sábado, 9 de maio de 2009

Luis Mauro Vianna numa feira de livros.

Eu encontrei o Luis Mauro Vianna numa feira de livros. Eu, com muitos livros na cabeça e pouco dinheiro para adquiri-los e o Luis Mauro com aquele sorriso tímido e um monte de saídas geniais nas frases. Aliás, é de autoria do Luis Mauro umas das frases mais dramáticas que já li nessa cidade onde sopra o nordeste e as pessoas enlouquecem de repente: Vou morrer e nem sei teu nome. Toda vez que o encontro, sinto vontade de lamentar algumas coisas, por que ele é um talento desperdiçado. Enquanto a grande mídia nos empurra um monte de lixo cultural, porcarias construídas e disseminadas para controlar e punir nossa cabeça burra, o Luis Mauro insiste em viver de cultura. Merece morrer de fome mesmo.
Provavelmente o Luis Mauro vá ficar no exílio mais um tempo. Não há como voltar. Se voltar, fica como o Everton Cosme ou morre por aí, sem deixar saudades na tela da RBS, como o Poeta pobre. Ou fica num canto qualquer, a imaginar a definição das utopias como o José Paulo Nobre. Não adianta. Aqui, assim que o sol se desentoca, cedinho, seja na Arte ou seja na mídia, a gente aprende que gente não foi feita pra ler, muito menos pra escrever. Gente é feita para ficar quieta, acreditando que o rádio diz a verdade e se não diz, é por que não existe. Eu lamento, Luis.
Nós estávamos por aqui há algum tempo. Foram caravelas a aportar nessa terra e depois os índios foram tombando em efeito dominó. Ninguém sabe o que aconteceu com os índios e ninguém pergunta. Eu me resumo, a saber, sobre o José que por aqui aportou e trouxe os horrores da Coroa. E fiquei quieto atrás das pedras a ver o terror vindo da Europa. Quando aprendi a falar, logo perdi o emprego. É só uma questão de tempo, até a gente sair da pobreza e ser empurrado para a miséria. Toda vez que uma nova caravela aporta, sei que o novo Senhor de Engenho empossado é igual ao anterior. É melhor ficar em silêncio. Em Rio Grande se cochicha.
Um dia, escutando a poesia do Luis Mauro, eu acabei chorando. Não tinha como não chorar, afinal nós somos testemunhas de que os senhores são sempre os mesmos. Podem ser vermelhos, ou podem ter sangue azul, mas são senhores, não adianta. Para eles, só se pode falar tendo conhecimento científico. E se tu tens, é melhor ser mudo. Não há nenhuma verdade que não possa ser construída, mudada, modificada ou manobrada pela bruxa da mídia. As vezes, fico pensando que o ser humano foi feito para ser mudo. Os senhores, são na verdade, itens de segurança para manter a paz. Ou nós tornam mudos, ou nos calam na marra. Se isso não funcionar, cortam as mãos. E se tentarmos fugir, ficamos sem os olhos e sem as pernas. O desemprego é uma maneira de nos humilhar publica e de nos calar automaticamente. Ou mais ou menos isso. Depende dos humores do mercado.
Fabiano da Costa, fevereiro de 2009.

Nenhum comentário: