sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Aimará do futuro.


Evo Morales é o Aimará do futuro. E Isso quem diz, assustada, é a força reacionária de Veja, Câmbio e Rede Globo. Quem sou eu para desdizer essa crítica? Morales é a representação do fim da paciência, do esgotamento do debate em uma época onde o discurso protelou acordos de fome e miséria. Por isso, diferente dos Aimarás pacíficos, massacrados, e por fim, esquecidos, ele é um retrato do futuro, reflexo direto do passado. Não importa o que diga Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Olavo de carvalho. Evo Morales não é a personificação do passado, do Estado total e presente, mas sim um Aimará do futuro. Se a direita queria modernizar o Estado, transformando os escravos em servos comportados que vivem em uma suposta cidadania, conseguiu criar o Aimará do futuro.
Em 1531, os espanhóis chegaram ao altiplano peruano. O processo decorrente disso, junto ao massacre do México (1519), é chamado sugestivamente por alguns pesquisadores de “holocausto indígena”. Na cultura Asteca, por exemplo, a chegada dos espanhóis foi encarada pelos sacerdotes, como a representação do fim dos tempos. O que em bom dialeto cristão, significa “armagedom”. Num processo que durou poucos anos, milhares de indígenas tombaram em nome da cristandade. No altiplano, foram divididos entre as minas e a prestação de serviço nas fazendas que supriam o mercado consumidor local (junto as haciendas dos espanhóis). Em pouco tempo, passou a valer o que diz Enrique Dussel: Após o massacre dos seres humanos, houve um massacre de sua cultura. No México, Sergei Kruzinsky aponta para o apagamento da Arte Asteca: As formas dos deuses, a estética dos seus mitos foi sendo substituída por uma estética européia, branca, “cristã e civilizada” (como diria Hegel). Os espanhóis deixaram na Bolívia, uma representação de Estado que não existia, pois era o entreposto da metrópole, com os índios carregando os navios e vivendo cabisbaixos aos patrões europeus. Até hoje, a Bolívia fornece gás e cobre, depois de ter sua prata e ouro saqueados em Potosi. Não seria estranho enxergar uma caravela espanhola carregando no Prata, os minérios bolivianos até hoje. É o salgado contraste entre o passado, ainda presente na miséria, e o nascimento do Aimará do futuro.
Evo, que causa urticária em Reinaldo Azevedo, é uma extensão disso: plantador de coca nas altitudes bolivianas, conhece de perto o processo neoliberal local. Por isso, identificou na política estadunidense algumas semelhanças da invasão européia. Desfez então, os acordos firmados com as empresas européias e americanas. Fechou as refinarias da Petrobrás, o que fez com que a oposição exigisse de Lula, represarias imediatas, na economia ou na bala, para que Evo voltasse atrás. Em setembro de 2008, Veja declarou: “Evo fragmentou a Bolívia”. Que Bolívia? O país está dividido em 36 nações indígenas, as mesmas que Veja declarava ser um absurdo, ganharem autonomia política. Morales, nosso Aimará do Futuro é, uma ramificação das “veias abertas da América Latina” de Galeano, ou dos homens que agem “por medo da fome” de Ariano Suassuna. As Classes média e alta bolivianas, que nunca absorveram indígenas, acusam Morales de “cubanizar” o país. E que mal há nisso? O país não teria o menor PIB e nem os piores índices de desenvolvimento econômico e social do continente. Não a toa, Azevedo (em11/9/08) e Mainardi em outros artigos se mostraram assustados com Evo. Ele representa o basta da miséria, numa insurgência natural contra os senhores de terra bolivianos. Enquanto isso, o sonho nostálgico dos safados de Veja, de Cambio e da Globo é o inferno neoliberal , mas que graças a deus, não volta mais.
Fabiano da Costa, 15 de junho de 09.

A Nau e as caravelas.

Em 1498, os portugueses chegaram a foz do Rio Amazonas. A idéia deles, sempre foi a de expandir o mercado e os entrepostos de comércio da Coroa portuguesa. Não havia mal nenhum em conquistar novos espaços, levando a “cristandade” consigo e explorando o solo ao máximo. Se os entusiastas do progresso da modernidade alegam que sem os portugueses não teríamos o feijão e nem a Cana de açúcar (esse símbolo incontestável da nossa brasilidade), eu por minha vez, digo que teríamos mais alguns milhões de índios, falaríamos outro idioma (entre o espanhol e o Tupi) e estaríamos num outro estágio do nosso capitalismo. Isso por que os portugueses nos engessaram. Não permitiram o desenvolvimento de um mercado consumidor, por que não nos permitiam ter consumidores. A grande massa de escravos não tinha poder aquisitivo. Não tínhamos indústria, comprando os manufaturados primitivos da metrópole, e enviando a matéria prima. Há quem diga, que os lusos desenvolveram o capitalismo arcaico por aqui: Retiravam a matéria prima, devolvendo os produtos altamente taxados, já manufaturados. No campo, em volta das capitanias e das sesmarias, se desenvolveram os mini-feudos, que Décio Freitas adorava questionar. Se o nosso senhor feudal não era livre da Coroa, por outro lado, fazia leis próprias e castigava impunemente os escravos e os seus servos, brancos pobres e de tão livres, desgarrados até pela lei. Eram uma presa, na mão dos senhores, ou da inquisição brasileira.
1531: Aportaram os primeiros escravos domésticos. Com os indígenas iniciam a saga do operariado brasileiro. Sem o conceito exportado pelos lusos, não teríamos as empregadas domésticas, que a meu ver, são a maior prova da colonização da Casa Grande. Uma empregada doméstica, na ótica do capital, corresponde a quem deve desenvolver atividades secundárias (braçais) enquanto seu senhor se dedica a atividades intelectuais. Não à toa, em Cuba, foram proibidas por Fidel. Ninguém pode tolerar a idéia de que é sadio sentar a mesa e pagar alguém para um trabalho braçal, degradante, humilhante. O que torna essa função humilhante, não é o trabalho desenvolvido, mas como isso se impõe. É uma pena que a classe média tenha se habituado a isso. Como disse Márcia Goldschimidt (grande referencia intelectual dos programas da tarde), uma empregada tem de se aprimorar em lavar e passar e melhorar o seu trabalho como um todo, e não investir em inglês e informática. Afinal de contas, a essência de nosso desenvolvimento capitalista, é a concorrência, e uma empregada deve estar preparada para atender melhor o seu senhor.
Hoje, o Brasil é a nau mais desenvolvida da América Latina. Tem um parque industrial com níveis tecnológicos de primeiro mundo. Por outro lado, mais da metade da população nem sequer conhece as caravelas que traziam os degredados a serem servos de sua alteza, mas sim a realidade do Navio negreiro. Até 2004, 50% dos brasileiros não faziam as três refeições mínimas diárias. Portanto, são o lúmen-proletariado a que se referia Marx, prontos para encararem funções de altíssima capacidade, mas por um salário abaixo do mercado. Nessa massa, estão os nossos metalúrgicos, que ganham 3 vezes menos que os irmãos europeus. É o nosso capitalismo: voraz e sem capital. Não há nenhum liberal que explique isso. Só o tucano. Ele se baseia em Keynes, sem lembrar que John Keynes pensava no liberalismo como fonte de riqueza geral e com certa descentralização, pois o capital seria repartido, ainda que desigualmente, mas dando o mínimo de conforto ao empregado, gerando poder de consumo à classe média. Entre Keynes e os tucanos, existiu Delfim Netto. Delfim se propôs a construir um modelo híbrido, com estatais sustentadas por empréstimos estrangeiros. Mais estatais a capital estrangeiro e uma economia privada com os banqueiros cobrando juros altíssimos da dívida brasileira. Ele e Roberto Campos desenvolveram isso com maestria. Estudaram anos a finco para planejar algo que até um cego enxerga estar errado. Afinal, investir em dívida social por tabela, no déficit das contas públicas, é até para os estatizantes, um erro grosseiro. O que me faz pensar em tudo isso, é que nossa Nau não tem motores e nem as velas portuguesas, e nem a velocidade dos navios negreiros. Estamos sim, em um veleiro, perdidos em alto mar e sempre a mercê dos tubarões da economia mundial, por uma série de planos furados, projetos falidos e uma repetição de erros históricos. Ou isso, ou batemos num iceberg: A fria em que os tucanos nos meteram por 8 anos.

Fabiano da Costa, 2 de junho de 2009.

A Grande mala coreana.


Kim Jong Il é uma mala. Virão diplomatas dizer ao contrário, mas é uma mala. É o último bastião do Stalinismo, e se orgulha disso. Kim Jong Il sorri. E quando sorri, faz questão que o restante da população também sorria, e com dentes limpos, brancos e firmes, contra o imperialismo. Sua megalomania apavora o planeta. Nos anos 90, durante a grande fome que vitimou milhões de pessoas na Coréia do Norte, com a desculpa de não ser envenenado pelo imperialismo, importou sua comida direto da Europa (!?). Para mostrar a disciplina do povo, os acorda todos os dias as 7 e meia da manhã, com auto-falantes nas esquinas. Controla o telefone e por lei, pode violar toda a correspondência. Esse maníaco (na verdade um híbrido de maniático, com alguém que recebeu o poder sem limites), agora vive de fazer chantagem com os EUA. Quando o Porco espinho da Coroa Norte-coreana quer alguns mísseis, ameaça a menina dos olhos estadunidenses: A Coréia do Sul. Ou estamos vivendo uma grande chantagem universal, ou Kim Jong Il é a personificação da maior tramóia política do novo século.
Na terça-feira, dia 9 de junho, as agências de notícias anunciaram que tanto EUA, quanto Rússia e China aumentaram seus arsenais militares. Não se sabe para que guerra se preparam, mas se cogita que com as ameaças constantes de Pyongiang, essas potências bélicas passaram a se armar para um conflito com o maníaco do extremo norte asiático. Mentira. Todo o planeta sabe que a Coréia do Norte não atacaria os EUA, muito menos a China ou a Rússia, seus vizinhos. Kim Jon Il passou a ser a grande desculpa para resolver a crise: Estão aumentando as ofertas de emprego na indústria bélica estadunidense. Na China, a indústria metalúrgica aumentou o ritmo: Submarinos, mísseis, torpedos, helicópteros. No Japão, que teve um decréscimo econômico de 9,5% em 2008, já se cogita um esforço de guerra para frear os terríveis comunistas de Piongyang. Kim Jon Il não é por inteiro uma praga para o Planeta Terra, como se pode ver. Ele faz tanto pela economia mundial, quanto George Bush filho.
Em 2005, acessando o site www.vermelho.org (do PC do B) li algo que me embasbacou: No presente escrito, se elogiava a empreitada da Coréia do Norte na “Construção do Socialismo!”. A própria Esquerda tolerar o regime da Coréia do Norte é um absurdo! Aquilo representa tudo o que deu errado na Esquerda nos últimos 50 anos. A própria desconstrução da Esquerda não é só obra do imperialismo Yanquee, mas fruto da sua incompetência em corresponder à práxis marxista. Kim Jong Il não chegou ao poder por uma revolução. Com a morte do pai, Kim Il Sun, guerrilheiro contra a invasão japonesa na segunda guerra e amigo de Stalin, ele ascendeu ao poder em 1984. Desde lá, a oposição interna no próprio PC (Partido Comunista) sofre o efeito estufa: Aquece, incha, e simplesmente desaparece. O maníaco, sentado sobre o seu pequeno arsenal, consegue intimidar a todos: Já meteu o rabo de Bush entre as pernas e não teme nem a Vladimir Putin. (A ONU já cogita uma medida extrema: Mandar o amigo Lídio Lima para fazer os acordos necessários e selar a paz, dando todo o Japão de presente a ele).
Isso tudo me lembrou um fato curioso da História: Durante a Guerra fria, a paranóia era tanta que a União Soviética desenvolveu objetos do quotidiano com potencial nuclear. Um deles, uma curiosa série de malas, esquecidas em metrôs e praças, que ao serem abertas causariam explosões atômicas. Cheguei a conclusão, depois de algum tempo, que há uma ligação forte em muitas estarem perdidas até hoje e toda essa crise nuclear, souvenir de uma Guerra fria. Kim Jong Il é uma dessas malas, com tecnologia soviética, potencial atômico, e que causa a náusea típica da política de qualquer império.

Fabiano da Costa, 11 de junho de 2009.

A Língua do tamanduá na reeleição sem limites.


Em 1997, eu fui um dos que abriu a boca: A emenda da reeleição era tão estapafúrdia que quebrava a estabilidade política do país. Não que ela seja antidemocrática. Se uma gestão é boa, pode ser reeleita quantas vezes a maturidade da democracia suportar. O problema é quando o jogo começa de uma maneira, e as regras são alteradas durante seu exercício. Foi assim em 1997, quando a base aliada de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, PMDB, PFL, PL, PTB...) negociou e comprou a emenda da reeleição no congresso. A Esquerda, argumentou que a regras não poderiam ser mudadas na véspera de uma eleição presidencial. No entanto, a emenda foi aprovada no Congresso, o que permitiu a FHC ser reeleito no ano seguinte. Agora, a mesma base que deu a reeleição a FHC, argumenta ser golpe o projeto de o Brasil adotar a Reeleição sem limites, modelo emprestado da Venezuela. Como se vê, são dois pesos e duas medidas. Sempre.
E o que fomenta essa discussão? Os altos níveis de popularidade de Lula e a doença da então candidata Dilma Roussef. Na verdade, desde Getúlio Vargas, um presidente não havia conquistado tanta confiança. O crescimento da economia e a grande presença do Estado nos setores sociais são causas dessa popularidade. Entretanto, Lula, não aceita a reeleição sem limites. Aliás, sempre deixou claro: É contra qualquer reeleição, e a favor de um mandato finito de 5 anos. Lula, como se vê, e como provam até mesmo os críticos, não foi picado pela mosca azul. É uma pena que só Diogo Mainardi não comprove isso. Ele acha que Lula trama algo. E se Lula fosse a favor da reeleição, também acharia que Lula estaria tramando.
Em meu ver, reeleição sem limites é um perigo. Nem por isso, ela deixa de ser legítima pelo tramite democrático, afinal quem decide nesse processo, são as urnas. O problema é que as regras não podem ser mudadas durante o jogo. Isso efetiva o que foi chamado de “prática de Gilmar”, ou seja: Começamos com uma regra no jogo, e de acordo com o que vai acontecendo no mesmo, as regras podem ser mudadas ou mantidas. A situação venezuelana é diferente: Chavez é um milico perigoso, mas tem apoio total da população, no que tange a políticas sociais firmes, investindo os lucros do petróleo em educação e saúde. Nem por isso, eu acho que a reeleição sem limites de Chavez é menos perigosa. O que há, é que na Venezuela, a discussão acerca da democracia baseada em eleições é recente. Assim como na Bolívia. Lembre-se que quem mais ataca Evo e Chavez hoje, é quem justamente propiciou o momento político dos dois: As multinacionais, os fazendeiros, os agiotas políticos e a corja mantida e suportada pelos interesses estadunidenses na região, que centralizando a renda, polarizaram a miséria. No Brasil, a discussão está mais avançada. É bem verdade, que mesmo assim, quem a propicia, não está nela pela compreensão da democracia como um regime que precisa de reparos e de avanços, mas sim por ver na mesma, interesses específicos. Tanto a campanha de Dilma Roussef como a empreitada Petista de dar uma reeleição sem limites a Lula tem a mesma face: Um projeto de poder por décadas. Se isso é positivo para o país ou não, não é a discussão para esse momento.
Lula, por sua vez, não deveria estar assustado com a turba enfurecida na oposição, onde estão José Agripino e ACM Neto, e nem com a já tão comentada candidatura de Aécio Neves, mas sim com os seus aliados na câmara e senado. Quem tem José Sarney, Fernando Collor e Romero Jucá como aliados políticos, deve dormir com os dois olhos abertos e nem mesmo pensar em reeleição, mas sim, cuidar-se ao máximo para concluir seu segundo mandato sem levar uma cama de gato.

Fabiano da Costa, 9 de junho de 2009.
Fonte da imagem: blog Humor do Novaes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A política do devaneio em Terra brasilis.

Não é muito tarde para começar a escrever. Ainda há tempo para um café, escutando aquele LP do Milton, ainda resta tempo para fazer amor. É uma pena que essas invenções, que essas genialidades, que essa tecnologia demore tanto a me chegar. Eu tenho me sentido embasbacado com esse novo mundo. Não somente pelo imenso número de luzes a brilhar, mas por todo esse discurso que emana nas noites de sexta. Quando sinto tua falta, coloco uma música brasileira ou passo um café. Isso não garante tua volta, mas me aponta sempre, à frente, o que eu sinto durante a saudade: falta de diálogo.
Já é um a tradição de terra brasileira: Os cargos públicos de maior envergadura agem sempre como se fossem privados, sob interesses nem sempre claros. É nebuloso o caminho da política, por que a construção de práticas dirigidas à coletividade, é substituída por uma idéia fixa de que alguém eleito legisla sobre si mesmo. Ora, um deputado ou um senador são delegados populares. Deveriam, em tese, votar sempre de acordo com sua base. Ou seja, eles são um voto na contagem, mas devem representar os votos de uma coletividade. Isso, em uma democracia madura e socialista, não deveria ser novidade. Se o sistema dos Soviets falhou, não é a democracia burguesa da representatividade que lhe substituirá com ares de redenção. A solução é o fim da anomalia do sistema bicameral. Assim, os deputados remanescentes, seriam substituídos por delegados (o que em tese já deveriam ser). A volta de Collor ao senado, além de um acidente, transformou-se em desastre com sua ascensão ao Conselho de ética. Como pode presidir a comissão de ética, alguém deposto por corrupção? Collor de Mello, seria em tese, um delegado?
No STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa foi a voz da coletividade. Não há canto nesse país, que não reconheça a figura de Gilmar Mendes (como já fora anteriormente postado aqui), como um espécime do coronelismo renovado, com a substituição da Casa Grande pela fazenda do Agro-business. Isso é uma analise histórica, um reconhecimento dessa brasilidade imposta, mas que nos conquistou. Ora, é preciso discutir, debater, propor e aceitar a proposta. Já dizia o poeta “Um país é feito de livros e de homens” (na verdade o contista Monteiro Lobato). Não há o que se discutir. Não vamos construir o socialismo em alguns dias, nem fazer a revolução em alguns meses. Por enquanto, o que nos resta, é lutar pela elasticidade de nossa democracia. Que o Estado cumpra a sua parte, por que ele é naturalmente, formado pelo “nós”. Não existe um ente chamado “Estado”. Não existe um indivíduo que anda por aí, usando o nome Estado da Silva. O problema do Estado (já diria Robbes) é a máquina burocrática, o grande depositário de parasitas e lampreias (boa definição dada pelo amigo Lídio Lima), o corporativismo, o vício de usar a máquina em nome do individual. Não é então ele, o culpado, mas o que fazem dele.
Eu sou sim, uma companhia desagradável. Não consigo, por mais que queira, ficar sem exercitar o meu senso crítico. E começo por mim. As minhas angustias transcendem entre o anarquismo e o marxismo. Não pode haver um Estado que simplesmente esmague o indivíduo. O indivíduo é parte do que forma o Estado. As liberdades individuais devem ser garantidas, respeitadas, constitucionalizadas. Devem ser, enfim, vividas. Considerar que a liberdade pode ser ampla e completa sem o anarquismo (essa teoria maravilhosa de gente como Kropotkin) é uma miragem, um engano. Por outro lado, achar que por si só, o anarquismo garante todas as liberdades é um divagar sem fim. A função do Estado, segundo Karl Marx, é legislar, organizar, ser de todos, e deixar de existir assim que o Estado não tiver mais nenhuma função. Isso, em meu ver, não é possível de imediato. A transição para o anarquismo só é possível, após o socialismo. Passar ao comunismo libertário, sem a etapa cientifica é impossível. O Capitalismo não permite que esse estágio seja negável. São divagações, como bem sabes...
E por falar em divagações, mais cientistas tentam definir a fórmula do amor. A ciência tem um problema, desde a Grécia: Achar que explica, resolve e transforma tudo em equação. Não são meramente os números que regem os Homens. É uma gama de acontecimentos, de reações biológicas e de fatores psico-sociais. O que é o amor, como pergunta, é de uma impossibilidade de haver resposta. Na verdade, o que sabemos, dentro do conhecimento cristão, é que ele não é ciúmes, não é inveja e não age por si próprio. Ou seja, quem ama, pode vir a sofrer, mas não quer incidir este sofrer a outro. O que há nele, de tão estranho, é que a liberdade de um indivíduo passa a ser concedida a outra pessoa. Isso nem sempre predispõe a uma escravidão, a uma prisão, mas uma sentença consentida, por um suposto livre arbítrio. Ninguém, fora da idealização, poderá defini-lo. Não é o tipo de pergunta que nos faz perder o sono. Simplesmente não há resposta. É amor, e tão somente isso. Os cientistas, que já estão na borda da ciência, deveriam compreender que entre outras, duas coisas não nasceram para ser definidas e explicadas: Amor e Arte. Por isso, elas machucam, mas sempre tem seus reincidentes, por que não esgotaram suas probabilidades.

Fabiano da Costa, quinta, 28 de maio de 09.

Obama sai do anonimato.


Isso é incrível, mas desde que Obama foi eleito, nunca escrevi uma linha sobre ele. Fui um dos poucos a resistir à essa tentação, à esse fenômeno pop, à esse astro reluzente da falida constelação que outrora iluminava a economia mundial. Barack Obama brilha na dimensão dos holofotes, mas como já disse aqui, tem a mesma funcionalidade de um discurso de Delfim Netto: nenhuma. Delfim é um grande economista, escreve e faz articulações ótimas entre historia e economia (como se não o fosse possível faze-lo), mas suas propostas não me atraem: É um Keynesiano piorado, que acha que os números salvam muitos milhões de pessoas, pelo sacrifício de alguns outros milhões. Obama é assim: Pop. Ele acha que se o mundo trabalhar pelo bem dos EUA, em efeito cascata, a própria economia americana poderá reaquecer o crescimento mundial, e por tabela, remover os pobres para a classe média, gerando consumo para os próprios estadunidenses. Complicado? Não para um liberal convicto.
Obama não vai resolver os seus problemas. Ele não pode reconstruir o Éden. Os americanos, aliás, só desenvolveram uma coisa em prol da unificação mundial: A Bomba atômica. Em alguns segundos, todos nós, dispersos por etnias, religiões e torcidas de futebol, poderíamos morrer juntos, abraçados, num fulminante ataque nuclear. Em 1988, os EUA já tinham arsenais o bastante para destruir todo o planeta por 47 vezes consecutivas. Quando chegou na presidência dos EUA, Obama descobriu que ele só era, de fato, o presidente. Quem manda nos EUA, e em decorrência nas demais terras do Império (por mais que isso soe clichê) são os donos das fábricas de armas e as petrolíferas. É como voltar ao inicio da modernidade: Os espanhóis e os portugueses não tinham como manter todos os territórios que dominavam. Para isso, faziam um truste de empresas através da coroa holandesa. Assim, era terceirizado o gerenciamento da produção e do comércio nas colônias. Deste mesmo modo, os EUA estão saqueando o Iraque: Mandaram para lá, um lobby de empresas estadunidenses e inglesas, como petrolíferas e empreiteiras. E claro, mercenários e ONG´s. O Rei Barack Obama, por sua vez, só carimba os relatórios.
Na década de 1960, surgiu nos EUA, a chamada Pop Art. A Arte “do consumo” era um movimento maravilhoso e debochado, mas com um lado sério. Afinal de contas, ela contestava justamente aquilo que mais nos irrita: O grande edifício da mídia e do consumo, a grande vertente de ícones facilmente consumíveis e de objetos, fabricados, comprados e jogados ao lixo, aos milhões. A Pop Art abriu em definitivo o caminho para a contemporaneidade na Arte. Entre os artistas desse movimento, o genial (e mega consumista) Andy Wahrol, que dizia que no futuro, qualquer um teria seus “15 minutos de fama”. Obama, assim como outro “qualquer um” tem lá esses 15 minutos, ainda que diários. Mas na prática, não é um político, nem alguém que tenha relevância política na conjuntura caótica e belicista americana. É, como dissemos, um Pop. É um fenômeno de vendas, em jornais e revistas, sites e blogs quaisquer. No Youtube e no Google, assim que eleito, seu nome era o mais citado. Chegou a dizer o Kossaco Arnaldo Jabor, fazendo uma analogia com a Coca Cola: “Beba Obama”.
Na contramão, Fidel Castro tem emitido comentários explosivos contra Obama. Aliás, Fidel analisa como ninguém os ícones Pop dos nossos dias, apesar da bola fora que deu em alegar que a gripe suína era mais uma armação Yankee. Foi Fidel que desmontou Bill Clinton antes da estagiaria Monica Levinsky; que disse que a Perestroika não daria certo; e que haveria uma polarização anti-USA na América latina após o neoliberalismo, justamente pelo agravamento da miséria. Quem sabe, nós também não transformamos Fidel em um ícone Pop? Como Esquerda, sempre achei a foto de Córdoba estampando Che de uma beleza inigualável. Fidel, é também, um ícone Pop: Ele existe naturalmente, mesmo sem mídia. Em Rio Grande, temos Angelina Gonçalves, mas foi um ícone perigoso para as famílias tradicionais da cidade. Sobre Obama, ele será Pop e terá seus 15 minutos, mas depois, como qualquer Kitsch que se preze, sumirá e seus vestígios serão assuntos para arqueólogos.

Fabiano da Costa, sábado, 30 de maio de 2009.