sábado, 9 de fevereiro de 2008

Democracia censitária, mídia e eleições: Soda Pop americana

Democracia censitária, mídia e eleições: Soda Pop americana

Com a aproximação das eleições nos EUA, era inevitável que a mídia estadunidense não calcasse muitos de seus comentários, prognósticos e previsões políticas, os relacionando a crise energética mundial, ao aquecimento global e, principalmente, a manutenção das atividades militares no Afeganistão e no Iraque. Como era de se esperar, a grande preocupação é com a recessão econômica e com a obtenção de novas fontes energéticas, a fim de que os EUA não afundem numa crise econômica parecida com a de 1929. Pode-se sugestionar que esta previsão é por demais catastrófica, mas 8 em 10 economistas apontam que esta é a primeira grande crise “do fim deste capitalismo” (ou seja, o sistema vigente prosseguirá, mas com alterações significativas).
Podemos afirmar que os EUA enfrentam um problema circunstancial, derivado da intensificação econômica dos anos 90. Com o advento do consumo, da polarização econômica e das políticas neo-liberais, que fizeram expandir a circulação de dólares e dos investimentos norte-americanos, europeus e japoneses pelo mundo, os EUA passaram a produzir mais, consumir mais e necessitar aumentar quantitativamente seus mercados consumidores, a fim de sustentar seu crescimento. Já na década passada, muitos economistas, críticos políticos e ambientalistas apontavam para o que estamos vivendo: As fontes energéticas estão em pleno desgaste (principalmente as de combustível fóssil), a água começa a faltar em diversos continentes e as políticas neo-liberais entregaram economias sensíveis ao julgamento de empresas do “primeiro mundo”. Afirma-se agora, que para mantermos o atual capitalismo, o nível de consumo necessitará aumentar em oito vezes até 2020. Como sabemos, não temos mais fontes energéticas para sustentar esse crescimento.
Diante de tantos infortúnios, Bush filho já acenou com pequenas mudanças: Implementará o uso de Biocombústiveis, retirará até o fim desse ano 20.000 soldados do Iraque e já autorizou que os EUA cumpram parte de um tratado mundial de redução de gases nocivos a atmosfera. Esses “avanços” são tímidos, mas já mostram que os EUA tem sentido uma pressão bastante forte, em principal da União Européia e precisam concentrar esforços para não perder mercados. Além disso, a China, principal adversária no mercado mundial (e militarmente, a única força a lhe fazer frente) tem evoluído economicamente e se desgastado politicamente pelo uso de termelétricas na geração de 70% de sua energia. Isso fez com que a União européia e até o (antigo) grupo dos “Países não alinhados” suscitassem críticas virulentas a Pequim. Os EUA, em contrapartida abandonaram a arrogância de Kyoto, em 95, quando não assinaram um tratado de não proliferação de gases poluentes (discutido desde a ECO 92, no Rio) e aceitaram os termos dispostos. Não é preciso dizer que sua imagem internacional, desgastada em demasia pela gestão Will Bush, foi sensivelmente maquiada.
Os presidenciáveis a Casa Branca fizeram o mesmo: Colocaram a questão ambiental na agenda diária e passaram a desenvolver pré-projetos de incentivo e implementação aos bio-combústiveis. O que surgiu como uma ótima alternativa já suscita críticas: Diferente do Brasil, donde ele é retirado de plantas não-comestíveis (a mamona, por exemplo) e a utilização do álcool é usual há quase 30 anos, nos EUA o biocombustivel é derivado do milho. Para tal, o país tem dado incentivos e subsídios a quem o plantar para veste uso, o que prejudica os produtores que visam o mercado interno da alimentação (o milho é freqüente na mesa dos americanos) e a exportação do grão. Alguns países do Terceiro Mundo, tem visto no biocombústivel uma forma de erguer suas economias e no futuro, alçar a posição que hoje é dos países da OPEP (Produtores de Petróleo e manos interessados em combustíveis não-fósseis). El Salvador, é um deles, mas ainda preocupa o quanto isso afetará o abastecimento de comida, principalmente nos mercados internos. Para piorar, muitas multinacionais têm plantado os biocombustiveis na África. O que inicialmente daria empregos e renda, gerou mono-cultura e um decréscimo nas lavouras que visavam o mercado da alimentação. Isso tem gerado indignação de ambientalistas europeus e americanos, apesar de parecer (mais uma vez) um caminho sem volta. Em sua defesa, as empresas alegam que a tônica destes empreendimentos é gerar emprego, renda, empregar lavouras em territórios mais amplos e alçar uma política de combustíveis menos poluentes e renováveis. Acredite quem quiser.
Enquanto isso, John McCaine, pelos Republicanos (conservadores) e Hillary Clinton e Barack Obama, pelos democratas (liberais), passaram a usar a retórica ambientalista em seus discursos. Ao mesmo tempo que a campanha de 2008 já bateu recordes de doação e investimento, boa parte das mesmas, oriunda da indústria petrolífera, se aumenta o tom ambientalista lançado por Al Gore (que, enquanto foi vice de Clinton, nada implementou e “engoliu” a posição americana diante do Protocolo de Kyoto). O quanto isso será verdadeiro é uma segunda preocupação. A primeira de fato, é quando essas políticas estarão em prática. McCaine é tido como “um liberal” dentro da ala mais conservadora dos Republicanos, mas não destoa da visão de Bush, de que os danos do aquecimento global, anunciados pela ONU em fevereiro de 2007, são mais alarmistas que verdade. Já Hillary e Obama tem políticas para as minorias, mas para isso, precisam gerar empregos. Então, vão ter de aquecer a economia, e os EUA, não tem um plano econômico na utilização de combustíveis menos poluentes, pelo menos a pequeno prazo.
Diante dessa crise, a China continua a crescer (bem) acima da média mundial, se utilizando de termelétricas. A União Européia e os próprios EUA, passaram a fazer severas críticas ao sustento da economia chinesa. Em resposta, o Governo de Pequim tem construído hidrelétricas e passou a se interessar pelo biocombustivel, mas o uso do carvão mineral ainda pode perdurar por décadas. Calcada numa mão-de-obra barata e disciplinada, a China tem oferecido boas condições para que as multinacionais por lá se instalem. Isso também faz com que haja uma pequena fuga de capitais, antes ondulantes entre os EUA e o Japão, e que agora, se aproveitam das facilidades encontradas por lá, ou na Índia. E como já se afirmou, não há uma política de crescimento sustentável nesses países.
A situação é bastante complexa. Nesse ano, as eleições norte-americanas darão o tom da política adotada nos próximos anos. Para a economia dos EUA, jogada numa recessão grave, catapultada pelos gastos militares de George Will Bush (o “maníaco”), a saída tem ser rápida e eficiente, dando resultados ainda em 2008. Para os ambientalistas, essa é uma mostra de que o diálogo pode estar se encerrando e começando a “era do pragmatismo” da política estadunidense. Os otimistas são tímidos. Não arriscam palpites. Para os pessimistas, mais assustados, o relatório da ONU acerca dos danos ao meio-ambiente, corre o risco de estar desatualizado e sendo substituído por um agrupamento de crimes ambientais, piores e irreversíveis, e que nem mesmo o Superman, sinônimo da eficiência ocidental americana poderá atenuar.
Fabiano da Costa – 7/2/2008.

2 comentários:

Rosali Alves - Desenhista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Mais uma vez, a preservação ambiental, "politícas para minorias" e geração de emprego e renda...
Um discurso mais do que saturado (e demagogo!), mas que continua a render muitos votos.
A saída não tem sido o "melhor", e sim o "menos pior". E isso mostra em qual situação está a política, ou melhor, os políticos. Descrédito absoluto!

Excelente a idéia desse blog, Fabiano!
Imagino o que vem por aí...