quarta-feira, 8 de julho de 2009

Arte e funcionalidade na teoria e na prática da obra.

Qualquer arqueólogo dignifica que o montante da Arte romana, é em sua demasia, o restante da Arquitetura. Os romanos também se utilizavam da pintura, mas vale lembrar que os historiadores de Arte reconhecem que o artista era uma profissão inexistente na Roma antiga. Portanto, não tínhamos arte, mas puro artesanato, concebido para enfeitar ou para servir. Não havia significância própria na Arte romana. Nisso, se reconhece em Roma uma característica: A praticidade, a criação para o ato de servir. Por isso, seus edifícios eram diferentes dos gregos. Não havia procura direta pela estética, mas pura procura pelo ato da praticidade. Quis o processo histórico, que a arquitetura de civilizações antigas passasse a ser Arte de imediato. Hoje, nem toda a Arquitetura pode ser reconhecida como tal. Essa arquitetura, a serviço do Estado diz muito sobre a política, a economia, mas tange no desenvolvimento do trabalho do artista e na linha que o separa do artesão.
Arthur Danto diz em “O limite da História e o fim da Arte”, que o artista só nasce no renascentismo. Antes disso, a produção ou é encomenda súbita, ou não há o hábito de assinar a obra. Se procurarmos em Arnold Hauser, será uma identificação básica com o medievo, que fruto de Bizâncio, a Igreja proibia a figura humana e se constrangia a produção de Arte. Assim, não se tinha o hábito de assinar a obra. Na Grécia antiga por sua vez, assim como na Mesopotâmia, já existia um conceito de Arte, mas era relegado aos arquitetos e aos escultores, e mesmo assim, os de maior vulto. Grande parte das esculturas gregas não tem autor, e as que tem, mesmo produzidas em equipe de artesãos, são creditadas a seu autor intelectual, Fídias, protegido de Péricles. Daí, até a renascença, há um lapso de 1700 anos. Não morreu a Arte nesse período, mas é evidente que a alegação de Danto, do artista sendo uma criação da renascença, é mais do que palpável. Com o advento da burguesia e da teoria de beleza, enraizada na modernidade, era natural que surgisse o artista, prova do homem livre, que pensa, executa e assina. Não a toa, quando os “modernos” adentraram a América dos Andinos, sua impressão era de que os “primitivos” adoravam demônios, dado que suas divindades eram o antagonismo da beleza européia moderna.
Evidentemente, algumas contextualizações são necessárias. A primeira, é de que os artistas da renascença eram contratados pela Igreja. Isso, não os isenta da atividade artesã, mas se reconhece que nesse intento, tinham o direito de planejas as obras, ainda que sugestionadas pelo cliente (a Igreja). Segundo, que se reconhece nesse período, um apuro inédito com a profundidade e a perspectiva. Isso, faz com que a Arte tenha suas características alteradas. Um exemplo, é encontrado em Henrich Wölfflin, “Conceitos fundamentais da História da Arte” quando diz que na Arte pré-renascentista do holandês Van Heick há o elemento de uma perspectiva ousada, mas que não disfarça a impressão de uma profundidade no território, já que a linha do horizonte é mais baixa que nos países do centro europeu. Essa característica, notada somente por teóricos mais apurados, é fundamental para entender esse processo na criação da Arte renascentista. Além do mais, vários de seus representantes eram humanistas, o que os fazia incutir na obra, suas indagações, exemplo de Albrecht Dührer, que procurava na beleza humana, um sentido para a existência e a verdade dos fatos.
Dizer que o artesão é um artista é desvalorizar o próprio campo desse debate. O artesão é fundamental para o desenvolvimento da Arte, mas não é um artista. Não se desconhece aqui, a importância do desenvolvimento da atividade manual. O que se dá, é uma conceituação diferente e ímpar ao ideólogo da obra, não por um mérito apenas intelectual, mas por sua busca na química das cores e nos estudos mais avançados da própria perspectiva (no que tange a pintura). Exemplo disso esta em “La idea como Arte” de Gregory Battcock. No artigo “Monumentos para nenhum lugar ou para qualquer lugar”, Dore Ashton cita o artista pop Klaus Oldenburg e sua concepção de escultura moderna para o porto de Nova York: Klaus propôs em teoria, que fosse criado um banco de areia ou similar para que os navios que ali passassem, fossem ficando encalhados. Com o tempo, haveria uma pilha de sucata, envelhecida e que comporia um cenário atípico com a modernidade da cidade e do porto. Quem pode dizer então, que Klaus na seria o artista? A sua idéia seria a composição da obra, a construção do monumento, mas a edificação seria dividida entre a construção dos objetos (navios) e o processo tempo-espaço. Fica claro, aqui, que artista e artesão são distintos, ainda que manualmente possam estabelecer relações similares. Mas isso, é uma outra história, e bem explicada pela Escola Bauhaus.

Fabiano da Costa, 20 de junho de 2009.

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