quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um país exótico.


Anos atrás, uma escritora francesa esteve no Brasil (devido a minha ignorância, não lembro seu importante nome) e disse ter ficado maravilhada com o país: Seu exotismo era tão exuberante que juntava papagaios, pessoas sorridentes, índios com lanças e o verde das florestas. Segundo ela, achou aqui também, uma espécie em extinção: Comunistas. Sim, esta senhora disse ter encontrado até Comunistas no Brasil! Isso, em 1999, foi o máximo para mim. Achava eu, que aqui ainda era o refúgio da Esquerda, pois o país é auto-suficiente. O Brasil não precisa importar medicamentos, por que vende matéria prima para fazê-los. Não precisa importar alimentos, por que produz 15% do que o mundo consome. Não precisa comprar água nem energia por que temos cerca de 10% da água potável do planeta. Ufanista? Pode me chamar de Policarpo Quaresma. Prazer em conhecê-lo.
Em 1999, o Brasil estava a beira de um colapso. Para quem não lembra, a crise econômica que arrebatou os tigres asiáticos e a Rússia entre 99 e 2001, ameaçava ser a crise de 2008. Qualquer economista avisava: Nos próximos 10 anos o Capitalismo quebra. Não quebrou, mas em compensação mostrou que o Capitalismo é inviável, e que os neo-liberais são contra o Estado até a primeira baixa nas bolsas. Em junho daquele inesquecível ano, Leonel Brizola me arrancou lágrimas. Pediu que FHC e sua quadrilha deixassem o país, que nos esquecessem e sumissem para gastar com os gringos, o que levaram com a venda das Estatais. “Senhor Presidente [FHC], nos deixe ao menos viver com dignidade. Renuncie. Vá embora do Brasil”. FHC não renunciou e sucateou o país ao extremo. Nunca tanta gente passou fome nesse país. Nunca, uma teoria econômica, construída por economistas, antropólogos, filósofos e até por um sociólogo deu tão errado. Era o jogo de dominó dos Neo-liberais: Quebrando um, faliam todos. Era a democratização da miséria – mas somente para os mais pobres. Diversos estudos mostram que o poder aquisitivo da burguesia brasileira (diluída na classe média) aumentou consideravelmente, o que lhe permitiu inclusive, renovar a frota nacional de veículos. Por outro lado, as mesmas pesquisas são unânimes: Quem sustentou esse enriquecimento foram os 50% mais pobres do país. Deles, a grande maioria mudou de classe. Deixou de ser pobre, para ser miserável. São Paulo, por exemplo, bateu o recorde de gente morando nas ruas e viadutos. FHC empreendeu um grande projeto de moradia. Qualquer ponte virava casa, rapidinho.
Sim, somos um país exótico. Esta senhora tem razão. O único país com imensa maioria branca, onde os brancos ocupam mais de 85% das vagas das universidades públicas e mesmo assim, o Governo federal optou por remarcar reservas indígenas, ceder sistemas de cotas para brancos pobres, negros e índios no ensino superior, e ainda, desenvolver o maior programa de alimentação no mundo: O Fome Zero. Depois de FHC, Lula procurou colocar comida no prato da população. Fez os acordos mais esdrúxulos, as uniões mais insólitas, os apertos de mão mais repugnantes, mas qualquer órgão da ONU é unânime em alegar que o número de miseráveis diminuiu enquanto o brasileiro hoje come mais e melhor. O Brasil é o paraíso? Claro que não. Óbvio que não. Mas para quem viveu o período FHC com olho clínico, não há sequer comparação. Claro, a não ser para a Direita, que não liga se alguém morre de fome. Os reacionários de plantão já escolheram Aécio Neves como seu candidato. Em Minas Gerais, os sindicatos ligados à comunicação já denunciam: O homem aperta qualquer jornaleco ou Rádio Comunitária que falar dele. Aécio, portanto, é a democracia que o Brasil precisa.
Temos ainda papagaios, alguns índios e alguns pés de Pau Brasil. FHC homenageou os portugueses. Segundo o sociólogo da Sorbonne, eles nos trouxeram a civilização. Os índios, como ainda se pensa em muitas salas de aula do ensino superior, eram apenas um entrave para isso. Precisam de liquidificadores, de Internet, e claro, de suco Tang, por que colher frutas dá trabalho, e ser moderno é minimizar o esforço. Nossos acadêmicos brancos e dominantes, sustentados pelos brancos pobres que não entram na Universidade e pelos negros que não serão seus colegas, agora querem acabar com a ignorância dos índios. Democracia é necessária e faz bem.
Quanto ao país exótico, ele está bem aqui. Dentre os micos-leão dourado e os peixe boi, em meio às piranhas do Rio Amazonas e os jacarés do Pantanal, e até perto das Capivaras do Taim, existem os temíveis comunistas. Podem de fato, estar até entre as esculturas de Aleijadinho, no Carnaval da Sapucaí, e pasmem, no meio do Governo Lula. São uma criação da pobreza brasileira e das contradições de nosso período colonial. São, na verdade, resquícios da insuficiência teórica de nossos liberais e da incompetência de nossos economistas, que nunca inventaram nada. Só mudaram a rota para onde ia o que era saqueado. O Próprio MST é uma herança da miséria gerada num país de proporções continentais, onde ainda existem Governadores Gerais e até sesmarias, que produzem em sistema pré-feudal. Sim, somos exóticos, mais coloridos, mais antropofágicos e temos comunistas. O que nos intriga é que um europeu esteja mais absorto com a sobrevivência da nossa Esquerda, do que com as colônias de pedofilia que eles mesmos, os turistas, subsidiaram. Mas isso não é discutível, por que somos neolíticos, e como consideram os acadêmicos, incapazes de discutir nós mesmos, o nosso futuro.

Fabiano da Costa, 22 de março de 2009.
Imagem: Araras brasileiras e comunistas. Autor desconhecido.

2 comentários:

Anônimo disse...

Puxa...alguns neo-liberais de plantão que circulam no mundo blogosférico (os dois personagens hilários que postam ignorâncias mascaradas de sapiência e resolução para o seus problemas como a marca Tabajara) iriam te trucidar com esse texto. Fosse falar mal justo do amigo Aécio...

A última do Aécio é que ele propos ao Serra os dois sairem juntosspelo país, para "conhecerem os problemas do Brasil". O Serra ficou numa sinuca de bico danada...

Mas enfim, o exotismo ainda anda pelas páginas dos jornais, FCH-Sarnei-Lula são, no mínimo, exóticos tirando fotos juntos.

Manoel disse...

“Puxa...alguns neo-liberais de plantão que circulam no mundo blogosférico (os dois personagens hilários que postam ignorâncias mascaradas de sapiência e resolução para o seus problemas como a marca Tabajara)”

O Lidio no texto “UM PROBLEMA DA ESQUERDA", levanta a questão da falta de senso de humor presente nos esquerdistas, sem dúvida uma grande verdade da qual o Fabiano é um ótimo exemplo, sempre avesso a metáforas, exageros e brincadeiras, não sei se por não as compreender ou se é algo mesmo intrínseco a personalidade esquerdista. Mas além desse ponto trabalhado pelo Lidio outra coisa que chama muito a atenção nos esquerdistas em geral, é a falta de franqueza e de inteligência, evidentemente. O trecho destacado por mim denota muito bem essas duas coisas, a começar pela franqueza, o colega Felipe ao invés de se referir a mim e ao Diego de maneira direta, esculhambando nossas posições, claramente contrárias as dele, não faz isso e sim cria um rodei enfadonho deixando explícita a sua falta de veemência intelectual. Quanto à inteligência é no mínimo estranho considerar que no blog contraponto haja ignorância e aqui não. Respondendo apenas por mim, nos últimos textos estime comprometido com o ensino desvinculado do proselitismo político e com os direitos da mulher, como deve ser um bom liberal. Entretanto acredito que isto seja mesmo ignorância para vocês que preferem o oposto e isso é fácil de observar nesse blog recheado de elogios ao criminoso estado de Cuba. Por fim é até mesmo triste ver que o universo blogueiro só é bom se for para satisfazer os elogios de uns para com os outros. Qualquer posição contrária passa a ser ofensa e desrespeito. Quanto a mim tenho certeza que jamais ofendi o autor deste blog (como ele afirma no blog do Felipe) e só o que posso sugerir é que relembremos intelectuais como Voltaire e Paulo Francis, que se preocupavam muito mais com o embate intelectual do que com choramingar ofensas.