terça-feira, 2 de junho de 2009

A política do devaneio em Terra brasilis.

Não é muito tarde para começar a escrever. Ainda há tempo para um café, escutando aquele LP do Milton, ainda resta tempo para fazer amor. É uma pena que essas invenções, que essas genialidades, que essa tecnologia demore tanto a me chegar. Eu tenho me sentido embasbacado com esse novo mundo. Não somente pelo imenso número de luzes a brilhar, mas por todo esse discurso que emana nas noites de sexta. Quando sinto tua falta, coloco uma música brasileira ou passo um café. Isso não garante tua volta, mas me aponta sempre, à frente, o que eu sinto durante a saudade: falta de diálogo.
Já é um a tradição de terra brasileira: Os cargos públicos de maior envergadura agem sempre como se fossem privados, sob interesses nem sempre claros. É nebuloso o caminho da política, por que a construção de práticas dirigidas à coletividade, é substituída por uma idéia fixa de que alguém eleito legisla sobre si mesmo. Ora, um deputado ou um senador são delegados populares. Deveriam, em tese, votar sempre de acordo com sua base. Ou seja, eles são um voto na contagem, mas devem representar os votos de uma coletividade. Isso, em uma democracia madura e socialista, não deveria ser novidade. Se o sistema dos Soviets falhou, não é a democracia burguesa da representatividade que lhe substituirá com ares de redenção. A solução é o fim da anomalia do sistema bicameral. Assim, os deputados remanescentes, seriam substituídos por delegados (o que em tese já deveriam ser). A volta de Collor ao senado, além de um acidente, transformou-se em desastre com sua ascensão ao Conselho de ética. Como pode presidir a comissão de ética, alguém deposto por corrupção? Collor de Mello, seria em tese, um delegado?
No STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa foi a voz da coletividade. Não há canto nesse país, que não reconheça a figura de Gilmar Mendes (como já fora anteriormente postado aqui), como um espécime do coronelismo renovado, com a substituição da Casa Grande pela fazenda do Agro-business. Isso é uma analise histórica, um reconhecimento dessa brasilidade imposta, mas que nos conquistou. Ora, é preciso discutir, debater, propor e aceitar a proposta. Já dizia o poeta “Um país é feito de livros e de homens” (na verdade o contista Monteiro Lobato). Não há o que se discutir. Não vamos construir o socialismo em alguns dias, nem fazer a revolução em alguns meses. Por enquanto, o que nos resta, é lutar pela elasticidade de nossa democracia. Que o Estado cumpra a sua parte, por que ele é naturalmente, formado pelo “nós”. Não existe um ente chamado “Estado”. Não existe um indivíduo que anda por aí, usando o nome Estado da Silva. O problema do Estado (já diria Robbes) é a máquina burocrática, o grande depositário de parasitas e lampreias (boa definição dada pelo amigo Lídio Lima), o corporativismo, o vício de usar a máquina em nome do individual. Não é então ele, o culpado, mas o que fazem dele.
Eu sou sim, uma companhia desagradável. Não consigo, por mais que queira, ficar sem exercitar o meu senso crítico. E começo por mim. As minhas angustias transcendem entre o anarquismo e o marxismo. Não pode haver um Estado que simplesmente esmague o indivíduo. O indivíduo é parte do que forma o Estado. As liberdades individuais devem ser garantidas, respeitadas, constitucionalizadas. Devem ser, enfim, vividas. Considerar que a liberdade pode ser ampla e completa sem o anarquismo (essa teoria maravilhosa de gente como Kropotkin) é uma miragem, um engano. Por outro lado, achar que por si só, o anarquismo garante todas as liberdades é um divagar sem fim. A função do Estado, segundo Karl Marx, é legislar, organizar, ser de todos, e deixar de existir assim que o Estado não tiver mais nenhuma função. Isso, em meu ver, não é possível de imediato. A transição para o anarquismo só é possível, após o socialismo. Passar ao comunismo libertário, sem a etapa cientifica é impossível. O Capitalismo não permite que esse estágio seja negável. São divagações, como bem sabes...
E por falar em divagações, mais cientistas tentam definir a fórmula do amor. A ciência tem um problema, desde a Grécia: Achar que explica, resolve e transforma tudo em equação. Não são meramente os números que regem os Homens. É uma gama de acontecimentos, de reações biológicas e de fatores psico-sociais. O que é o amor, como pergunta, é de uma impossibilidade de haver resposta. Na verdade, o que sabemos, dentro do conhecimento cristão, é que ele não é ciúmes, não é inveja e não age por si próprio. Ou seja, quem ama, pode vir a sofrer, mas não quer incidir este sofrer a outro. O que há nele, de tão estranho, é que a liberdade de um indivíduo passa a ser concedida a outra pessoa. Isso nem sempre predispõe a uma escravidão, a uma prisão, mas uma sentença consentida, por um suposto livre arbítrio. Ninguém, fora da idealização, poderá defini-lo. Não é o tipo de pergunta que nos faz perder o sono. Simplesmente não há resposta. É amor, e tão somente isso. Os cientistas, que já estão na borda da ciência, deveriam compreender que entre outras, duas coisas não nasceram para ser definidas e explicadas: Amor e Arte. Por isso, elas machucam, mas sempre tem seus reincidentes, por que não esgotaram suas probabilidades.

Fabiano da Costa, quinta, 28 de maio de 09.

4 comentários:

Lidio Lima Jr disse...

Vou comentar só sobre as questões politicas, vou deixar os devaneios por tua conta e risco.
Quase que não venho comentar porque nós já estamos bem adiantados nesses assuntos de tanto descuti-los, visto que na FURG a maioria das pessoas não é dada ao debate, deve ser efeito de uma democracia infantil(tão infaltil que normalmente defeca nas fraudas como nesse caso do Collor.
Mas comento para fomentar mais comentarios. Vou deixar como ponto para comantarmos um trecho do artigo "Por que não sou conservado" de Friedrich Hayek:
"Voltemos, porém, ao assunto principal, que é a característica complacência dos conservadores com os atos da autoridade estabelecida e sua preocupação primordial de que essa autoridade não seja enfraquecida e não de que seu poder seja mantido dentro de certos limites. Isto não se concilia com a preservação da liberdade. Em termos gerais, poderíamos afirmar que o conservador não se opõe à coerção ou ao poder arbitrário, desde que utilizados para fins que ele julga válidos. Ele acredita que, se o governo for confiado a homens probos, não deve ser limitado por normas demasiado rígidas. Como se trata de indivíduo essencialmente oportunista e desprovido de princípios, ele espera que os bons e os sábios governem, não meramente pelo exemplo, como todos queremos, mas por uma autoridade a eles conferida e por eles exercida (8). Como o socialista, o conservador preocupa-se menos com o problema de como deveriam ser limitados os poderes do governo do que com o de quem irá exercê-los; e, como o socialista, também se acha no direito de impor às outras pessoas os valores nos quais acredita. Quando digo que o conservador carece de princípios, não quero com isso afirmar que ele careça de convicção moral. O conservador típico é, de fato, geralmente um homem de convicções morais muito fortes. O que quero dizer é que ele não tem princípios políticos que lhe permitam promover, junto com pessoas cujos valores morais divergem dos seus, uma ordem política na qual todos possam seguir suas convicções. É o reconhecimento desses princípios que possibilita a coexistência de diferentes sistemas de valores, a qual, por sua vez, permite construir uma sociedade pacífica, com um emprego mínimo da força. Sua aceitação significa que podemos tolerar muitas situações com as quais não concordamos. Há muitos valores conservadores que me atraem mais do que muitos valores socialistas, porém a importância que um liberal atribui a objetivos específicos não lhe serve de justificativa suficiente para obrigar outros a submeter-se a eles. Não duvido que alguns de meus amigos conservadores ficarão chocados com as “concessões” às opiniões modernas que eu teria feito na Parte III deste livro. Contudo, embora possa não gostar, tanto quanto eles, de algumas das medidas mencionadas e até votasse contra elas, não conheço nenhum princípio geral ao qual recorrer para persuadir os que têm opinião diferente de que tais medidas são inaceitáveis na sociedade que eu e eles desejamos. Para conviver com os outros é preciso muito mais do que fidelidade aos nossos objetivos concretos. É necessário um comprometimento intelectual com um tipo de ordem em que, até nas questões que um indivíduo considera fundamentais, os demais têm o direito de buscar objetivos diferentes.

É por esse motivo que para o liberal os ideais morais, bem como os ideais religiosos, não podem ser objeto de coerção, enquanto conservadores e socialistas não reconhecem esses limites. Às vezes, penso que o atributo mais marcante do liberalismo, que o distingue tanto do conservadorismo, quanto do socialismo, é a idéia de que convicções morais quanto a questões de conduta que não interferem diretamente com a esfera individual protegida pela lei não justificam a coerção dos demais. Isso também pode explicar por que parece muito mais fácil para o socialista arrependido encontrar um novo lar espiritual entre os conservadores do que entre os liberais."

Anônimo disse...

Bem, só um cuidado Fabiano, que não sei porque me chamou atenção. Monteiro Lobato, ele apoiava um regime de democracia autoritária, ele é o grande mecenas do Oliveira Vianna (que até sobre a necessidade do arianismo tinah idéias...). Nada que acrescente muito...hehe

enfim, o mundo Collorido continua aí, a democracia brasileira vive numa corda bamba, é spo ver o atual caso do Maranhão da Familia Sarney x Lago. É o coronelismo utilizando a democracia para legitimar a infração do "outro". Como se a única maneira possível de tirar a familia do poder não fosse justamente utilizando as mesmas armas que ela usa. So´que nesse momento, a dona Roseanna grita na imprensa, "ele comprou votos"...sim, e ela vira o bastião da moral e da democracia.

Esse caso do Maranhão para mim é muito ilustrativo para discutir esse Brasil coronelista, parece que todas as contradições estiverem presentes nesse caso da retomada da Roseanna.
abraços

cíntia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
cíntia disse...

Meu amigo,
em um análise menos crítica,explicitando o Estado como órgão secundário,porém enfático ao reconhecimento da sociedade atual,diria que apenas através do conhecimento (e não me refiro do saber alienado)teríamos a prática da democracia real e não esta ridicularização do exercício de poder conferido aos "nossos escolhidos",sejam estes socialistas,ou não.
E,as considerações a cerca da compreesão de amor,ah sim...intrinsicamente benigno e, tão somente incondicional.Pode ser visto por um menos observador e sentido entre as palavras balbuciadas despropositais..ignorado,mal intrerpretado,desapercebido,todavia insigne em sua existência.