quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

50 anos da tomada de poder em Cuba: Mito e História imutáveis.



Neste mês de janeiro, comemoram-se os 50 anos da tomada de poder pelos revolucionários em Cuba, o que como fato histórico, passaria a influenciar daí toda a cadeia política da América latina. Desde a posse do Movimento 26 de julho como órgão gestor no governo cubano, pode-se afirmar com certeza científica que a vida de milhões de pessoas foi modificada e para melhor. Não são apenas o enorme carisma de Fidel (o “Fido” como é carinhosamente chamado) ou as medidas sócio-protecionistas sobre a população, mas todo um emaranho de questões políticas e filosóficas.
Como já se sabe, a vitória do Movimento 26 de Julho (M 26-7) não foi somente por seus méritos. O ditador Fulgêncio Batista vinha nutrindo a antipatia generalizada dos liberais do Partido Ortodoxo, dos Comunistas, do Governo americano e da população cubana, oprimida e constantemente sabedora de enormes escândalos de corrupção. Podemos afirmar com certeza, que a queda do mesmo em 31 de dezembro de 1958, foi fruto de um somatório de descontentamentos. Os EUA apesar de terem amplo domínio político sobre Cuba e a usarem como estratégica base naval, estavam insatisfeitos com o desperdício de seus investimentos econômicos; Os liberais e os comunistas reclamavam maior abertura política; Já o povo, desejava não somente um pouco de democracia e crescimento econômico, mas maiores investimentos nas áreas de saúde e educação, parcamente oferecidas pelo governo cubano. O quadro era inevitável: Batista cairia em alguma ou outra hora.

Depois de golpes fracassados pela própria direita e pela ala jovem do Partido Ortodoxo (ao qual Fidel era ligado), em 1959, o M 26-7 desceu Sierra Maestra e tomou Havana. Saudados pelos populares, o governo revolucionário empossou o jurista liberal Alfredo Dórticos como presidente e deu a Fidel Castro o cargo de Primeiro-Ministro. No mesmo ano inicia uma reforma agrária, no qual (para quem ainda não sabe) a primeira extensão de terra a ser dividida era a fazenda da família de Fidel Castro. Dentro do próprio governo revolucionário, duas vertentes passam a se delinear: De um lado, os comunistas, capitaneados por Ernesto Che Guevara e por Raul Castro; Por outro, uma ala liberal, representada por Huber Mattos e que chegou a contar com Fidel anos antes. O primeiro grupo ganhou respaldo por dois pontos: O primeiro, por apresentar uma proposta efetiva de distribuição de renda, bastante diferente do modelo anterior, dependente da economia estadunidense; o segundo, por ser respaldado justamente pela oposição sistemática de Washington, que como se sabe, sustentou a carnificina de Batista. Em 1961, após a invasão fracassada dos EUA na Baía dos Porcos, o caminho estava traçado e Cuba se definiu como uma República socialista. Como pode se ver, o M 26-7 era um movimento liberal e democrático, mas não comunista como era a acusação do governo de Washington. O governo revolucionário logo enfrentou duas provas de fogo: Na Primeira, um maquiavélico plano da Igreja Católica que seqüestrou milhares de crianças e as levou para os EUA, com medo que no futuro os jovens fossem dominados pelo “Comunismo” – neste grupo estava Ana Mendieta, que no futuro voltaria à ilha como consagrada artista plástica; Na segunda, uma seqüência de atentados terroristas que vitimaram centenas de pessoas, todos eles organizados e cometidos pela CIA (E desses terroristas ninguém fala???).
Ainda que Cuba tenha cometido muitos equívocos em sua etapa de “descolonização”, é importante frisar que Fidel Castro, Guevara e o grupo de Camilo Cienfuegos realizaram reformas pedidas pela própria população cubana: Ensaiou uma reforma urbana, onde houve a abolição de aluguéis dando a casa a quem morava nela e sua escritura ao Estado Cubano; Retirou os bens da Igreja católica e constituiu um Estado laico, com liberdade de culto, dando assim maior respaldo ao sincretismo da Santeria; Puniu todos os envolvidos em crimes de cárcere, tortura e violência sexual no antigo regime, dando poder de justiça a tribunais populares, inclusive com as vítimas de Fulgêncio Batista; Organizou uma extensa reforma agrária, dando a posse da terra aos camponeses e dividindo os latifúndios em lotes; Expropriou todas as empresas norte-americanas, nacionalizando seus bens e reorganizando os postos de trabalho com melhores salários e jornada reduzida; Pois bem, ninguém pode acusar Cuba de não ter correspondido aos interesses de seu povo.
Há quem diga que o maior erro de Cuba foi ter se tornado um satélite caribenho da União soviética, mas isso deu sobrevivência e quem sabe, um charme maior à ilha. Permitiu a industrialização rápida de um país agrário, vendendo o açúcar acima dos preços do mercado internacional e trocando sua produção agrícola por petróleo. A união Soviética (a despeito de seus equívocos, crimes e contradições) obteve a segurança de que Cuba também não seria atacada pelos EUA em plena Guerra fria. Assim, Havana partiu para exportar sua Revolução: Chegou ao Continente africano, onde, para quem não sabe, financiou movimentos contra o Apartheid. Os movimentos de guerrilha latinos, organizados durante as piores ditaduras financiadas por Washington, recebiam armas e treinamento em Havana. E para quem não gosta de política, três expressivas leis firmadas em Cuba e apoiadas por Fidel: Uma, proibindo crimes contra animais e não permitindo touradas, colocando essa demonstração como um ato de “barbárie”; Outra, a de que, mesmo em tempos difíceis de embargo econômico, todas as crianças e idosos tenham direito a um litro de leite gratuito por dia; O reconhecimento ao oficio de artista, que é financiado pelo Estado e trabalha uma carga horária como artesão na produção de bens culturais ao país. Não, não é o paraíso: É Cuba!
Evidentemente, qualquer pessoa equilibrada deve fazer um julgamento imparcial: Cuba cometeu erros. E não foram poucos: Criou uma dependência imensa no campo econômico, o que lhe faz perder o chão com o fim da URSS em 1991. Confundiu segurança nacional com a supressão da oposição, o que fez com que Huber Mattos ficasse trancafiado por tanto tempo. Não deu abertura às críticas dentro do próprio PC Cubano, o que de fato engessou a política na figura única de Fidel Castro. Mas se enxergarmos os acertos (confirmados por minhas inúmeras leituras acerca de Cuba e por várias pessoas que me fizeram estes relatos após voltarem de lá), como a garantia da alimentação frente ao embargo econômico, e a obtenção dos melhores indicies mundiais na saúde e na educação, não deixamos de simpatizar, admirar e até mesmo amar Cuba. E como dir-se-ia, diante de tudo isso, “revogam-se todas as disposições em contrário”.

Um comentário:

Unknown disse...

Che é um mito.
Fidel é Fidel.
Viva Cuba revolucionária!!!