avançado nas questões sociais e empreendido um programa de inserção do capital estatal na economia. Conta também com o apoio de inúmeros movimentos sociais e abre o dialogo com o MST e a Via Campesina. Para Jabor, isso é o fim. É um infarto na democracia que ele defende.

Não devemos ver Arnaldo Jabor como um simples comentarista. Ele é, na verdade, porta-voz de uma causa: dos que não tem causa alguma a não ser desfrutar da vida enquanto milhões de pessoas passam fome. Por isso, por esse desapego, diz o que quer; acredita ele que a democracia é feita de bons vinhos, boas festas e noites entre os intelectuais, enquanto grande parte da população está sujeita ao crivo da “República dos sociólogos”. Arnaldo Jabor ridiculariza a “Luta de classes” como um extravio do passado, uma relíquia enfadonha que só sobreviveu na América Latina por que somos "sub-desenvolvidos", mas é uma prova viva da mesma, estando na defesa intransigente dos direitos da sua própria classe. Quando alguém esbarra nos seus direitos, é dever desse (pseudo) Dom Quixote pitoresco partir para o ataque: Contra o MST, as FARC, contra Lula, contra quem roubou uma maçã por que não agüentava mais de fome; Jabor é um Cossaco que não tem mais Czar para defender e agora atira em qualquer sombra que se mova ao rondar o Kremlin; É uma carruagem do velho regime que insiste em rodar pelas mesmas ruas sonhando com os holofotes de antes.

Ainda que defendamos o direito inalienável de expressão, o direito inabalável do pensamento e da crítica como base para uma democracia verdadeira, entendemos que há uma coisa que a Imprensa deve sempre lembrar, que é a ética jornalística de analisar os fatos de forma imparcial e de acordo com a verdade dos acontecimentos. Arnaldo Jabor, assim como Lazier Martins e Diogo Mainardi, está se lixando para isso. Em decorrencia, não nos pode fugir à cabeça a seguinte frase ao vê-lo com aquele sorriso sarcástico e tucano: Cala a boca, Jabor!!!

Fabiano, segunda, 21 de julho de 2008.

domingo, 25 de maio de 2008

O processo civilizatório da família Marinho



Volta e meia é só assistir à telinha que não é diferente: A Rede Globo escolhe um vilão de plantão e desvia todas as atenções para ele. Como não poderia deixar de ser, nas semanas seguintes, um número inigualável de matérias, denúncias e editoriais em sues telejornais vai ao ar. Isso faz com que qualquer inimigo oficial ou semi-oficial da Globo, se torne paralelamente inimigo do país inteiro e dos valores conservadores e direitistas que a Globo tanto propaga. Qualquer um de nós que estiver contra os interesses dessa política e dos (dês)valores que ela carrega, é inimigo ideológico da paranóia global.
As vítimas usuais são os índios que afrontaram o engenheiro da Eletrobrás na terça feira, dia 20 de maio. Desde lá, os indígenas, que estão contra os interesses econômicos que situam sobre sua área uma nova hidrelétrica, tem sido massacrados constantemente na tele-dramaturgia jornalística dos Marinho: Numa hora são tratados como reincidentes, criminosos que estão a solta como símbolo da impunidade do sistema judiciário; noutra, são inimigos do progresso, adventistas da causa sectária de se colocar contra o avanço econômico. Mais a frente, a Globo tenta provar de tudo, inclusive de serem índios ingênuos, comprados por espelhos e pentes e comandados por “padres comunistas”, ligados as pastorais indígena e da terra.
A Globo é irresponsável e inconseqüente com a vida desses indígenas: Sua missão de “Nova conversão” pode desencadear uma reação contra estes índios, inclusive contra os que, numa medida corajosa do Governo Federal, receberam de volta, terras da União. Como os ânimos andam ensandecidos diante das disputas de terra entre brancos e índios, temos a frente uma possibilidade real de massacre, desta vez, legalizada pela mídia e implícita na mensagem “legalista” da Rede Globo. Os índios “agressores” e “impunes” não tem qualquer chance, munidos de facões, flechas e coragem, contra os fuzis dos jagunços ou da Polícia federal. Não são capazes de reagir a um ataque armado das hordas reacionárias dos usineiros, latifundiários ou oligarcas. Enquanto escrevo isso, mais um jornal da Globo, é aberto com imagens que apontam a agressão de indígenas contra o funcionário da Eletrobrás (e isso não é uma figura de linguagem, por que a TV está realmente acesa). Até mesmo a população de brancos pobres (criada e cultivada desde a colônia) começa a considerar a possibilidade de estar sendo subtraída pelos indígenas. A Rede Globo, portanto, patrocina uma inversão de valores, mais do que infla a luta de classes com forte teor racista e preconceituoso.
É fundamental considerar que estes indígenas estão há 20 anos com uma real ameaça “hidrelétrica” em seu território. Ainda que o Governo federal esteja aberto ao dialogo, sua postura é guiada pelas necessidades econômicas e energéticas. Já os indígenas estão cansados do debate e da dialética. São massacrados desde a invasão portuguesa e casualmente sobrevivendo, passavam a ser escravos dos colonos e novos cristãos que aqui aportavam. Num momento que a América Latina reage ao Imperialismo norte-americano e seus valores decorrentes, estes índios passam a lutar nos valores dos brancos, também, contra a exploração econômica. Estes indígenas não são consumidores em demasia de energia, nem mesmo consumidores casuais de bens industrializados, portanto não reconhecem a necessidade de uma nova hidrelétrica. Precisamos parar de empurrar valores brancos aos indígenas. Respeitar sua cultura é antes de tudo, não transferir responsabilidades.

Fabiano da Costa. 23/5/2008

Maio de 68 a maio de 2008: Movimento estudantil, lutas sociais e "Casa, comida e Vale-transporte".


Maio de 68 a maio de 2008: Movimento estudantil, lutas sociais e “Casa, comida e Vale-transporte".

Maio de 68 foi um mês marcado por manifestações estudantis na França. Os universitários lutavam contra o autoritarismo, a burocracia, entre outras coisas, na Universidade de Nanterre, Paris. Após a morte de Gilles Tautin, estudante, e dos operários de Peugeot, Pierre Beylot e Henri Blanchet mortos pelas companhias republicanas de segurança (CRS), grupos políticos, operários e até mesmo, apolíticos uniram-se a causa dos universitários franceses. Essa união do movimento estudantil com outros setores da sociedade, deu-se em outras cidades também: México, que culminou no massacre de Tlatebolco; Berlim, com protestos contra a guerra do Vietnã; Na Itália, a Universidade de Roma foi fechada após demonstraçõesbrutais da polícia, e foi nesse país que a Classe operária forneceu maior reforço aos estudantes.
Nesse período, aliás, por causa desse período em especial, proliferaram-se grupos armados, como as Brigadas Vermelhas, na Itália, e o Baader-Meinhof na Alemanha.
Nos EUA, a Guerra do Vietnã tornou toda a década de 60 um “Caldeirão”: Negros, mulheres e homossexuais lutaram pelos seus direitos civis e o Movimento estudantil estava inserido nessas lutas, o que ajudou na obtenção de algumas conquistas.
A proibição de uma peça de teatro em Varsóvia, gerou manifestações de estudantes que abrangeram Cracóvia, Lódz e outras cidades.
Quarenta anos atrás, estudantes inseriram-se nas lutas sociais, e o movimento organizado por eles, cumpriu parte de seu dever: Lutar peal sociedade civil e apoiar grupos, entidades ou qualquer pessoa que lute pelos direitos de qualquer ser humano, e não limitar-se a “Luta estudantil”.
Chegando finalmente ao fatídico maio de 2008: O que falar do Movimento estudantil na FURG (Fundação Universidade Federal do Rio Grande) em 2008? Hoje, os estudantes estão cada vez mais em “estado de fuga” do Movimento estudantil e/ou social. A Pseudo-luta é mais simples. Na FURG, num Centro Acadêmico (Leiam bem, Centro acadêmico, que pressupõe democracia), não se luta por melhores professores, por melhor estrutura do Curso, ou por qualquer outra obrigação de um C.A. (Evidentemente não estou generalizando, mas o exemplo é válido e é corriqueira em várias universidades). Num Centro acadêmico, seus próprios componentes lutam pelo direito de expressão, de falar, expor suas opiniões frente a um pensamento único e que supera a discussão democrática (Parece que Stalin retornou com várias faces). O ano de 2008 é eleitoral, e o que o dito movimento estudantil está fazendo? Tomando café e dando ordens ao rebanho de ovelhas manchadas de Vermelho? As lutas são individuais. Quem será “sustentado pela FURG”, quem terá o nome no topo da “Cadeia alimentar”, quem fala mais alto e bate mais forte o pé?
Essas são as lutas do Movimento estudantil riograndino.
A maioria dos estudantes brasileiros que participaram dos 100.000 (muitos, hoje, membros da FUEC – Frente Unida dos Estudantes do Calabouço – Rio ´68) acreditam atualmente que seus protestos poderiam, ou ter derrubado o regime militar, ou adiantar seu fim. Porém, o Maio de 68, não havia chegado ao Brasil. Talvez alguns DA´s e CA´s, que se dizem defensores do Movimento estudantil, lutassem não só por suas cadeiras confortáveis e computadores com internet, mas também pela democracia, pela igualdade racial, social e sexual, pelos seus direitos que são constantemente vetados pelo poder público, enfim, se lutassem em nome da Sociedade como um todo, houvesse possibilidade real de mudança.
“Eu quero é casa, comida e Vale-transporte!”.

Por Isabel Vargas, graduanda em História pela FURG.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O auto de fé de Bush





O encontro, recente, entre George W. Bush e o Papa Bento XVI provocou uma série de constrangimentos. Enquanto Bento XVI tenta mostrar ao mundo que pode ser um artífice da paz, Bush intensifica a onda terrorista em seu final de mandato. Como já dissemos, Bush vive a era do pragmatismo da política americana – onde vale tudo e pode mais, quem chora menos. Num cenário desses, entre um maníaco armado até os dentes e um demagogo na sua peregrinação pela fé, se tornam inimagináveis as conseqüências.
Pressionado pelos setores progressistas da Igreja e pela União Européia, Bento XVI criticou abertamente a posição que Will Bush adotou oficialmente, ao defender o uso da tortura e dos métodos “nada ortodoxos” da CIA e do FBI em seus interrogatórios. Para Bush, estes métodos são a garantia da segurança americana, já que a simulação de afogamentos e os choques elétricos obtêm toneladas de confissões acerca de possíveis atos terroristas. Bento XVI ainda frisou que o povo americano deverá votar “pela paz”, ao procurar, nas próximas eleições, uma alternativa que denote a busca pela solução dos sangrentos conflitos no Iraque e no Afeganistão.
Não é de hoje que Bento XVI passou a defender a paz: Acusado de colaboracionista do Nazismo quando jovem e aliado das correntes mais a Direita do Catolicismo Romano (Opus Dei, por exemplo), o Papa tem se posicionado de forma ambígua: Ou atira nos radicais Islâmicos ou no poderio Imperialista dos Estados Unidos, que já supera a influencia do Vaticano na Europa. Para tal, já fez um mea-culpa público da Inquisição, ao se desculpar pela mesma e todos e seus absurdos, inclusive pelo terror espalhado pela Milícia de Cristo, comandada por Santo Agostinho, em 1219. Bento XVI também sinalizou com o que todos já sabíamos: A fogueira desenfreada para as feiticeiras, desencadeada a partir de 1500 com autorização de Roma, e que vitimou centenas de mulheres, foi um erro, e grave. Portanto, Bento XVI, ao fazer sua sessão de revisionismo, atacou a truculência estadunidense e “empurrou” as batatas quentes da história. Talvez não queira ser lembrado pela omissão como Pio XII.
Bush, em 2001, declarou que a “Guerra contra o terror”, era uma “Guerra de deus”. Isso deu aos fundamentalistas islâmicos, a prova irrefutável de que a Guerra religiosa existe e não foi iniciada por eles. Bush também afirmou que defende “os valores civilizados do Ocidente”, ao chamar, indiretamente, o mundo islâmico de bárbaro e se colocar como um Diocleciano moderno. O que Bush tem feito na sua guerra “particular” (“Tudo é vaidade” diria o Rei Saul se ainda vivo) é impensável: As denúncias de estupros a crianças, de maus tratos a idosos e do uso da mais desenfreada covardia no Oriente médio são, por agora, incalculáveis na conta dos números da ONU. O que mais nos assusta, é que em breve, um Papa ou um presidente americano, irão a público pedir desculpas ao mundo, por esta tragédia de proporções descabidas, o que chocará a muitos, mas infelizmente, não surpreenderá a mais ninguém.
Fabiano, 24/4/08.

Movimento Estudantil: Pela democracia da Mongólia!


A Mongólia ficou conhecida por ser um dos países mais fechados do mundo. O ocidente pouco sabia do que lá acontecia: Sobre o militarismo exacerbado, sobre a forte e influência do governo de Pequim, sobre a estrutura quase feudal do interior do país. A Mongólia foi o segundo país do mundo a decretar a revolução do proletariado. Mesmo contra a indicação de Lênin, que apontava a Espanha como a segunda nação a derrubar a burguesia ou a monarquia e a dar o poder aos trabalhadores, em 1922, o país decretou o Socialismo. Foram os russos brancos, aliados anteriormente a Kerensky que lá apoiaram a revolução. Passados os anos, houve uma aliança com os Bolcheviques e mais a frente, uma dependência militar e econômica com a China. É de se pensar: O que este país árido, frio e montanhoso tem em comum com o Movimento estudantil?
Quando se elegem membros para diretórios e centros acadêmicos, pressupõe-se a idéia de que este é um ato democrático. Os membros dessas entidades, ainda que sejam diretórios (eleitos por chapa) ou Centros (aclamados e assembléias), são delegados de uma classe. A eles fora delegada a função de representar os demais estudantes, assim como os sindicalistas representam os trabalhadores e em tese, os deputados deveriam representar seus eleitores. O Centro ou diretório acadêmico não é, seja qual for sua espécie de eleição, uma gestão de executivo. É na verdade, um mandato de legislação. Isso se torna mais claro ao falarmos dos Centros acadêmicos: Eles não devem “governar”, mas sim representar as propostas a si delegadas. Devem ser “democracias plenas”, abertas e participativas.
Quanto ao fator local (e me refiro a FURG – Fundação Universidade Federal do Rio Grande), deveria ser lembrado em todos os cursos, que os membros eleitos por assembléia não possuem decisões totalmente autônomas: A assembléia, seja qual for seu quorum (em 2ª chamada), deve apontar essas medidas. Tolerar a “porta fechada” ou o “vencer pelo grito”, além do aparelhismo e do fisiologismo político, aponta para um regime como o citado acima: A plena “democracia da Mongólia”. Sem citar, é claro, que a própria Mongólia obteve em sua ditadura, uma série de avanços sociais, que aqui, não cabem ser discutidos. A função do centro acadêmico não é ser uma sociedade fechada, onde os membros bradam que sua legalidade foi dada “pelo voto”. O voto, meus camaradas, elege bons, ruins e péssimos representantes. Os alunos devem cobrar, pressionar, participar do Centro acadêmico de uma universidade, mas devem também ser ouvidos, tratados com respeito e principalmente, reconhecimento e dignidade. Ou isso, ou vamos lutar por uma democracia mais evoluída, que acredite, era a da própria Mongólia!
Vale lembrar que as democracias plenas são exercidas pelos participantes de votação e assembléia: Tanto os que apontam, como os delegados a uma função são participantes eqüitativos de um projeto político. Os erros, os excessos, ou as omissões (que são comuns no corporativismo, onde um grupo simplesmente toma a frente e vota sempre junto, pela mesma causa, ocupando uma posição de liderança) não conferem com a plena democracia. Além do mais, estão todos os delegados, sujeitos a exoneração, se for entendido que a sua representação nada mais é, do que um desejo próprio de poder e vaidade. E disso, o Movimento estudantil de todas as universidades está cheio. O da FURG, em alguns cursos, até mesmo transborda.
Fabiano, 25/4/08.

segunda-feira, 10 de março de 2008

George W. Bush e a questão da tortura

Quando, há alguns séculos, a tortura passou a ser banida (pelo menos oficialmente) da Europa, entendeu-se que um novo parâmetro se iniciava na humanidade: Que a prática repugnante das sevícias, das torturas físicas e mentais e qualquer tipo de sofrimento infligido a qualquer pessoa fosse, no futuro, uma lembrança banal de um tempo que não deveria voltar. Nesse mês de março de 2007, porém, Bush “O maníaco”, deu mais uma prova de sua insanidade e do perigo que corremos, a ponto de termos um psicótico como maior responsável pelo maior arsenal nuclear do planeta. Ele simplesmente legalizou a tortura nos EUA.
Até então, tramitava no congresso americano, um projeto de lei veiculado pelos Democratas que coibia as ações de tortura, usadas constantemente nos interrogatórios da CIA e do FBI. Na sexta, dia 9 último, George W Bush vetou o projeto argumentando que as práticas de interrogatório usados pela CIA e FBI são fundamentais para a segurança americana e “vem dando resultados”. É bom frisar: Além de resultados, são eficazes somente para a segurança norte-americana. Entre as práticas que Bush considera intocáveis, estão o choque elétrico, o isolamento total e a simulação de afogamento, todos estes denunciados a exaustão por inúmeras associações de direitos civis.
George W Bush dá mais uma prova de sua insanidade e total desequilíbrio emocional. Não por sua crueldade (mostrada a esmo, diante de Guantânamo, e das invasões covardes do Afeganistão e do Iraque), mas pela frágil articulação política frente a população, já que em meses, haverá outro pleito presidencial e ao que consta, os Republicanos estão muito atrás, da preferência de votos manifestada a oposição dos Democratas (conforme outro texto neste mesmo blog).
W Bush dá mais um gás em seu fim de governo: Depois de proibir o casamento homossexual, coibir os direitos das minorias, patrocinar um retrocesso nas políticas públicas estadunidenses, retomar uma série de ataques a soberania das nações “periféricas” e provocar dois sérios conflitos em menos de dois anos, ao qual nenhum dos dois ainda acabou, o presidente norte-americano passa a deixar um testamento político (uma série de seqüelas impostas no âmbito interno da política dos EUA), onde haverá uma retomada de todo o tipo de campanha das hordas reacionárias, direitistas e conservadoras. Apoiado por pessoas tão especiais como Arnold Schazeneger (Governador da Califórnia) , Fukuyama (que ainda hoje brada “o fim da história”) e o pai (e ex-presidente) George Bush, Bush filho dá sinais claros de desequilíbrio, e mais do que isso, insanidade. É prudente que o mundo se prepare para os últimos momentos de Bush no governo, por que até outubro, suas ações serão imprevisíveis e cada vez, piores.
Fabiano, 9/3/2008.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Kid Foguete no matadouro: Mais da mesma estética norte-americana.

As recentes imagens expostas na grande mídia, mostrando a tortura e os maus-tratos a animais em frigoríficos e matadouros estadunidenses, geraram perplexidade. Na época do politicamente correto e do avanço da “democracia americana”, a grande mídia sabe mostrar onde desemboca o que Bush chegou a denominar de “mundo civilizado”. Para tal, o conto de Charles Bucowisky, “Kid foguete no matadouro”, é tão ácido e causticante como também uma bela denúncia da “Indústria da carne”, acusada substancialmente de viciar seus consumidores e impulsionar uma epidemia de obesidade nos EUA.
Na verdade, as imagens contidas em vídeos distribuídos por associações de defesa animal, não trazem nada de novo. Uma série de documentários, reportagens e depoimentos dignos de filmes de terror, já salientaram o sacrifício a que os animais tem sido submetidos em nome da indústria da alimentação. Além disso, o consumo de carne é um dos vilões da epidemia de obesidade que atormenta os EUA e outras nações do chamado “Primeiro mundo”. Acredita-se que 30% dos americanos já estejam sofrendo de algum grau de obesidade, o que tem onerado o sistema de saúde do país e feito com que o Governo tenha implementado políticas de redução de calóricos já nas escolas. Os movimentos de defesa da vida animal já se mobilizaram, a ponto de redes de supermercado já terem anunciado o recolhimento de 70 mil toneladas de carne animal (o que parece um gesto mais representativo do que realmente funcional).
A implementação de novas políticas alimentares, entretanto, enfrenta a resistência de grandes conglomerados econômicos. Algumas das maiores empresas americanas estão no ramo da alimentação (se é que podemos chamar os burguers de alimentação). Estas empresas, com faturamento na ordem dos bilhões de dólares só perdem para as empresas de capital baseado na indústria petrolífera ou armamentista. A febre do “Fast food” norte-americano se alastrou especialmente nos anos da política neo-liberal, o que permitiu a “globalização de costumes” e a importação do modelo de alimentação das grandes cadeias americanas (leia-se Bob´s, Burguer King e especialmente Mc Donald´s). Acredita-se que a obesidade esteja se tornando uma epidemia até mesmo em países com uma mesa regulada, onde os vegetais são bem-vindos, como o Brasil. Não por coincidência, o consumo de carne vermelha dobrou na década de 90 na mesa dos brasileiros, e outros tipos de carne passaram a ser base da alimentação, como o frango. Prudente lembrar que a carne de frango é carregada de hormônios de crescimento e alguns países europeus colocaram, em relação a isso, reticências na compra do produto durante algum tempo. Em detrimento a isso, o consumo de feijão e arroz caiu vertiginosamente, dando lugar a lanches, massas e gorduras trans e saturadas.
Nas décadas de 80 e 90, ambientalistas e biólogos apontaram para um fenômeno assustador: As florestas tropicais, em demasia na América Central estavam sendo dizimadas por empresas no ramo de alimentação. A causa principal seria a derrubada de mata verde para a produção de pastos. As indústrias tentaram justificar o fenômeno com o aumento do consumo de carne, e o respectivo crescimento dos rebanhos para atender a demanda do mercado. Para exemplificar a situação e o desregule de tal mercado, o Brasil tem 180 milhões de habitantes e mais de 200 milhões de cabeças de gado. Um bovino de médio porte consome até sete vezes mais água que um humano adulto. No que é gasto na produção de um quilo de carne bovina, poderiam ser gerados até 15 kg de vegetais. Além de saciar a fome de países inteiros, geraria uma massa de empregos diretos e indiretos e distribuiria emprego e renda. O sistema de saúde não teria de enfrentar o número de 500.000 casos de doenças coronárias, maior parte deles, causados pela associação perigosa de sedentarismo, tabagismo e consumo de altas taxas de colesterol. O “negócio da carne” é tão lucrativo e tem crescido tanto no Brasil, que em junho de 2007, o Friboi, de Goiás, anunciou a compra da Swift, 3ª maior cadeia de frigoríficos dos EUA. Evidentemente, tocar na “cultura da carne” é mexer em milhões de dólares.
Quando se fala em cultura, é prudente observar que essa situação não pode ser modificada em dias e sim, em anos. Uma das melhores propostas para o assunto é a lavoura da subsistência e a agricultura familiar. O consumo de carne nestes espaços tende a ser limitado, mas apontaria um decréscimo importante, modificando a economia dos pequenos municípios. Em seguida, campanhas de racionalização do consumo. Ou seja, diminui-lo, mas não encerrá-lo. O programa de merenda escolar deveria estar inserido nesta proposta. Estudos apontam que inicialmente, a queda no consumo aumentaria provisoriamente o número de rebanhos, para compensar a queda no preço, mas em menos de uma década, esse número deveria estar estabilizado e em decréscimo, dado a pouca receptividade no mercado. Como paliativo, as organizações ambientalistas dos EUA e da Europa tem exigido medidas radicais de seus governos, como a criação de políticas para que as grandes empresas da alimentação adotem regras-padrão para o “abate mais humano e menos cruel” dos animais. Podemos sugerir mais: Que as empresas do ramo, e especial do Brasil, sejam proibidas de usar a figura de animais felizes e sorridentes em suas propagandas, já que isso é uma política de atenuação e aproximação com o público infantil, grande alvo de suas campanhas publicitárias. Outra: Que provando a higiene e total segurança do produto oferecido, como salientam as donas do mercado, sejam veiculados vídeos contendo os abates dos animais. Temos certeza de que uma sessão destes vídeos faria o consumo despencar no dia seguinte. É bom frisar: Uma sessão apenas!
A discussão é bastante delicada: O mercado da pecuária movimenta bilhões de dólares somente no Brasil. Além disso, podemos considerar a forte influência política e cultural na formação da economia brasileira e a geração de empregos. Por isso, um estudo minucioso aponta para efeitos de racionalização de consumo e paliativos na construção de outras formas de emprego e renda. A diversificação das culturas agrárias é um exemplo: Alterar bruscamente um cultura alimentar pode introduzir a monocultura como saída emergencial de vários produtores. Portanto, essa uma discussão bastante delicada. O que tem de ser pesado não é só o politicamente correto, mas que tipo de projeto de Esquerda estamos tentando criar. No projeto que desejamos, a vida é objetivo principal, seja de homens ou animais. A dignidade da mesma, é, portanto, alvo de nossa discussão. Não estamos propondo acabar com a pesca numa cidade litorânea como Rio Grande, mas sim racionalizar o consumo e diversificar a economia, gerando renda de forma sustentável e segura para o próprio meio. A única certeza que temos é que manter a produção e o consumo de carne nos níveis atingidos atualmente, é alicerce de uma indústria extremamente lucrativa e socialmente irresponsável e que por sua vez, apresenta perigo não só a vida animal, mas a própria raça humana. Temos de pensar o mundo de forma universal e completa, numa ética ambiental que nos permita acabar com a fome, alimentando com qualidade e gerando milhares de empregos. E isso, a “Indústria da carne”, com certeza, não pode fazer.
Fabiano, 19 de fevereiro de 2008.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Galerias corriqueiras e urbanizadas de uma nova Arte

Não é muito dificil entender, por que uma das grandes preocupações da arte contemporânea é fazer um resgate humano do indivíduo. A brutalização fugiu ao conceito de “massa” e atingiu a classe média. Em meio ao caos instaurado na civilização deste hemisfério, pendente entre o consumo infindável e a correta politização do novo discurso Ocidental, vale sempre tentar entender todas as pontas desta estrela (de)cadente. Assim, nada mais pode nos surpreender: A Arte saiu das galerias e finalmente chegou às ruas – infelizmente não por um fator da democratização do acesso a própria Arte, mas por uma necessidade de sobrevivência da raça humana. Ou isso, ou os que tem o poder do extermínio em massa, vão implementar a política da erradicação das minorias – podemos chamar isto, por um certo ângulo, de “ditadura da maioria” e este é seu aspecto mais conhecido: Sua tentativa de se manter homogênea.
Em pleno 2006, com mp3s e mp4s a desfilar por aí, a coisa que mais assusta as pessoas é a insegurança; Não a insegurança das centenas de milhares de pessoas que trafegam pelos EUA com ships implantados por debaixo da pele, nem a insegurança das dezenas de satélites que diariamente nos vigiam e seguem, mas a insegurança da própria insegurança; Ficar sem o celular por alguns momentos pode significar o fim para alguns. Na última bienal de SP, Marcelo Cidade, desenvolveu uma obra interativa: Ficou munido de um bloqueador de chamadas na mochila e andou por dentre os transeuntes que visitavam o Ibirapuera. O resultado pode ser considerado uma espécie de “caos organizado”: Ninguém entrou em pânico, mas houve desconforto generalizado, disseminação do medo constante do que fazer sem o aparelhinho que se faz parecer necessário. Enquanto isso, no térreo Laura Lima colocou sua “boutique” com roupas de plástico. Poderíamos ter criado uma discussão que se prolonga através da (anti)obra de Cidade: Para que as coisas servem? Para que são criados os utensílios? Quem manda em quem afinal?
Buenas: Se podemos fazer um gancho com a obra de Marcelo Cidade diante da funcionalidade real das criações humanas, podemos fazê-lo também com a criação de Laura Lima em um aspecto ampliado. As roupas de plático de Lima não tem modelitos rígidos; As pessoas não tem de se adaptar à elas. A função das roupas não é fazer com que os corpos se adaptem à elas, mas sim, criar maneiras de que possam se adaptar aos corpos. A verdadeira democracia ampliada: Todos podem vestir roupas que se alongam, ou que se tornam constritas. Mais do que isso: A roupa de plástico é utilizável, bastante econômica, mas também descartável. Ela pode ser descartada.
Eis então que surge a discussão da funcionalidade. A Arte trava essa discussão desde que resolveu por os pés fora das galerias. Para tal, o Design e a arquitetura ganharam novas dimensões: Democratizaram sua linguagem sem se tornar populares a ponto de perderem referencias estéticas e eruditas. Não adianta desenvolvermos novas vigas de aço, para novos edifícios, com novos padrões arquitetônicos se isso não chegará a ninguém. Ainda que aqui a discussão de “Classes” ou da “luta” que se refere as mesmas seja pertinente, não vamos abrir o link. O que interessa, é que esta construção tenha padrões estéticos, no mínimo, aceitáveis. A procura da beleza não se distancia da busca famigerada pela funcionalidade extremada de tudo que é produzido. Assim, podemos criar objetos que nos proporcionam “prazer estético”, mas também que sirvam para desenvolver algum trabalho no quotidiano, ou vice-versa (o que é mais aceitável dizer). O exemplo disso, está na criação de Brasília. Enquanto Lúcio Costa conseguiu a façanha de criar uma paisagem Urbana “Saudável”, com parques e amplas vias de acesso, Nyemeier, Comunista convicto, planejou uma série de edifícios e construções que se tornam democráticas não somente pela facilidade ao qual se chega a elas por rampas e enormes portões, mas pelo desenho arrojado que pode encantar multidões, e assim se tornar objeto de prazer aos que ali vivem. Esta é a funcionalidade real do que criamos: Que nos gere prazer. Não um prazer hediondo, ou um simples momento hedonista, mas um prazer que se refere ao bem-estar para se construir algo e edificar uma nova mentalidade (e não estamos tratando da Arte Construtivista, ainda que o Link esteja aberto). O Instituto Bauhaus propôs a edificação através da Arte com democracia através da Arte: assim, amplas janelas, vitrôs e portas eram usados em doses nada homeopáticas nas construções alemãs deste período da década de 1930, proporcionando casas arejadas, claras e abertas onde pessoas não precisassem esconder suas convicções e idéias. Mais do que isso, antes mesmo da conduta revisionista que temos diante do processo histórico a tratar do artesanato e da chamada Arte Popular (conceito que vem se modernizando e efetuando como Escola para que possamos entender artistas sem formação que não sejam Naifs, nem simples artesãos), Walter Gropius já propunha que artesãos e artistas trabalhassem juntos num modelo de produção amplo e acessível. É a Arte que nega a Arte aristocrática. Não nega a galeria, pois a galeria é um fator agrupante, que serve ao intuito da convivência e de se tornar funcional quando agrupa e não seleciona, mas abre espaço para que a Arte seja realmente democrática, aberta, e claro, funcional.
Assim, quando a Bienal de SP, em sua 27ª edição tomou a decisão de ser mais politicamente correta do que estética em si, ela retomou um lado controverso da Arte; A Arte panfletária se tornou um peso; Um óleo reutilizado na gordura saturada, mas de fato, o que se notou é que a Arte sem compromisso algum é bem pior: Ninguém mais agüenta o risco de se ter uma arte vazia, comercial, que atenda somente aos interesses de novos mecenas, que a seu propósitos, por serem grandes empresários não queiram mesmo discutir questões sociais. Ninguém também agüentaria uma arte comandada pelo “Partidão”. Os Grandes artistas do nosso século, mesmo os mais engajados não agüentaram o regime de “Centralismo democrático” implementado pelo Partido Comunista Tradicional. Picasso, o homem que tentou teorizar através da arte a Guerra Civil espanhola, e seus horrores em “Guernica”, acabou por se afastar deste controle. Talvez tenha sido a Pop Art a mais suscetível a obter este tipo de êxito: Ela não era politizada “de fato”, mas discutiu questões extremamente inseridas no contexto político (consumo, meio ambiente, personalismo), sem se tornar politicamente correta, e sem deixar de ser extremamente atraente ao grande público (daí a própria denominação que recebera). Ela se tornara democrática porque inserira seus expectadores em temáticas extremamente corriqueiras: Os ícones pop, o consumo em demasia de certos produtos que são quase signos, os móveis e eletrodomésticos quase que “Kitchs”. Não há quem não tenha visto algo que a pop Art não tenha discutido. Como diria Andy Wahrol, “todos serão famosos por pelo menos 15 minutos no futuro”.
Assim, em 2006, a Arte toma o rumo que a mantem viva e acessível. Se por um lado, o medo de Oscar wilde era “tornar a arte popular”, por outro, sua proposta era “tornar artista o público”. Se formos ver as três grandes teorias de compreensão da Arte (Imitativa, expressionista e forma significante) notaremos que hoje podemos formar uma teia de significados, ainda que na Arte ela só se signifique ela mesma, e se permita a emitir conceitos; A Arte popular (termo já citado) remonta o prosaico, o mobiliário da formação humana antes da compreensão da estética; A teoria expressionista mostra que realmente o artista enseja em passar algo, a transmitir algo, codificar a transmitir mensagens em série para que o público possa consumir essa teia de conceituações que ele forma subjetivamente; Por fim, a Teoria de Forma Significante abre um leque ao qual o artista é livre: Tão livre que não precisa tentar transmitir mais nada. A função da transmissão, ou da recepção das mensagens emitidas é de responsabilidade do expectador (público). Assim, isso dependerá da sua sensibilidade para com o objeto estético. Ainda assim, esta teoria nos permite uma observação já feita anteriormente por críticos especialistas em Arte: Se uma pessoa não sente nada ao ver uma obra, segundo esta teoria ela é insensível. Mas o termo “Insensível” é por demais determinista; O mesmo “insensível” para com a Arte pode tratar de animais doentes, se emocionar para com a pobreza e a miséria, amar de forma pura e inocente uma outra pessoa; Melhor: Pode não compreender as obras expostas em uma galeria, mas pode manter um grande interesse em visitar galerias e procurar entender tais obras que ele não entende, pois de fato não povoam seu imaginário. Assim, dizer que todo artista quer transmitir algo (teoria expressionista) é bastante utópico, porém deixar de analisar uma obra, pois tal analise é definitivamente subjetiva, é lavar as mãos e destituir o potencial educativo da própria arte. A Arte que se tem hoje é multi-facial: Nós temos ainda grandes artistas de teor clássico guiando grandes mostras (Arquivos imensos de Cézanne, Picasso, Matisse, Miro, Dalli, Frida Kallo), mas temos grandes mestres vivos girando e estudando o mundo (Leon Ferrari, Saraceno), e um grande número de artistas que trabalham com linguagens modernas, atuais, de fácil acesso (Minerva Cuevas, Guy Tillim, Dan Grahan), além de grandes nomes do circuito contemporâneo (Doris Salcedo, Ron Mueck, Debora butterfield, Christo, Anish Kapoor, Richard Serra), que tratam de questões dos mais diversos temas, mas sendo extremamente acessíveis ao grande público. Nós não temos mais Berni, nem Orozco, nem Rivera, mas temos uma arte que ainda é social, de caráter político, humanista e que permite um canal ao que se tratava no inicio deste texto: Evitar a brutalização; resgatar os que já estão em caminho de total obliteração. A Arte passa a ter uma responsabilidade colossal: Ela vai às ruas, se insere no quotidiano, e passa a fazer parte de um novo tipo de repertório imagético; Assim, devemos lembrar das obras imensas, colocadas por Richard Serra em meio a cidades extremamente populosas; Em meio a correria, ao dia-a-dia, a falta de perspectivas, a ausência de uma sensibilidade mais exacerbada, surgem obras de arte; Elas denotam expressões novas no meio, negam o espaço antigo, ao mesmo tempo que não o destroem – o realçam! Assim, trabalhos como os desenvolvidos pelo Concretista Amílcar de Castro na década de 1950, poderiam se tornar peças corriqueiras da labuta diária das populações. Expostos em viadutos, fixados em praças, confeccionados para centros de trânsito intenso, eles envolvem a paisagem, chamam para si destaque, conseguem desenvolver algum tipo de sensibilização. Uma atividade, indireta, de Arte-sensibilização. Já que não podemos levar milhões de pessoas a consultórios para atividades Arte-terápicas ao estilo Lygia Clark, podemos antes de tudo, tocá-las no eixo do dia, na cárdia do quotidiano. Para tal, chegou-se a um momento único, e bastante importante, onde a Arte se viu obrigada a partir para a discussão dos fatos diários. Para muitos, o que se tem hoje não é Arte. Mas devemos fazer uma abordagem simplista e obvia: Os grandes artistas que compõe o período de maior relevância para a História das Artes Visuais, calcaram-se em obras que por um aspecto ou outro, designavam particularidades deste período: Bruegel, em seus quadros, retratava costumes e conflitos do Século XVII que compunham a vida dos Europeus; Courbet e Daumier, ambos franceses do Século XIX, cristalizaram na pintura realista um quadro de miséria dos homens que estavam a margem de uma sociedade que saira das monarquias, mas passara ao domínio dos valores burgueses; A Cubana Ana Mendieta, em pleno Século XX travou uma batalha em nome dos massacres cometidos por sobre os indígenas de sua terra, quando da chegada dos espanhóis ao Continente, fazendo um translado para a realidade do período atual: Massacre de mulheres, homossexuais, tentativa de extermínio das minorias; Não parece, então obvio, que a Arte atual tenha sim que firmar projetos com o seu tempo, de acordo com a sua realidade temporal? Não devemos, então, estranhar o uso de mídias eletrônicas, de vídeo-instalações, de paisagens que denotam favelas e “estoques de gente”, nem instalações com fotos de lesões corporais e violência gratuíta. Este é o nosso tempo! Ligue a TV, leia a última página do jornal, acesse a Internet, visite os subúrbios, use os banheiros públicos, passeie pelos logradouros das zonas de prostituição. Está tudo aí. Seria estranho, de fato, não esteticamente falando, mas cronologicamente discutindo, termos uma série de obras explorando os períodos mágicos do Barroco brasileiro (Português, Joanino, Rococó), enquanto nas favelas existe uma guerra civil não declarada, um poder paralelo onipresente, um senso de ética e compromisso social que a “ponderação” da sociedade democrática não garantiu com suas instituições. Assim, parece mais do que obvio que Maverick de Ogum tenha ganho o status de Artista popular: Ele está no Centro do furacão, sendo poupado dos destroços no momento, mas bastante ferido pela miséria e pelo consumo que o transformaram em catador de lixo, e respectivamente, em artista: Sua carrocinha (instalação por sobre seu objeto de trabalho) é um amontoado de “coisas descartáveis”, que perderam o valor dentro do que se considera “funcionalidade”: Bonecas velhas, celulares aposentados com tecnologia obsoleta, relógios de pulso com vistosas pulseiras que escorrem pelo braço... Se estamos vivendo um período de “convulsão social” e “mudança histórica”, é obvio que tenhamos que deixar isto na nossa história. O estudante de Artes Visuais, o professor de Artes Visuais, o crítico e o admirados das Artes em geral, tem obrigação redobrada de entender isto: Passamos por um período de transição histórica, crise ética, reavaliação de valores, de consumo em demasia e degradação ambiental cavalgante. Se a Arte não empunhar a bandeira da discussão, pouco se espera que outra área o fará. Esta é a função social da Arte.
Fabiano – Março de 2007.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Democracia censitária, mídia e eleições: Soda Pop americana

Democracia censitária, mídia e eleições: Soda Pop americana

Com a aproximação das eleições nos EUA, era inevitável que a mídia estadunidense não calcasse muitos de seus comentários, prognósticos e previsões políticas, os relacionando a crise energética mundial, ao aquecimento global e, principalmente, a manutenção das atividades militares no Afeganistão e no Iraque. Como era de se esperar, a grande preocupação é com a recessão econômica e com a obtenção de novas fontes energéticas, a fim de que os EUA não afundem numa crise econômica parecida com a de 1929. Pode-se sugestionar que esta previsão é por demais catastrófica, mas 8 em 10 economistas apontam que esta é a primeira grande crise “do fim deste capitalismo” (ou seja, o sistema vigente prosseguirá, mas com alterações significativas).
Podemos afirmar que os EUA enfrentam um problema circunstancial, derivado da intensificação econômica dos anos 90. Com o advento do consumo, da polarização econômica e das políticas neo-liberais, que fizeram expandir a circulação de dólares e dos investimentos norte-americanos, europeus e japoneses pelo mundo, os EUA passaram a produzir mais, consumir mais e necessitar aumentar quantitativamente seus mercados consumidores, a fim de sustentar seu crescimento. Já na década passada, muitos economistas, críticos políticos e ambientalistas apontavam para o que estamos vivendo: As fontes energéticas estão em pleno desgaste (principalmente as de combustível fóssil), a água começa a faltar em diversos continentes e as políticas neo-liberais entregaram economias sensíveis ao julgamento de empresas do “primeiro mundo”. Afirma-se agora, que para mantermos o atual capitalismo, o nível de consumo necessitará aumentar em oito vezes até 2020. Como sabemos, não temos mais fontes energéticas para sustentar esse crescimento.
Diante de tantos infortúnios, Bush filho já acenou com pequenas mudanças: Implementará o uso de Biocombústiveis, retirará até o fim desse ano 20.000 soldados do Iraque e já autorizou que os EUA cumpram parte de um tratado mundial de redução de gases nocivos a atmosfera. Esses “avanços” são tímidos, mas já mostram que os EUA tem sentido uma pressão bastante forte, em principal da União Européia e precisam concentrar esforços para não perder mercados. Além disso, a China, principal adversária no mercado mundial (e militarmente, a única força a lhe fazer frente) tem evoluído economicamente e se desgastado politicamente pelo uso de termelétricas na geração de 70% de sua energia. Isso fez com que a União européia e até o (antigo) grupo dos “Países não alinhados” suscitassem críticas virulentas a Pequim. Os EUA, em contrapartida abandonaram a arrogância de Kyoto, em 95, quando não assinaram um tratado de não proliferação de gases poluentes (discutido desde a ECO 92, no Rio) e aceitaram os termos dispostos. Não é preciso dizer que sua imagem internacional, desgastada em demasia pela gestão Will Bush, foi sensivelmente maquiada.
Os presidenciáveis a Casa Branca fizeram o mesmo: Colocaram a questão ambiental na agenda diária e passaram a desenvolver pré-projetos de incentivo e implementação aos bio-combústiveis. O que surgiu como uma ótima alternativa já suscita críticas: Diferente do Brasil, donde ele é retirado de plantas não-comestíveis (a mamona, por exemplo) e a utilização do álcool é usual há quase 30 anos, nos EUA o biocombustivel é derivado do milho. Para tal, o país tem dado incentivos e subsídios a quem o plantar para veste uso, o que prejudica os produtores que visam o mercado interno da alimentação (o milho é freqüente na mesa dos americanos) e a exportação do grão. Alguns países do Terceiro Mundo, tem visto no biocombústivel uma forma de erguer suas economias e no futuro, alçar a posição que hoje é dos países da OPEP (Produtores de Petróleo e manos interessados em combustíveis não-fósseis). El Salvador, é um deles, mas ainda preocupa o quanto isso afetará o abastecimento de comida, principalmente nos mercados internos. Para piorar, muitas multinacionais têm plantado os biocombustiveis na África. O que inicialmente daria empregos e renda, gerou mono-cultura e um decréscimo nas lavouras que visavam o mercado da alimentação. Isso tem gerado indignação de ambientalistas europeus e americanos, apesar de parecer (mais uma vez) um caminho sem volta. Em sua defesa, as empresas alegam que a tônica destes empreendimentos é gerar emprego, renda, empregar lavouras em territórios mais amplos e alçar uma política de combustíveis menos poluentes e renováveis. Acredite quem quiser.
Enquanto isso, John McCaine, pelos Republicanos (conservadores) e Hillary Clinton e Barack Obama, pelos democratas (liberais), passaram a usar a retórica ambientalista em seus discursos. Ao mesmo tempo que a campanha de 2008 já bateu recordes de doação e investimento, boa parte das mesmas, oriunda da indústria petrolífera, se aumenta o tom ambientalista lançado por Al Gore (que, enquanto foi vice de Clinton, nada implementou e “engoliu” a posição americana diante do Protocolo de Kyoto). O quanto isso será verdadeiro é uma segunda preocupação. A primeira de fato, é quando essas políticas estarão em prática. McCaine é tido como “um liberal” dentro da ala mais conservadora dos Republicanos, mas não destoa da visão de Bush, de que os danos do aquecimento global, anunciados pela ONU em fevereiro de 2007, são mais alarmistas que verdade. Já Hillary e Obama tem políticas para as minorias, mas para isso, precisam gerar empregos. Então, vão ter de aquecer a economia, e os EUA, não tem um plano econômico na utilização de combustíveis menos poluentes, pelo menos a pequeno prazo.
Diante dessa crise, a China continua a crescer (bem) acima da média mundial, se utilizando de termelétricas. A União Européia e os próprios EUA, passaram a fazer severas críticas ao sustento da economia chinesa. Em resposta, o Governo de Pequim tem construído hidrelétricas e passou a se interessar pelo biocombustivel, mas o uso do carvão mineral ainda pode perdurar por décadas. Calcada numa mão-de-obra barata e disciplinada, a China tem oferecido boas condições para que as multinacionais por lá se instalem. Isso também faz com que haja uma pequena fuga de capitais, antes ondulantes entre os EUA e o Japão, e que agora, se aproveitam das facilidades encontradas por lá, ou na Índia. E como já se afirmou, não há uma política de crescimento sustentável nesses países.
A situação é bastante complexa. Nesse ano, as eleições norte-americanas darão o tom da política adotada nos próximos anos. Para a economia dos EUA, jogada numa recessão grave, catapultada pelos gastos militares de George Will Bush (o “maníaco”), a saída tem ser rápida e eficiente, dando resultados ainda em 2008. Para os ambientalistas, essa é uma mostra de que o diálogo pode estar se encerrando e começando a “era do pragmatismo” da política estadunidense. Os otimistas são tímidos. Não arriscam palpites. Para os pessimistas, mais assustados, o relatório da ONU acerca dos danos ao meio-ambiente, corre o risco de estar desatualizado e sendo substituído por um agrupamento de crimes ambientais, piores e irreversíveis, e que nem mesmo o Superman, sinônimo da eficiência ocidental americana poderá atenuar.
Fabiano da Costa – 7/2/2008.