segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

As coisas como elas são (ou nunca deveriam ter sido).

As vezes eu penso em dedicar uma música para cada pessoa em especial. Amigos, grandes amores, pessoas que me chamam a atenção, pessoas que tenho uma grande saudade. Na maioria das vezes, não dedico nada a ninguém, mas em outras, guardo comigo aquelas cantaroladas básicas para me lembrar de como foram bons os tempos passados. E não falo nada sobre isso para a pessoa. É uma boa maneira de fingir estar sendo vazio por todo o tempo.
Eu fui estudar Arte por que não vi outro caminho na minha vida. Ou eu fazia Artes, ou fazia História. Acabei indo cursar os dois, por que sem um dos dois, me sentiria frustrado (não que fazer os dois não me permita sentir frustração). Quando desenho ou pinto, penso em História, mas se estou lendo sobre História, preciso de uma pausa para um café e um bloco de desenhos (quem me conhece, sabe que isso é um vício que tenho). Não sou político, por que penso como artista todo o tempo. E como artista, eu deveria pensar menos sobre ciência, mas isso é uma incongruência minha. “Não exijam coerência de mim, pois sou um artista” dizia o Glauber Rocha.
Quando estou na política, não sou político. Ecoa-me o pensamento do Weber (sim, um liberal!), que dizia que o cientista procura a verdade, enquanto o político não está preocupado com isso. O político ultrapassa limites, não está preocupado com nada que não seja a perpetuação de seu pensamento sobra a facção inimiga. Talvez por isso, liberais e marxistas, como um todo, tenham perdido o rumo. Os liberais na defesa da democracia e dos valores individuais, os Marxistas, na intransigente defesa da vida e dos direitos dos oprimidos. Como Esquerdista, ainda acho que Marx é fundamental para entender o mundo, mas não posso negar que Weber conseguiu expressar bem o sentido da política como a conhecemos. Infelizmente.
Não acredito em verdade absoluta. Verdade inquestionável não existe. Essa fórmula é uma luva para a mão do totalitarismo, da burocracia e do corporativismo. Pode existir verdade de acordo com o acontecimento dos fatos, mas ela não pode ser inquestionável. Pessoas que não podem ser questionadas, são em sua maioria, protótipos de grandes ditadores. A diferença entre o Primeiro e o segundo grupo é justamente, a falta de uma máquina de guerra e do aparelho de um Estado opressor. A função do Estado é zelar por todos, dar a melhor educação, a melhor saúde, as condições básicas de vida, e depois, desaparecer. Esse conceito anarquista, e também marxista, é muito belo. Há espaço para todos. O problema reside em aceitar a diferença. Só somos iguais quando aceitamos a diferença de cada indivíduo, por mais que isso seja difícil.
É bom assinar tudo o que se escreve. Por dever e por direito. Só assumindo um pensamento passamos a ter identidade. Não sei bem como, podemos garantir identidade dentro de um espaço onde a mídia nos forma e deforma constantemente. Mas se há algo que possa ser uma premissa de liberdade é a livre expressão da idéia. A maioria das pessoas que fala sobre isso, infelizmente, não sabe o que é liberdade. Está nos chavões, nas mesmas e repetidas frases. Ou descamba para a libertinagem, que é o abuso e a destruição da própria liberdade. Durante muitos anos eu pensei sobre os limites da liberdade e tentei teorizar essa sensação, até que me foi Engels, ao dizer que a liberdade precisa ser entendida, pensada, teorizada como um todo, para ser vivida em sua plenitude, que teorizou cientificamente o que eu pensava. È mais ou menos isso. Ou isso. Nenhuma palavra, pode por fim, refletir a liberdade. Ela é ampla.
Não me importo com o que achem, mas deus existe. Talvez eu não possa o ver, mas possa senti-lo as vezes. É uma descoberta recente na minha vida, mas que aumentou a minha curiosidade cientifica, já que isso foge à ciência, e a ciência precisa se ampliar para entender o todo. Não me importo que uma pessoa ache isso uma mentira. Quando falei às pessoas que tinha visto um disco voador, estava bem consciente do que elas iam dizer. Um disco voador, a bem da verdade, é bem mais cientifico que a existência de deus, mas vale o exemplo. Ser um ufologista (sim, não um ufólogo, muito menos um ufólatra), não interfere na minha concepção marxista, na minha visão artística das coisas, nem mesmo na minha audição dos LPs do Alceu Valença (usando uma camiseta do Metallica).
As pessoas deveriam ter o direito de ter 5 vidas por semana. Seria mais justo, já que o tempo é interminável, sempre existiu e sempre vai existir, e a gente só tem, quando muito, 80 anos de vida (com muita sorte, é claro). A qualidade daria sentido à vida, já que quantitativamente ela é deficitária. Eu poderia optar por diversas coisas, ou por uma somente, quando estivesse cansado. Mas também poderia optar por começar tudo de novo quando me achasse perdido. Eu seria escritor, artista plástico, historiador, radialista, advogado, guerrilheiro comunista e barbudo, dono de um bar, morador de uma papelaria, freqüentador dos melhores cafés, e sei lá mais o que. E também, mesmo detestando a Igreja Católica, um daqueles “padres comunistas” (como diz o Lídio), com barba, cabelo comprido e metido nas lutas contra os latifundiários. Mas isso por um dia. O resto do tempo, eu ia querer ser outras coisas. E mesmo assim, na hora de morrer, meu lado artista ia dizer que faltou coisa. “Poderia ter feito mais”. Uma das cenas mais tristes que já vi, é a de Dalli (um gênio da pintura), em 1989, antes da morte, lamentando o fim de tudo, e com um tubo de soro no nariz dizendo que o mundo precisava dos gênios. É triste ver que algo está acabando. Talvez a gente só perceba quando está na 2ª metade, ou seja, a final. Antes disso, tudo é inicio e a gente se dá o direito de perder todo o tempo que acha que tem.

Fabiano, 24 de dezembro de 2008.

3 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Como perguntasses...
não, não és o único que vive nesses devaneios e o tempo importa, sim. Às vezes é falta dele, outras é não saber o quê exatamente fazer com ele.
Várias "vidas" ou possibilidades seria a única forma de saber se estamos perdendo o tempo que temos ou se estamos extraindo suas múltiplas formas de aproveitamento.
Deveríamos ter 5 vidas por semana, sim (ou nenhuma quando necessário), mas quando falei isso fui chamada de relapsa por não me concentrar em uma única coisa...nem História, nem Literatura...
mas porquê diabos devemos ficar presos, concentrados em apenas uma coisa, se podemos ser donos de bares, comunistas, moradores de papelarias, frequentadores de cafés?

Anônimo disse...

A vida não é como queremos. O ser humano nunca está contente com o que tem, por mais que tenha tudo que pediu a Deus. Mesmo que existissem cinco vidas por semana a maioria de nós estaria insatisfeita, pq o ser humano é assim, sempre quer mais (pelo menos a maioria). Acredito que uma vida já seja mais que suficiente pq nela já passam tantos dramas, tantos amores, tantas crises de identidade. Hoje a vida nos possibilita tomarmos vários rumos, não precisamos ficar presos a uma única profissão, a um único destino. Mas, às vezes, realmente o tempo é pequeno pra tantas coisas que queremos ver, ler, sentir que um dia é pouco pra certos momentos.

P.S.: Bom saber que acreditas em Deus.