domingo, 25 de maio de 2008

O processo civilizatório da família Marinho



Volta e meia é só assistir à telinha que não é diferente: A Rede Globo escolhe um vilão de plantão e desvia todas as atenções para ele. Como não poderia deixar de ser, nas semanas seguintes, um número inigualável de matérias, denúncias e editoriais em sues telejornais vai ao ar. Isso faz com que qualquer inimigo oficial ou semi-oficial da Globo, se torne paralelamente inimigo do país inteiro e dos valores conservadores e direitistas que a Globo tanto propaga. Qualquer um de nós que estiver contra os interesses dessa política e dos (dês)valores que ela carrega, é inimigo ideológico da paranóia global.
As vítimas usuais são os índios que afrontaram o engenheiro da Eletrobrás na terça feira, dia 20 de maio. Desde lá, os indígenas, que estão contra os interesses econômicos que situam sobre sua área uma nova hidrelétrica, tem sido massacrados constantemente na tele-dramaturgia jornalística dos Marinho: Numa hora são tratados como reincidentes, criminosos que estão a solta como símbolo da impunidade do sistema judiciário; noutra, são inimigos do progresso, adventistas da causa sectária de se colocar contra o avanço econômico. Mais a frente, a Globo tenta provar de tudo, inclusive de serem índios ingênuos, comprados por espelhos e pentes e comandados por “padres comunistas”, ligados as pastorais indígena e da terra.
A Globo é irresponsável e inconseqüente com a vida desses indígenas: Sua missão de “Nova conversão” pode desencadear uma reação contra estes índios, inclusive contra os que, numa medida corajosa do Governo Federal, receberam de volta, terras da União. Como os ânimos andam ensandecidos diante das disputas de terra entre brancos e índios, temos a frente uma possibilidade real de massacre, desta vez, legalizada pela mídia e implícita na mensagem “legalista” da Rede Globo. Os índios “agressores” e “impunes” não tem qualquer chance, munidos de facões, flechas e coragem, contra os fuzis dos jagunços ou da Polícia federal. Não são capazes de reagir a um ataque armado das hordas reacionárias dos usineiros, latifundiários ou oligarcas. Enquanto escrevo isso, mais um jornal da Globo, é aberto com imagens que apontam a agressão de indígenas contra o funcionário da Eletrobrás (e isso não é uma figura de linguagem, por que a TV está realmente acesa). Até mesmo a população de brancos pobres (criada e cultivada desde a colônia) começa a considerar a possibilidade de estar sendo subtraída pelos indígenas. A Rede Globo, portanto, patrocina uma inversão de valores, mais do que infla a luta de classes com forte teor racista e preconceituoso.
É fundamental considerar que estes indígenas estão há 20 anos com uma real ameaça “hidrelétrica” em seu território. Ainda que o Governo federal esteja aberto ao dialogo, sua postura é guiada pelas necessidades econômicas e energéticas. Já os indígenas estão cansados do debate e da dialética. São massacrados desde a invasão portuguesa e casualmente sobrevivendo, passavam a ser escravos dos colonos e novos cristãos que aqui aportavam. Num momento que a América Latina reage ao Imperialismo norte-americano e seus valores decorrentes, estes índios passam a lutar nos valores dos brancos, também, contra a exploração econômica. Estes indígenas não são consumidores em demasia de energia, nem mesmo consumidores casuais de bens industrializados, portanto não reconhecem a necessidade de uma nova hidrelétrica. Precisamos parar de empurrar valores brancos aos indígenas. Respeitar sua cultura é antes de tudo, não transferir responsabilidades.

Fabiano da Costa. 23/5/2008

6 comentários:

Rosali Alves - Desenhista disse...
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Rosali Alves - Desenhista disse...
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Mateus disse...

A mídia faz o que deve fazer, agora se seu discurso é impregnado de determinadas ideologias, aí a história é outra. Ora, assim como a Globo cansou de mostrar as imagens dos índios atacando o engenheiro, essa mesma emissora não deixou de divulgar a notícia daquele índio que foi atacado por jovens de classe média em Brasília - não lembro direito quando foi isso, minha memória não é muito melhor do que a da maioria dos brasileiros. Seria de se estranhar se essas coisas não fossem noticiadas!

Neutralidade nunca vai haver, discursos impregnados que visam defender os interesses de um grupo nunca vão deixar de existir, isso é fato, tanto aqui na pátria de chuteiras quanto na Venezuela que o Chávez tenta reinventar ou na ilha dos Fidel.

Compra e aceita a informação quem quiser, ou não vivemos em um regime democrático? Além de democrático vivemos sob um Estado de Direito, mais ou menos eficiente, no qual todos estão inseridos. Ora vejamos, os índios não estão inseridos em um território nacional? Não deveriam ter os mesmos direitos e deveres de qualquer outro brasileiro? Se eu for lá e bater em um índio, provavelmente vou ser preso, o contrário já estou colocando em questão! Vendo esse tipo de coisa é que concluo que a fantasia de Huxley não está tão distante assim da nossa realidade...

Rosali Alves - Desenhista disse...
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Mateus disse...

Por que os outros comentários foram excluídos? Nem cheguei a vê-los!

Anônimo disse...

Mateus, os comentarios foram removidos pelo proprio autor dos mesmos, sem motivo aparente. Um ato de extremo desrespeito aos demais participantes, mas compreensivel. Continue postando. Um abraco.