
Evo Morales é o Aimará do futuro. E Isso quem diz, assustada, é a força reacionária de Veja, Câmbio e Rede Globo. Quem sou eu para desdizer essa crítica? Morales é a representação do fim da paciência, do esgotamento do debate em uma época onde o discurso protelou acordos de fome e miséria. Por isso, diferente dos Aimarás pacíficos, massacrados, e por fim, esquecidos, ele é um retrato do futuro, reflexo direto do passado. Não importa o que diga Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Olavo de carvalho. Evo Morales não é a personificação do passado, do Estado total e presente, mas sim um Aimará do futuro. Se a direita queria modernizar o Estado, transformando os escravos em servos comportados que vivem em uma suposta cidadania, conseguiu criar o Aimará do futuro.
Em 1531, os espanhóis chegaram ao altiplano peruano. O processo decorrente disso, junto ao massacre do México (1519), é chamado sugestivamente por alguns pesquisadores de “holocausto indígena”. Na cultura Asteca, por exemplo, a chegada dos espanhóis foi encarada pelos sacerdotes, como a representação do fim dos tempos. O que em bom dialeto cristão, significa “armagedom”. Num processo que durou poucos anos, milhares de indígenas tombaram em nome da cristandade. No altiplano, foram divididos entre as minas e a prestação de serviço nas fazendas que supriam o mercado consumidor local (junto as haciendas dos espanhóis). Em pouco tempo, passou a valer o que diz Enrique Dussel: Após o massacre dos seres humanos, houve um massacre de sua cultura. No México, Sergei Kruzinsky aponta para o apagamento da Arte Asteca: As formas dos deuses, a estética dos seus mitos foi sendo substituída por uma estética européia, branca, “cristã e civilizada” (como diria Hegel). Os espanhóis deixaram na Bolívia, uma representação de Estado que não existia, pois era o entreposto da metrópole, com os índios carregando os navios e vivendo cabisbaixos aos patrões europeus. Até hoje, a Bolívia fornece gás e cobre, depois de ter sua prata e ouro saqueados em Potosi. Não seria estranho enxergar uma caravela espanhola carregando no Prata, os minérios bolivianos até hoje. É o salgado contraste entre o passado, ainda presente na miséria, e o nascimento do Aimará do futuro.
Evo, que causa urticária em Reinaldo Azevedo, é uma extensão disso: plantador de coca nas altitudes bolivianas, conhece de perto o processo neoliberal local. Por isso, identificou na política estadunidense algumas semelhanças da invasão européia. Desfez então, os acordos firmados com as empresas européias e americanas. Fechou as refinarias da Petrobrás, o que fez com que a oposição exigisse de Lula, represarias imediatas, na economia ou na bala, para que Evo voltasse atrás. Em setembro de 2008, Veja declarou: “Evo fragmentou a Bolívia”. Que Bolívia? O país está dividido em 36 nações indígenas, as mesmas que Veja declarava ser um absurdo, ganharem autonomia política. Morales, nosso Aimará do Futuro é, uma ramificação das “veias abertas da América Latina” de Galeano, ou dos homens que agem “por medo da fome” de Ariano Suassuna. As Classes média e alta bolivianas, que nunca absorveram indígenas, acusam Morales de “cubanizar” o país. E que mal há nisso? O país não teria o menor PIB e nem os piores índices de desenvolvimento econômico e social do continente. Não a toa, Azevedo (em11/9/08) e Mainardi em outros artigos se mostraram assustados com Evo. Ele representa o basta da miséria, numa insurgência natural contra os senhores de terra bolivianos. Enquanto isso, o sonho nostálgico dos safados de Veja, de Cambio e da Globo é o inferno neoliberal , mas que graças a deus, não volta mais.
Fabiano da Costa, 15 de junho de 09.