quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O Estado de mendicância

A recente declaração da tenista Sharar Peer, na terça passada, dia 6 de janeiro, de que nada teria a ver com o conflito em Gaza, onde desde o dia 27 de dezembro, as Forças de Defesa (?) de Israel exercem um massacre sobre o povo palestino, gerou certa indignação pelo mundo afora. Na posição de figura pública e exemplo de um esporte onde o Fairplay é parte integrante de sua tradição, Peer deixou ecoar aquilo que é usual entre as “pessoas comuns”, mas proibido para quem tem os holofotes acima da cabeça. Tentando se retratar, Sharar Peer conseguiu piorar sua declaração, dizendo que este conflito lhe tem preocupado realmente, tendo sido seu irmão convocado as pressas para reforçar as tropas de infantaria israelenses.
A tenista afinal de contas é uma pessoa comum: Quando diz ter orgulho de Israel, cai na perigosa armadilha que adverte Oscar Wilde, onde “o patriotismo é a virtude dos fracos”, já que cega e nos joga para o nacionalismo exarcebado (patriotismo e nacionalismo são diferentes, é claro). Considera ela, que jogar tênis nada tem a ver com política. Podemos colocá-la como uma perfeita alienada diante do conceito Marxista, pois não tem noção do valor que gera seu trabalho. Sharar Peer é uma pessoa comum: Viciada em sí mesma, não consegue ver tanta tragédia quanto nós, mesmo estando somente à 30 quilômetros dos conflitos. Segundo ela mesma, a Guerra começou com a convocação de seu irmão. Antes disso, as centenas de pessoas mortas na Faixa de Gaza não existiam. Sharar é a própria pobreza de espírito, ou a mendicância da alma.
Criticar a posição de Sharar Peer, é também questionar o senso comum numa ótica Gramsciniana. Como pode alguém estar tão atada ao senso comum que deixa de escutar as bombas? Talvez ela pense como Olavo de Carvalho, Arnaldo Jabor e Diogo Mainardi: O mundo começa quando a gota cai no seu umbigo. Ou talvez ela nem saiba que tem umbigo. Sharar talvez nem saiba que existe a direita. Ela é, afinal de contas, a própria direita. Até mesmo por que a direita não tem ideologia, é formada pela ausência da mesma. Peer não figura. Ela não existe, não pensa, e age de forma a ser um cão adestrado. Quando alega não aceitar o boicote no quais alguns esportistas israelenses aderiram, não representando seu país no exterior, ela é sincera, verdadeira, tomada pelos impulsos da camada no qual faz parte. Se analisarmos a Palestina, fica claro que os conceitos marxistas superam não só a luta de classes como a entendemos, mas sim a própria identidade de povos distintos. Na Palestina as classes média e alta são formadas predominantemente por judeus, sendo o proletariado, com maior nível de analfabetismo, os árabes e os judeus árabes. Portanto, a miséria é tão direcionada quanto a centralização de renda.
Enquanto alguns defensores da democracia e da liberdade berram seus preconceitos mais arraigados, promovendo uma ridícula caça as bruxas e aos comunistas (Afinal, a ameaça de uma intentona como a de 35 está sempre presente), promovendo uma campanha de ódio infantil aos grupos de Esquerda (que agora são todos, terroristas como ordena a cartilha estadunidense), deveriam ter coragem para criticar a ação de Israel, dar nomes aos assassinos e defender os grupos civis da ação terrorista daquele país. Isso seria muito mais nobre do que calar diante disso tudo, agindo como Sharar Peer e sendo como Sharar Peer. Como alguém que promove uma caça aos comunistas “terroristas” em pleno 2009 (descabida de qualquer conhecimento histórico e teórico), se acovarda e se cala diante dos crimes de Israel, que ataca escolas da ONU, comboios de ajuda humanitária e alega estar preparado para ações mais violentas do que as que já foram promovidas? A vida é válida para qualquer grupo. Esse sim é o silêncio obsequioso, aquele que deforma o caráter de quem deixou de escrever e de quem não teve a chance de ler mais sobre o que realmente está acontecendo.

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